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Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Na ONU, Cuba defende a Rússia, fala em hipocrisia e 'padrão duplo' da Otan

Do UOL, no Rio e em Brasília

01/03/2022 14h42Atualizada em 01/03/2022 17h07

Um dos poucos países aliados de Vladimir Putin neste momento, Cuba condenou hoje na ONU as sanções aplicadas à Rússia e acusou a Otan de agir com "hipocrisia" na condução da guerra com a Ucrânia.

A guerra entre Rússia e Ucrânia chega ao sexto dia e não há uma solução à vista, até o momento.

Em discurso na sessão extraordinária da Assembleia-Geral, o embaixador cubano na ONU (Organização das Nações Unidas), Pedro Luis Pedroso Cuesta, disse que os Estados Unidos —que mantém um embargo a Cuba há décadas— conduziu ações militares em diversos países nas últimas décadas, e que a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) participou da Guerra do Kosovo, quando os países integrantes da aliança militar atacaram a antiga Iugoslávia.

"Cuba rejeita essa hipocrisia e esse duplo padrão na postura da Otan. Em 1999, houve uma agressão à Iugoslávia e os países da Europa não evitaram a grande perda de vidas por razões geopolíticas. Os Estados Unidos usaram a força em várias ocasiões em países soberanos para alterar regimes, interferindo na política interna de outros países", disse Cuesta.

Mapa Otan - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

O embaixador cubano ainda afirmou que os Estados Unidos tratam milhões de habitantes dos países invadidos como "efeito colateral" e acusou o governo americano de realizar "guerras de pilhagem e saques".

Cuba também criticou a minuta de resolução defendida na ONU pelas potências ocidentais —o texto foi vetado pela Rússia no Conselho de Segurança.

"A minuta em relação à situação da Ucrânia, que não foi aprovada no Conselho de Segurança nos últimos dias, não foi feita para trazer soluções. O texto sofre dos mesmos defeitos e da falta de equilíbrio. Não leva em conta a soberania de todas as partes, nem reconhece a responsabilidade daqueles que perpetraram as ações agressivas que aumentaram a escala desse conflito", disse.

Por fim, o diplomata afirmou que o governo cubano defende uma solução diplomática do conflito: "Nós queremos negociações, e não guerra. Essa é a única forma de resolver esse conflito. Cuba vai continuar defendendo a solução diplomática, que seja séria, construtiva e realista", completou.

Assembleia-Geral da ONU na sede da entidade, em Nova York - ONU/Evan Schneider - ONU/Evan Schneider
Assembleia-Geral da ONU na sede da entidade, em Nova York
Imagem: ONU/Evan Schneider

Convocação de sessão especial

A sessão extraordinária da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York, nos Estados Unidos, foi convocada devido à necessidade emergencial de debater a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. A reunião começou ontem e continua hoje ao longo do dia. Uma resolução para a sua realização contou com voto favorável da diplomacia brasileira.

A convocação de uma sessão extraordinária da Assembleia-Geral é rara — foram somente outras 10 deste tipo desde 1950.

Segundo a ONU, a Assembleia-Geral pode ser convocada para tratar de questões de paz e segurança internacionais quando o Conselho de Segurança da entidade não consegue atuar devido à falta de unanimidade entre seus cinco membros permanentes — Rússia, Estados Unidos, China, França, Reino Unido. Isso porque cada um desses países têm poder de vetar uma proposta com a qual não concordam. Quando isso acontece, não costuma haver uma decisão, na prática.

O Brasil é, atualmente, membro não-permanente do Conselho de Segurança da ONU.

A expectativa é que as representações diplomáticas de cerca de 100 países falem na sessão extraordinária da Assembleia-Geral, que deve votar um documento com série de propostas em busca de uma solução para a guerra entre Rússia e Ucrânia amanhã.

Embora essa resolução não deva ter o poder de se tornar uma legislação e não possa obrigar qualquer país a segui-la, seu teor e os países que a apoiam têm forte peso político e demonstram a vontade da maioria dos membros da ONU.

  • Veja as últimas informações sobre a guerra na Ucrânia no UOL News com Fabíola Cidral:

O que o Brasil falou na Assembleia-Geral?

O Brasil evitou criticar diretamente a Rússia pela invasão na Ucrânia, mas disse que as preocupações do país com sua segurança não justificam uma ação militar.

A condenação, ainda que em tom mais brando do que os demais países que discursaram na assembleia, vai de encontro ao posicionamento do presidente Jair Bolsonaro (PL), que disse durante visita ao Kremlin ser "solidário" à Rússia, e reafirmou a posição de neutralidade do Brasil no conflito.

Logo no início do discurso, a representação brasileira destacou que as preocupações da Rússia com sua segurança por conta da expansão da Otan foram tratadas com "descrédito", mas condenou a invasão.

"Nos últimos anos, temos visto uma deterioração progressiva da situação de segurança e do balanço de poder na Europa Oriental. O enfraquecimento dos Acordos de Minsk por todas as partes e o descrédito das preocupações com a segurança vocalizadas pela Rússia prepararam o terreno para a crise que estamos vendo. Deixe-me ser claro, no entanto: esta situação não justifica o uso da força contra o território de um estado membro", disse o embaixador Ronaldo Costa Filho na tribuna da ONU.

Costa Filho ainda alertou para o risco de o conflito ganhar escala e envolver mais países. Segundo ele, é preciso agir com cautela para não ampliar as tensões na Europa Oriental, no momento em que a Rússia colocou em prontidão seu arsenal nuclear.

"Nós precisamos ser cautelosos na Assembleia-Geral e em outros contextos. Nós vemos uma sucessão de eventos que se não forem contidos em breve levarão a um confronto muito mais amplo. Todos sofrerão, não só aqueles envolvidos na guerra", disse.

O embaixador brasileiro ainda conclamou as potências ocidentais a reverem os severos embargos econômicos impostos à Rússia.

O Brasil vive uma situação diplomática complicada no conflito entre Rússia e Ucrânia. Dias antes do início da invasão, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou com o mandatário russo Vladimir Putin em Moscou e disse ser "solidário" à Rússia —declaração que foi criticada internacionalmente.

Bolsonaro já afirmou que o Brasil seguiria neutro no confronto. Ele está agora em viagem de folga de carnaval no Guarujá, no litoral paulista.

Dias antes, após o vice-presidente Hamilton Mourão defender uma ação militar contra a Rússia, Bolsonaro veio a público desautorizá-lo.

Brasil não participa de protesto contra Rússia

Em apoio à Ucrânia, embaixadores, ministros e diplomatas de diversos países promoveram um boicote em reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, que acontece em Genebra, na Suíça, contra o governo da Rússia.

Nesta terça-feira, quando o chanceler russo Sergey Lavrov tomou a palavra para se dirigir ao Conselho, os representantes diplomáticos se levantaram e deixaram a sala, em Genebra, em protesto.

O Brasil, porém, foi um dos países que permaneceu na reunião e não boicotou o chanceler russo.