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Opositor russo Navalny é condenado a 9 anos de prisão por fraude e desacato

22.mar.2022 - O líder da oposição russa, Alexei Navalny (à esquerda), é visto em uma tela por meio de um link de vídeo durante julgamento na colônia prisional IK-2 na cidade de Pokrov, na região de Vladimir - AFP
22.mar.2022 - O líder da oposição russa, Alexei Navalny (à esquerda), é visto em uma tela por meio de um link de vídeo durante julgamento na colônia prisional IK-2 na cidade de Pokrov, na região de Vladimir Imagem: AFP

Do UOL, em São Paulo

22/03/2022 08h38Atualizada em 22/03/2022 17h33

O opositor russo Alexei Navalny foi condenado hoje a nove anos de prisão por "fraude" e "desacato", constataram os jornalistas da AFP presentes na audiência.

A juíza Margarita Kotova acrescentou a esta sentença um ano e meio de liberdade condicional e uma multa de 1,2 milhão de rublos, ou cerca de R$ 54 mil no câmbio atual.

Ele terá que cumprir sua pena em uma "colônia penal de regime severo", o que significa que suas condições de detenção se tornarão mais rígidas.

Navalny considera as acusações fictícias e que foram ordenadas pelo Kremlin para mantê-lo na prisão o maior tempo possível.

O Ministério Público havia solicitado na semana passada que a pena de dois anos e meio de detenção, que Navalny cumpre há pouco mais de um ano, fosse aumentada para 13 anos de prisão.

O ativista anticorrupção e ex-advogado, de 45 anos, é julgado desde fevereiro em um tribunal improvisado dentro da colônia penitenciária em que cumpre a pena, 100 km ao leste de Moscou.

Hoje, ele compareceu à audiência com o uniforme de presidiário, com o rosto abatido, e ouviu o veredicto com as mãos nos bolsos, entre sorrisos e conversas com os advogados.

Como já era esperado, a juíza Margarita Kotova o declarou culpado desde o início da leitura da sentença.

"Navalny cometeu uma fraude, o roubo da propriedade de outras pessoas por parte de um grupo organizado", disse Kotova.

Ela afirmou ainda que o réu "demonstrou falta de respeito no tribunal, insultando um juiz".

Mais de 100 jornalistas acompanharam a transmissão da audiência na sala de imprensa instalada na colônia penitenciária.

O opositor estava acompanhado apenas por dois advogados, em um momento de grande intimidação às vozes críticas do Kremlin no contexto da invasão russa da Ucrânia, que hoje completa 27 dias.

Após uma audiência anterior, em 15 de março, Alexei Navalny afirmou no Instagram: "Se a prisão é o preço do meu direito humano de dizer as coisas que precisam ser ditas (...) então podem exigir 113 anos. Não vou desistir de minhas palavras ou minhas ações".

EUA diz que sentença tenta 'silenciar' Navalny

Os Estados Unidos condenaram a sentença contra o opositor russo Alexei Navalny. Para eles, a decisão tenta "silenciar" vozes dissidentes na Rússia e "esconder" a guerra na Ucrânia.

"A decisão simulada do tribunal é a mais recente de uma série de tentativas de silenciar Navalny", disse o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price. E acrescentou: "mais um exemplo da crescente repressão do governo russo às opiniões divergentes e à liberdade de expressão, para esconder a guerra brutal do Kremlin".

Repressão

No caso julgado, os investigadores acusam Navalny de desviar milhões de rublos em doações para suas organizações anticorrupção e de "desacato" durante um processo anterior.

O ativista, conhecido pelas investigações sobre a corrupção e o estilo de vida das elites russas, é alvo da repressão das autoridades há mais de dois anos.

Em agosto de 2020, ele ficou gravemente ferido na Sibéria, vítima de um envenenamento com um agente neurotóxico ordenado, segundo ele, pelo presidente russo, Vladimir Putin.

O Kremlin nega, mas as autoridades russas nunca investigaram a suposta tentativa de assassinato.

Em seu retorno à Rússia, em janeiro de 2021, após cinco meses de convalescença, ele foi preso e condenado a dois anos e meio de prisão por um caso de "fraude" de 2014 relacionado à empresa francesa Yves Rocher.

Em junho de 2021, suas organizações, que atuavam em toda Rússia, foram classificadas como "extremistas" e proibidas, o que levou muitos ativistas a partir para o exílio para evitar processos. Outros foram detidos e enfrentam duras penas de prisão.

Mesmo da colônia penitenciária, Navalny continua divulgando mensagens contra o governo Putin.

Desde o início da ofensiva na Ucrânia, ele se pronunciou contra os combates e convocou manifestações contra o conflito, apesar dos riscos para os ativistas.

Para reprimir qualquer crítica ao exército russo, as autoridades reforçaram ainda mais o arsenal jurídico, com fortes penas de prisão.

Apesar das medidas, mais de 15 mil pessoas foram detidas de maneira temporária na Rússia em quase um mês por protestar contra a ofensiva, segundo a ONG OVD-Info.

De modo paralelo, o governo reforçou o controle sobre as informações a respeito do conflito, bloqueando o acesso a dezenas de meios de comunicação locais e estrangeiros.

Ontem, a justiça russa proibiu o Instagram e o Facebook no país, acusados, como Navalny, de "extremismo". Twitter e TikTok já estavam bloqueados na Rússia.

* Com AFP e RFI