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'Só restam ossos pelo chão', diz mulher que conseguiu deixar Mariupol

Svletana Kuryacha Pavlovna, mãe de Christina Cherkes, conseguiram sair de Mariupol e chegar em Zaporozhye - André Liohn/UOL
Svletana Kuryacha Pavlovna, mãe de Christina Cherkes, conseguiram sair de Mariupol e chegar em Zaporozhye Imagem: André Liohn/UOL

André Liohn

Colaboração para o UOL e para a Folha, de Zaporozhye (Ucrânia)*

19/03/2022 17h22

Svetlana Kuryacha chegou com sua família hoje (19) em Zaporozhye, na Ucrânia, após vivenciar ataques das tropas russas em uma área residencial de Mariupol, cidade portuária no sudeste da Ucrânia.

Mariupol vem sendo bombardeada pelo Exército da Rússia desde os primeiros dias de invasão e apresentou dificuldades para que civis conseguissem deixar a cidade. Já Zaporozhye sofreu seus primeiros bombardeios nessa semana.

Cerca de 200 km separam essas cidades. A viagem de três horas agora pode levar até três dias para ser concluída. No caminho para chegar em Zaporozhye, muitos postos de controle montados pelo Exército russo impedem a livre passagem de moradores de Mariupol.

"Nós vivemos numa área residencial de Mariupol e fomos bombardeados por aviões e lançadores de foguetes. Minha casa foi atingida", relatou Svetlana Kuryacha ao conseguir evacuar de sua cidade.

Segundo ela, um homem foi atingido por um disparo e seu corpo ficou no chão. "Cachorros se alimentaram de seu corpo, ninguém foi buscar seu corpo", disse. Ela afirma que os russos têm atacado áreas residenciais. "Tanques e militares estão pelas ruas", conta.

Na terça-feira (15), um bombardeio a um teatro, que servia de refúgio para civis em Mariupol, deixou um ferido em estado grave. A cidade é considerada estratégica para Rússia por ter o principal porto da parte ocidental da Ucrânia.

Com a tomada da cidade pelos russos, por exemplo, o Exército comandado por Vladimir Putin poderia desembarcar por via marítima mais suprimentos e soldados para suas tropas.

Porão por 14 dias

Svetlana relatou também ter ficado com sua família durante 14 dias dentro do porão de sua casa. "Nós escutamos que perto de onde moramos, uma casa foi atingida e fomos ajudar. Idosos viviam nesta casa, não podíamos deixar que eles morressem queimados", conta.

Para a filha de Svetlana, Christina Cherkes, a Rússia tem feito a população de Mariupol de "refém". "Porque se não há civis, é mais difícil para as forças russas se engajarem em confronto com as forças ucranianas, que estão motivadas e em seu próprio território", explicou.

As pessoas que moravam do outro lado de minha rua morreram todas queimadas vivas. Agora, só restam seus ossos pelo chão
Svetlana Kuryacha

Elas falam russo e Svetlana nasceu na Rússia. "Putin está matando falantes de russo, Putin está destruindo as cidades onde mais se fala russo. São elas Mariupol, Kharkiv, Kiev [capital ucraniana]", apontou.

*Colaborou Ana Paula Bimbati, do UOL, em São Paulo