Ucrânia fala em diálogo por paz, mas Rússia mantém bombardeios
A Rússia segue atacando diferentes cidades ucranianas à medida que o país pede conversas de paz com Moscou. Hoje (19), 24º dia de guerra, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, divulgou um vídeo em que pedia diálogo para tentar resolver o conflito entre os dois países, mas os bombardeios continuaram.
Gravado em uma praça em Kiev, capital da Ucrânia, Zelensky diz que já chegou a hora de sentar com o presidente russo, Vladimir Putin, e acabar com a invasão. Na direção contrária, Putin fez um discurso pró-guerra ontem (18) em um estádio lotado na Rússia em que dizia que o país "nunca teve tanta força".
Em entrevista à agência Tass, da Rússia, o assessor presidencial russo Vladimir Medinsky, afirmou que, antes que se considere a possibilidade de encontro entre Putin e Zelensky, o texto de um tratado de paz entre os países deve ser aprovado. "Antes mesmo de mencionarmos uma reunião dos líderes, as delegações de negociadores devem preparar e concordar com o texto de um tratado", afirmou. "Depois disso, o texto deve ser rubricado pelos chanceleres e aprovado pelos governos. Depois disso, pode-se discutir a possibilidade de uma cúpula."
Este é o 24º dia de conflito entre os países. Há relatos de bombardeios russos no noroeste do país, próximo à fronteira com a Polônia, e no sudeste, com o bloqueio do acesso ao mar de Azov, à beira do Mar Negro. O Ministério da Defesa de Putin também disse ter usado um míssil hipersônico pela primeira vez hoje contra o país.
As Forças Armadas ucranianas, por sua vez, dizem, por meio de comunicados em aplicativos de mensagem, estar conseguindo conter o Exército russo em outros pontos. Só nesta manhã, a defesa do país derrubou 12 alvos aéreos russos, incluindo dois aviões e três helicópteros.
Eu quero que todos me ouçam agora, especialmente em Moscou. A hora de uma reunião chegou, é hora de conversar. Chegou a hora de restaurar a integridade territorial e a justiça para a Ucrânia. Do contrário, as perdas russas serão tão grandes que leverá gerações para que se recupere.
Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia
Em direção oposta, Putin fez um discurso espetaculoso e pró-guerra em um estádio em Moscou na tarde de ontem. Com apresentação musical e 95 mil pessoas nas arquibancadas, ele celebrou a atuação do Exército russo no país vizinho e disse estar "combatendo o nazismo".
Guerra entra no 24º dia
Os ataques russos continuam a atingir a Ucrânia. Na manhã deste sábado (madrugada no Brasil), as autoridades de Kharkiv, no nordeste do país, divulgaram que a cidade sofreu 29 bombardeios russos só na última sexta (18). Segundo a imprensa local, desde o início do conflito, pelo menos 112 crianças ucranianas foram mortas e 140 foram feridas.
Na manhã deste sábado, segundo o Exército ucraniano, as defesas do país derrubaram 12 alvos aéreos russos, incluindo dois aviões e três helicópteros.
Nesta manhã no horário local, a promotoria de Luhansk, no extremo leste, anunciou a adoção de um "regime de silêncio" para o corredor humanitário da região, para evitar ataques russos. O governo ucraniano acusa a Rússia de desrespeitar o acordo para a evacuação de civis nestes corredores.
Os corredores são áreas não ocupadas por forças militares e funcionam como uma forma de acesso legal dos civis a zonas fora da guerra. Pelo menos nove foram acordados na última sexta. Eles são projetados para permitir o transporte seguro de ajuda humanitária para as cidades e a saída segura para moradores que desejam fugir.
Em Kiev, capital do país, a Prefeitura estima que a qualidade do ar ultrapassou de duas a três vezes a nível considerado seguro por causa da fumaça e da poeira causadas pelos bombardeios russos.
Rússia diz ter usado míssil hipersônico pela 1ª vez
O Ministério da Defesa da Rússia declarou que sua Força Aérea usou um míssil hipersônico pela primeira vez hoje. O armamento teria sido lançado contra um depósito subterrâneo de mísseis na região de Ivano-Frankivsk, no sudeste do país.
Segundo o governo ruso, o míssil Kinzhal ("adaga", em tradução livre) teria atingido o alvo em Delyatyn. A informação ainda não pôde ser verificada.
Esta seria a primeira vez que a Rússia usa esse tipo de armamento tanto na Ucrânia quanto na Síria, onde também realiza combate armado.
Ucrânia perdeu acesso ao mar de Azov
As Forças Armadas de Ucrânia dizem ter perdido acesso "temporário" ao mar de Azov, no extremo sul do país, divisa com a Rússia. Sem especificar se o acesso já foi retomado, o Exército declarou, em comunicado divulgado na madrugada deste sábado, fim da noite de sexta no Brasil, que os russos tiveram foram "parcialmente bem-sucedidos" na tomada da região.
O mar de Azov, na região ucraniana de Donetsk, ao norte do Mar Negro, é um dos pontos estratégicos do conflito e tem sido foco da atenção dos ataques russos. Na última quinta (17), bombardeios na cidade portuária de Mariupol destruiu um teatro que abrigava civis e deixou 1,3 mil pessoas presas.
"Os ocupantes [russos] foram parcialmente bem-sucedidos na área operacional de Donetsk e privaram temporariamente o acesso ao Mar de Azov. O inimigo foi parado à caminho de Mykolaiv por forças de defesa conjuntas", informou o comunicado das Forças Armadas ucranianas.
A nota não informa exatamente em que ponto ou por quanto tempo houve o bloqueio - nem se o Exército ucraniano conseguiu retomá-lo. Já os russos, por sua vez, dizem controlar a região desde o dia 1º de março.
Podolyak critica ministra alemã e pede ajuda da China
O conselheiro presidencial e braço-direito de Zelensky, Mykhailo Podolyak, declarou hoje em suas redes sociais que a fala da ministra da Defesa da Alemanha, Christine Lambrecht, sobre a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) não interferir na guerra "encoraja o massacre russo na Ucrânia".
Em encontro com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, na última quinta, Lambrecht afirmou que a organização não deveria interferir militarmente no conflito nem fechar as fronteiras aéreas. Podolyak rebateu as declarações em seu Twitter na manhã de hoje.
"A ministra alemã Lambrecht disse abertamente: 'A Otan não vai interver no conflito nem vai criar uma zona de bloqueio de espaço aéreo para a Ucrânia'. Esse tipo de declaração por políticos europeus encoraja a Rússia a massacrar a Ucrânia. Se você não reconhece a guerra e tem medo do Putin, pelo menos não dê declarações provocativas", afirmou Podolyak.
Horas depois, o conselheiro presidencial voltou ao Twitter para pedir ajuda da China, aliada de Putin, no conflito. "A China pode ser um elemento importante para o sistema de segurança global se tomar a decisão certa e apoiar a coalizão de países civilizados e condenar o barbarismo russo", declarou Podolyak.
A declaração se dá um dia depois que o presidente chinês Xi Jinping ter passado duas horas ao telefone com o presidente norte-americano Joe Biden. Xi, que tem boas relações com Putin, não indicou apoio expresso à Rússia, mas também não disse que iria interferir em favor da Ucrânia.
Cosmonautas russos usam cores da Ucrânia
Três cosmonautas russos chegaram nesta madrugada à ISS (Estação Espacial Internacional, na sigla em inglês), vestindo trajes de voo amarelos com detalhes em azul, cores que pareciam combinar com a bandeira ucraniana. Oficialmente, no entanto, eles não informaram se a vestimenta se tratava de alguma homenagem ou protesto ou se foi apenas uma coincidência.
Oleg Atemyev, Denis Matveev e Sergei Korsakov foram os primeiros a chegar à estação espacial desde o início da guerra russa na Ucrânia, ocorrida no mês passado.
O voo foi realizado sem problemas e se conectou à ISS após cerca de três horas de viagem, após o seu lançamento no Cazaquistão. Os três russos se juntam aos cosmonautas Anton Shkaplerov e Pyotr Dubrov e aos astronautas dos Estados Unidos (Raya Chari, Thomas Mashburn, Kayla Barrow e Mark Vande Hei) e da Alemanha (Matthias Maurer).
Noruega receberá 100 mil refugiados ucranianos
A Noruega anunciou que deverá receber 100 mil refugiados ucranianos em meio ao conflito. Segundo o primeiro-ministro Jonas Gahr Stoere, o país já estima ter recebido cerca de 30 mil pessoas fugindo do conflito. Pelo menos mais 70 mil são esperadas.
Segundo Stoere, em discurso no Parlamento, para receber uma quantidade tão grande de pessoas pedindo abrigo, o país de 5,4 milhões de habitantes teria de alocar os ucranianos em ginásios, galpões e tendas improvisadas.
Só na última sexta, mais de 9 mil civis deixaram a Ucrânia. A informação foi divulgada por Kirilo Timoshenko, consultor do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Segundo Timoshenko, os civis saíram do país por meio de novos corredores humanitários abertos hoje.
De acordo com a ONU (Organização das Nações Unidas), o número de refugiados já ultrapassou de 3,6 milhões de pessoas no total.
*Com informações de AFP, DW e Reuters.
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