Topo

Guerra da Rússia-Ucrânia

Notícias do conflito entre Rússia e Ucrânia


Hospital que atende soldados e milicianos teme virar alvo de ataque russo

André Liohn

Colaboração para o UOL e para a Folha, de Kiev (Ucrânia)

17/03/2022 13h52Atualizada em 17/03/2022 16h31

A menos de 5 km do hospital de Brovary, o exército ucraniano luta para impedir que a maior coluna militar russa dentro da Ucrânia consiga entrar na cidade e, dali, seguir os 25 km em uma linha praticamente reta até o centro da capital, Kiev.

Os civis residentes nas vilas e pequenos municípios da região, que foram deixados para trás por serem muito velhos, doentes ou pobres para escaparem usando seus próprios meios, estão sendo retirados neste momento. A região do entorno de Brovary não é servida por serviços ferroviários, e muitas das estradas vicinais estão sob comando russo ou dentro da faixa de alcance da artilharia do exército ocupante.

Os combates que continuam ao longo da estrada principal, que liga Kiev a Belarus, têm afetado civis, como no caso de Ivina, uma senhora de 76 anos que sobreviveu a um bombardeio russo que atingiu sua casa na madrugada do dia 17.

Minha cama ficou toda coberta de vidro, que cortou meu corpo, meus braços, minhas costas. Uma parte do teto caiu sobre meu rosto. Eu não entendia o que estava acontecendo quando acordei sentindo muita dor e então me lembrei: estamos em guerra"
Ivina, moradora do entorno de Brovary

Sua filha, Izabella, que a acompanhou até o hospital, usando uma fita adesiva amarela enrolada em torno do braço direito, um sinal de lealdade ao governo ucraniano, diz que parte de sua família é russa e que não entende o sentido desta guerra, mostrando em seu telefone as fotos dos efeitos da bomba que poderia ter tirado a vida de sua mãe.

O poder de convencimento do som das sirenes, alertando possíveis ataques aéreos, parece ter ganhado nova força.

A informação de que a força aérea russa atacou um teatro servindo de abrigo para centenas de pessoas, inclusive crianças, na cidade de Mariupol, renovou a preocupação da equipe médica que trabalha no hospital de Brovary.

Neste momento, o hospital está recebendo principalmente soldados e milicianos feridos na linha de frente, e os médicos temem que o exército russo ataque o hospital a qualquer momento.

A cada alarme das sirenes, os médicos fogem para o abrigo antibombas improvisado nos porões do hospital onde estão as tubulações de água, gás e esgoto que servem o prédio. A temperatura, assim como a altura do teto, é baixa, forçando as pessoas a caminharem curvadas pelos corredores estreitos e por vezes malcheirosos.

Imagem de satélite mostra o Teatro de Drama Mariupol antes do bombardeio, com a palavra "crianças" em russo escrita em grandes letras brancas na calçada, na frente e atrás do prédio, em Mariupo - Maxar Technologies/via Reuters - Maxar Technologies/via Reuters
Imagem de satélite mostra o Teatro de Drama Mariupol antes do bombardeio, com a palavra "crianças" em russo escrita em grandes letras brancas na calçada, na frente e atrás do prédio
Imagem: Maxar Technologies/via Reuters

Apenas um elevador de serviço chega até uma parte isolada do porão. Por isso, os médicos ficam impossibilitados de transferir os pacientes para o abrigo todas as vezes que uma ameaça aérea faz com que o alarme dispare.

A solução encontrada foi transferir os pacientes que ainda restam no hospital para os corredores, o mais distante possível das janelas, de preferência, e mais próximos das escadas que levam até o porão, para que os médicos e enfermeiros possam se proteger rapidamente.

Para que os pacientes não sejam deixados absolutamente sozinhos em caso de um ataque aéreo, os médicos do hospital decidiram que as equipes que cuidam dos pacientes mais graves, que precisam de acompanhamento constante, devem ficar com seus pacientes independentemente do que acontecer, sendo autorizadas a deixar seus postos apenas depois de uma ordem expressa da direção do hospital.

Para evitar um cenário como este, até agora, a direção do hospital tem conseguido transferir quase que imediatamente todos os pacientes graves para hospitais de Kiev.

"Ontem, recebemos muitos pacientes que precisaram passar por cirurgias. Pessoas feridas durante bombardeios, feridas com estilhaços de bombas, algumas com amputações. Assim que foram estabilizadas, elas foram levadas para um hospital militar de Kiev", disse o médico ortopedista Sergey Omelchenko, que normalmente trabalha numa clínica privada de Kiev, mas que agora está ajudando a equipe médica de Brovary.

A preocupação dos médicos de Brovary não é exagerada, e o risco de um ataque contra o hospital é real. Nos últimos dias, os piores ataques contra Kiev atingiram prédios residenciais, curiosamente, entre milhares de prédios completamente esvaziados de pessoas, os três atingidos nos últimos dias, ainda estavam repletos de civis que por algum motivo não deixaram a cidade.

Além dos prédios residenciais atingidos por misseis e artilharia, na região oeste de Kiev, próximo do front, os exércitos ucraniano e russo combatem dentro das cidades de Bucha e Irpin.

Anteontem (15), o Hospital Clinico de base da região 7, que recebia civis feridos evacuados destas duas cidades, foi atingido por um morteiro que destruiu a entrada de emergência do hospital.

A entrada da administração, inapropriada para o trânsito de macas, tornou-se a nova porta de emergência onde equipes de socorro em ambulâncias deixam seus pacientes. Com praticamente todos os civis tendo sido evacuados, este hospital também tem recebido muitos soldados feridos, principalmente durante bombardeios.