Rússia diz começar nova etapa da guerra; Mariupol recebe outro ultimato
O Ministério da Defesa da Rússia deu um novo ultimato para a rendição da cidade ucraniana de Mariupol hoje —mesmo dia em que o ministro russo das Relações Exteriores, Sergey Lavrov, disse que seu país estava começando a nova fase da "operação especial" na Ucrânia, maneira como o governo invasor chama a guerra.
"A próxima fase desta operação está começando, e acho que agora será um momento importante", disse Lavrov em entrevista ao jornal Índia Today, indicando que o objetivo é a "libertação completa" do Donbass, as áreas separatistas ucranianas em Lugansk e Donetsk. Em 29 de março, o governo russo disse que a primeira etapa havia sido concluída. Hoje, a Rússia disse ter atingido mais de 1.200 "alvos militares" na Ucrânia nas últimas horas; ontem, foram cerca de 300.
O ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, disse que suas Forças Armadas terão "novos métodos de guerra". De acordo com ele, os novos métodos permitirão "uma melhor adaptação das tropas às condições modernas de confronto armado". Ele indicou que visa "desenvolver ainda mais" o Exército e a Marinha da Rússia e "dotá-los de equipamentos militares avançados".
Os acontecimentos dos últimos meses demonstram claramente como é importante para a Rússia continuar melhorando as Forças Armadas
Sergei Shoigu, ministro da Defesa da Rússia
Shoigu diz ver a guerra —focada agora na "libertação" do Donbass— prosseguindo "de forma consistente", mas com os Estados Unidos e países ocidentais "fazendo de tudo para atrasar ao máximo a operação militar especial".
Ontem, o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, já dizia que a Rússia começou uma nova fase da ofensiva. "Agora se pode afirmar que as tropas russas iniciaram a batalha por Donbass, para a qual se preparam há muito tempo. Uma parte muito grande de todo o exército russo está agora focada nesta ofensiva." No começo do mês, autoridades ucranianas já pediam para que a população do leste fosse para áreas mais seguras, clamor que tem sido reforçado neste momento.
Por volta das 9h30, horário de Brasília, o porta-voz do Ministério da Defesa da Ucrânia, Oleksandr Motuzyanyk, disse que "os ataques aéreos e de mísseis contra alvos civis em toda a Ucrânia, em particular nas regiões ocidentais, não param". A respeito de Mariupol, ele disse que "os ocupantes não param de tentar estabelecer o controle total" sobre a cidade.
Mariupol e novo ultimato
Mais cedo, sobre Mariupol, o Ministério da Defesa russo citou, em comunicado, o que seria "a situação catastrófica que se desenvolveu na metalúrgica Azovstal" e disse que todos os que entregarem as armas terão "garantida a preservação da vida". A Rússia quer que se interrompa "quaisquer hostilidades".
No domingo (17), um ultimato russo já havia sido ignorado pelos ucranianos na cidade portuária. O de hoje deveria ser cumprido até as 10h, horário de Brasília. Mas, até agora, não houve manifestação de russos ou ucranianos sobre a situação na fábrica de Azovstal.
Ontem, a Câmara de Mariupol disse que ocupantes russos atacaram a fábrica de Azovstal com "bombas pesadas". "Há pelo menos mil civis nos abrigos subterrâneos da metalúrgica. Principalmente mulheres com filhos e idosos." O ministério russo disse que a informação da presença de civis não seria verdadeira, mas que, caso "alguém da população civil estiver em Azovstal", "sejam tomadas todas as medidas para os libertar".
Porta-voz das milícias de Donetsk, Eduard Basurin disse, no início do dia, que o grupo pró-Rússia começou a invadir o território da fábrica, segundo agências de notícias da Rússia. "A Federação Russa está nos ajudando muito nisso; isto é, aviação e artilharia."
Para o Serviço de Segurança da Ucrânia, "apesar de uma vantagem significativa no número de tropas, os ocupantes russos não podem tomar o ucraniano Mariupol." "É por isso que eles querem destruir a fábrica de Azovstal, onde nossos caças estão se defendendo. Os ocupantes não se intimidam nem mesmo pelo fato de civis terem se refugiado na usina."
A Rússia tem apontado que suas tropas já ocuparam toda a área urbana da cidade, restando apenas um grupo de combatentes ucranianos cercados na metalúrgica. A informação não pôde ser verificada com fontes independentes.
Mariupol, próxima ao mar de Azov, é um dos principais objetivos dos russos em seu esforço para obter o controle total da região de Donbass, área separatista, e formar um corredor terrestre no leste do país a partir da anexada península da Crimeia. A queda total da cidade seria a maior vitória da Rússia em quase dois meses de guerra.
Antes do anúncio russo, o Ministério da Defesa da Ucrânia disse que "os principais esforços do inimigo [Rússia] estão focados em romper a defesa de nossas tropas nas regiões de Lugansk e Donetsk [áreas do Donbass], além de estabelecer o controle total sobre a cidade de Mariupol".
Condições do ultimato
Em seu novo ultimato par Mariupol, a Rússia indicou que, a partir das 7h (no horário de Brasília), seria "estabelecida uma conexão contínua entre os lados russo e ucraniano para a troca mútua de informações".
Meia hora depois, deveria haver "o início real do 'modo de silêncio' por ambas as partes", que será "indicado pelo hasteamento das bandeiras". "Do lado russo, [bandeira] vermelha; do lado ucraniano, branca, em todo o perímetro de Azovstal."
Das 8h às 10h, também no horário de Brasília, "saída de todos, sem exceção, unidades armadas ucranianas e mercenários estrangeiros, sem quaisquer armas e munições". Desde as 8h, a Rússia disse que houve um "corredor humanitário para a retirada de militares ucranianos que voluntariamente depuseram suas armas".
"Mais uma vez, apelamos às autoridades oficiais de Kiev para que demonstrem prudência, deem as devidas instruções aos militantes para que parem a resistência sem sentido e saiam do centro da resistência", disse o ministério russo. "Mas percebendo que eles não receberão tais ordens e ordens das autoridades de Kiev, nós os exortamos a tomar essa decisão por conta própria e depor as armas."
A Rússia ainda disse que garantirá a cada um dos que se renderem "a preservação da vida e o cumprimento de todas as normas da Convenção de Genebra sobre o tratamento dos prisioneiros de guerra, como já aconteceu com os militares das Forças Armadas da Ucrânia que anteriormente se renderam em Mariupol".
Centenas de ataques
Mais cedo, em relatório divulgado hoje, 55º dia da guerra russa na Ucrânia, o Ministério da Defesa da Rússia disse que "tropas de foguetes e artilharia atacaram 1.260 alvos militares" na Ucrânia. Entre os pontos atingidos, os russos citam 25 postos de comando, depósitos de armas e foguetes, lançadores de mísseis, "bem como 1.214 locais de concentração de mão de obra inimiga".
A Ucrânia indicou ter percebido a intensificação da ofensiva russa. "Os ataques de foguetes aéreos contra alvos civis em toda a Ucrânia não param", disse o Ministério da Defesa ucraniano, pontuando que houve um aumento nas ações no oeste.
Após ataques que deixaram mortos ontem em Lviv, a cidade, no oeste ucraniano, foi visitada hoje pelo primeiro-ministro da Polônia, Mateusz Morawiecki. Lviv fica a cerca de 70 quilômetro da fronteira da Ucrânia com o território polonês.
Cidade russa atingida
Segundo Vyacheslav Gladkov, governador da região de Belgorod, na Rússia, a cidade de Golovchino foi atingida por um ataque. Ao menos três pessoas ficaram feridas, de acordo com Gladkov. "Mais de 30 casas afetadas", disse o governador. Golovchino fica a cerca de 20 quilômetros da fronteira russa com a Ucrânia.
Sem corredores de novo
Hoje, pelo terceiro dia seguido, a Ucrânia não terá corredores humanitários para evacuação. Segundo a vice-primeira-ministra ucraniana, Iryna Vereshchuk, "o bombardeio intenso continua no Donbass", área separatista no leste do país. Ela também disse que, em Mariupol, "os russos se recusam a fornecer um corredor para civis".
Governador de Lugansk, Serhey Haidai, indicou que fará tentativas de evacuação mesmo sem os corredores. "Não podemos deixar os habitantes da região de Lugansk por conta própria. Voluntários nos ajudarão na evacuação hoje." Há algumas semanas, ele já pediu para a população da região deixar suas casas para ir a áreas mais seguras.
Ontem, ele anunciou que Kreminna, na região de Lugansk, foi tomada pelos russos. "Os moradores de Kreminna não tiveram tempo [para fugir] e agora são reféns", disse. "Portanto, salvem suas vidas para não se tornarem mão de obra barata."
Negociações
O massacre em Bucha e o ataque a civis em Kramatorsk "ofuscaram os esforços" para um acordo de paz entre Rússia e Ucrânia, avaliou o presidente turco, Recep Erdogan. A Turquia tem buscado atuar como mediadora no diálogo entre os dois países.
Para Erdogan, as conversas lideradas pela Turquia "ainda continuam sendo o caminho mais curto para sair da crise". "Não haverá vencedor nesta guerra porque toda a humanidade perderá. Na verdade, à medida que o conflito continua, tanto as perdas humanas quanto os custos econômicos estão aumentando. Nosso mundo está mergulhando em uma grande incerteza", disse.
(Com Reuters, AFP e DW)
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