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Guerra da Rússia-Ucrânia

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Brasileiro diz ter escapado de ataque: 'Estava nessa base. Perdi amigos lá'

Combatente brasileiro André Hack disse ter deixado base militar em direção a Kiev horas antes de ataque russo - Reprodução da internet
Combatente brasileiro André Hack disse ter deixado base militar em direção a Kiev horas antes de ataque russo Imagem: Reprodução da internet

Herculano Barreto Filho

Do UOL, em São Paulo

13/03/2022 14h57

Brasileiros da Legião Internacional de Defesa do Território da Ucrânia disseram ter deixado a área militar na região de Lviv horas antes do bombardeio em um ataque aéreo russo na madrugada de hoje, que deixou ao menos 35 mortos e 134 feridos, segundo o governo ucraniano. A Rússia fala em 180 óbitos de "mercenários estrangeiros", com destruição de armas fornecidas por países do ocidente.

Os combatentes no "front" confirmaram a inutilização do material bélico e informaram que o número de mortos no ataque à base militar seria de mais de 200 pessoas, mais próximo ao anunciado pela Rússia. O UOL mostrou ontem registros do deslocamento deles para uma missão militar na capital Kiev, que estava sitiada e debaixo de bombardeios, segundo o governo ucraniano.

Os combatentes brasileiros, que dizem integrar uma tropa de elite na unidade de estrangeiros aliados ao exército ucraniano, têm registrado fotos e vídeos de ações militares. Hoje, as mensagens foram de luto e homenagem aos mortos na base em Starychi, perto de Lviv. O Campo Militar de Yavoriv, alvo do bombardeio, fica a cerca de 25 quilômetros da fronteira da Ucrânia com a Polônia.

"A base onde estávamos foi atacada agora de novo por mísseis. Mais de 200 mortos! Pessoas que vieram para ajudar o povo ucraniano. Não vamos perdoar e nem esquecer, os agressores ou os países omissos que negam ajuda", postou André Kirvaitis em seu perfil no Instagram. A mensagem também foi compartilhada por André Hack e Leanderson Paulino.

Hoje pela manhã, Kirvaitis enviou um áudio para a reportagem.

A gente está em alerta aqui em Kiev. A base do quartel onde a gente estava foi atacada por um caça russo, que passou lá e soltou alguns mísseis. Explodiram um hospital e o local onde ficam os armamentos"
André Kirvaitis, combatente brasileiro na Ucrânia

Em contato com a reportagem, Hack confirmou a passagem recente pela base militar antes do ataque e falou sobre a relação que tinha com alguns dos mortos no bombardeio. "Um dia antes, eu estava nessa base. Perdi amigos lá".

"Que Deus receba vocês, meus irmãos. Lutaremos por vocês", escreveu Paulino, que fez o primeiro contato com o UOL às 9h de hoje (4h no horário de Brasília). "A base onde estávamos antes de partir foi atacada! Não posso falar por muito tempo", escreveu, em mensagem por WhatsApp.

Apelo por zona de exclusão aérea

Instrutores militares estrangeiros já trabalharam no Campo Militar de Yavoriv, segundo a Ucrânia. Mas um representante da Otan informou à agência de notícias Reuters que não havia ninguém da aliança militar no local no momento do ataque russo.

Maksym Kozytsky, chefe da administração militar regional de Lviv, repetiu o apelo ucraniano para a criação de uma zona de exclusão aérea no país, como forma de tentar impedir ataques aéreos russos.

Mapa Rússia invade a Ucrânia - 26.02.2022 - Arte UOL - Arte UOL
Imagem: Arte UOL

Hoje, 18º dia da invasão russa ao território ucraniano, também foi divulgado que mais um prefeito foi capturado: o administrador de Dniprorudne, Yevhen Matveyev. Na sexta-feira, as forças russas já haviam prendido o prefeito de Melitopol, gerando protestos.

A Ucrânia também continua atenta à movimentação russa na área próxima à capital Kiev, onde estão os combatentes brasileiros. Em Chernihiv, no norte do país, um ataque a um prédio deixou ao menos quatro pessoas mortas, segundo informações iniciais.

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Maksym Kozytsky, chefe militar da região de Lviv, dá esclarecimentos sobre o ataque a uma área militar perto da fronteira com a Polônia
Imagem: Reprodução/Maksym Kozytsky

Mais de 30 mísseis em ataque russo

Os militares dizem que o ataque aéreo foi realizado a partir dos mares Negro e Azov. Os aviões decolaram no aeroporto de Saratov. No total, os ocupantes dispararam mais de 30 mísseis. O sistema de defesa aérea ucraniano conseguiu derrubar alguns deles no ar, segundo a administração militar de Lviv.

Equipes atuaram ao longo da manhã para apagar focos de incêndio no Campo Militar de Yavoriv —eles foram extintos por volta das 12h no horário local (7h, em Brasília).

Também no oeste do país, assim como Lviv, a cidade de Ivano-Frankivsk foi atingida mais uma vez por um ataque hoje, segundo o governo ucraniano. Foi registrado um ataque de mísseis na região do aeródromo, que já foi alvo das forças russas na última semana.

Ex-militares do Exército, os brasileiros André Kirvaitis (esq) e Leanderson Paulino (dir) fazem parte de uma unidade especial formada por estrangeiros em apoio às tropas ucranianas - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Ex-militares do Exército, os brasileiros André Kirvaitis (esq) e Leanderson Paulino (dir) fazem parte de uma unidade especial formada por estrangeiros em apoio às tropas ucranianas
Imagem: Arquivo pessoal

Quem são os brasileiros na Ucrânia

A Legião Internacional de Defesa de Território da Ucrânia conta com cerca de 20 mil combatentes, segundo o governo ucraniano. Kirvaitis e Heck foram combatentes da legião estrangeira francesa, unidade militar que permite a participação de estrangeiros, antes do alistamento voluntário junto ao exército ucraniano. Já Paulino atuou como bombeiro por três anos em Portugal.

Em nota enviada à reportagem, o Exército do Brasil confirmou a passagem de Paulino como recruta no interior pernambucano entre 1º de março de 2013 e 10 de janeiro de 2014. A entidade também registrou a presença de Kirvaitis no 21º Depósito de Suprimento em São Paulo entre 1º de março de 2013 e 21 de março do ano seguinte.