'Explodiu tudo': o relato do combate que matou 2 brasileiros na Ucrânia
Mísseis russos atingiram o alojamento onde estavam dois brasileiros aliados das tropas ucranianas mortos em combate na madrugada de quinta-feira (30) na cidade de Kharkiv, segundo relato dado pelo comando do pelotão às famílias de Douglas Búrigo e Thalita do Valle horas após a batalha.
Já são três casos de brasileiros mortos em meio à guerra na Ucrânia. Na madrugada de 5 de junho, André Hack Bahi morreu ao ser atingido em um confronto em Sieverodonetsk, um dos principais campos de batalha no leste do país.
Procurado pelo UOL, o Itamaraty (Ministério das Relações Exteriores) não se manifestou sobre o relato das mortes de Douglas e Thalita até a publicação desta reportagem. O órgão levou quatro dias para confirmar a morte de André. A família de Douglas disse ter sido procurada pela embaixada brasileira na Ucrânia. Contudo, os parentes de Thalita ainda não foram localizados.
Douglas e Thalita integravam o mesmo pelotão de André Hack, o primeiro brasileiro morto na guerra da Ucrânia. Menos de um mês depois, a unidade volta a enfrentar baixas de combatentes vindos do Brasil.
Segundo o relato repassado ontem por chamada de vídeo à família de Douglas, a tropa conseguiu fugir do alojamento após os primeiros bombardeios atingirem o local. No entanto, Douglas retornou ao perceber que Thalita não havia saído. Foi nesse momento, ainda de acordo com a família, que mísseis atingiram a unidade.
"O comandante do pelotão nos informou que a tropa conseguiu escapar depois do primeiro bombardeio. Mas o Douglas voltou para buscar a companheira de farda, que ficou para trás. Foi quando os mísseis atingiram em cheio o alojamento. Explodiu tudo", lamentou o empresário Carlos dos Reis, cunhado de Douglas.
Natural de Uruguaiana (RS), Douglas foi militar do Exército brasileiro. Nos últimos anos, passou a morar com os pais na cidade de São José dos Ausentes, também no Rio Grande do Sul, onde era dono de uma borracharia.
Ele deixou o Brasil ao embarcar em um voo no aeroporto internacional de Guarulhos (SP) em 24 de maio. No dia seguinte, pisou pela primeira vez no país invadido. O combatente brasileiro tinha uma filha de 15 anos.
Cunhado de Douglas, o empresário Carlos dos Reis diz que a família tentou convencê-lo a não se alistar junto às tropas ucranianas. "Mas não adiantou. A ideia dele era ir à Ucrânia para ajudar na reconstrução do país", relata.
Segundo o relato de combatentes, os caminhos de Douglas e Thalita se cruzaram na Ucrânia, quando ele ainda buscava uma oportunidade para se alistar junto às tropas ucranianas.
"A Thalita levou um dinheiro para ele e o indicou para o pelotão [onde ele se alistou]. Depois, ela foi para um batalhão da Geórgia [país do Leste Europeu]. Não deu certo, e ela passou a integrar a mesma unidade de Douglas", disse o ex-militar Fabio Júnior de Oliveira, 42, que também esteve na Ucrânia.
Em seu perfil no LinkedIn, Thalita se identificava como advogada e integrante da comissão de direito dos refugiados da OAB-SP (Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo). "Ajuda humanitária em áreas de conflito pelo mundo. Atuação em áreas remotas e de escombros", descreve na página.
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