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Então primeiro-ministro, avô de Abe foi alvo de ataque a faca há 62 anos

26.jan.1965 - O ex-premiê japonês Nobusuke Kishi, avô de Shinzo Abe - Keystone-France/Gamma-Keystone via Getty Images
26.jan.1965 - O ex-premiê japonês Nobusuke Kishi, avô de Shinzo Abe Imagem: Keystone-France/Gamma-Keystone via Getty Images

Do UOL, em São Paulo

08/07/2022 12h09

Morto hoje após ser baleado durante um evento de campanha, o ex-primeiro-ministro do Japão Shinzo Abe, 67, não foi o único político da família a ser vítima de um ataque. Há 62 anos, seu avô materno, Nobusuke Kishi, então premiê japonês, sofreu uma tentativa de assassinato na reta final de seu mandato.

No dia 14 de julho de 1960, Kishi sofreu uma facada quando estava saindo da residência oficial para dar uma festa de boas-vindas ao seu sucessor, Hayato Ikeda. Kishi foi atingido seis vezes na perna, mas sobreviveu porque a lâmina não atingiu as artérias principais.

O avô de Abe foi levado ao hospital e precisou levar 30 pontos para fechar os ferimentos.

O agressor foi identificado como Taisuke Aramaki, 65, um homem desempregado e ligado a grupos de direita. Ele foi condenado a três anos de prisão em maio de 1962 e nunca esclareceu as motivações do ataque. Negou que pretendesse matar o então primeiro-ministro. "Sim, eu o esfaqueei seis vezes, mas se eu o quisesse morto, eu o teria matado", relatou a um repórter.

Segundo registros do tribunal, Aramaki disse à polícia que estava insatisfeito com a má gestão do primeiro-ministro da crise do Tratado de Segurança, assinado em janeiro daquele ano entre Japão e Estados Unidos, e queria "encorajar Kishi a sentir remorso".

Ataques no pós-guerra

Com rígidas leis no país contra a posse de armas, o Japão registrou alguns ataques a figuras nacionais em sua história pós-guerra. No mesmo ano em que o avô de Abe foi ferido, o líder do Partido Socialista do Japão, Inejiro Asanuma, foi esfaqueado até a morte em um comício político por um jovem de direita.

Já em 1990, o ex-ministro do Trabalho Hyosuke Niwa morreu após ser ferido por um homem com problemas mentais. No mesmo ano, o então prefeito de Nagasaki, Hitoshi Motoshima, ficou gravemente ferido após ser baleado por um direitista.

Já em 2007, Iccho Itoh, também prefeito de Nagasaki, foi baleado e morto por um membro de um grupo do crime organizado.

Em 1992, um atirador de direita disparou contra o então vice-presidente do Partido Liberal Democrata, Shin Kanemaru, quando ele encerrava um discurso. Kanemaru não se feriu.

Em 1994, o então primeiro-ministro Morihiro Hosokawa sofreu uma tentativa de fuzilamento promovida por um extremista de direita, mas não se feriu.

Dois anos depois, Yoshiro Yanagawa, prefeito de Mitake, foi espancado em casa e ficou gravemente ferido. A polícia suspeita que tenha sido uma ação promovida pelo crime organizado.

Em 2002, o deputado do Partido Democrata Kouki Ishiii foi esfaqueado na frente de sua casa por um representante do grupo de direita e morreu. Em 2006, o escritório e a casa de Koichi Kato, ex-secretário-geral do Partido Liberal Democrata, foram incendiados.

Morte de Abe

O ataque contra Abe, hoje, ocorreu durante um comício para as eleições do Senado, marcadas para o próximo domingo (10). O hospital para onde ele foi levado informou que o ex-premiê morreu às 17h03, no horário local (5h03, em Brasília), mais de cinco horas após ele ter sido baleado.

Um médico disse que Abe sangrou até a morte devido a dois ferimentos profundos, um deles no lado direito de seu pescoço. Ele não tinha sinais vitais quando deu entrada no hospital.

A polícia identificou Tetsuya Yamagami, 41, como o suspeito de matar Shinzo Abe.

Um porta-voz da polícia disse que Yamagami foi preso às 11h32, horário local, por suspeita de tentativa de homicídio. O Ministério da Defesa disse que uma pessoa com o mesmo nome do morador de Nara integrou a Marinha japonesa, conhecida como Autodefesa Marítima, de 2002 a 2005.

Em um pronunciamento, o chefe de governo, Fumio Kishida, considerou o atentado "absolutamente imperdoável".