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Guru de Putin lamenta a morte da filha e acusa a Ucrânia: 'Regime nazista'

Daria Dugina ao lado do seu pai, o filósofo Alexander Dugin, classificado pela mídia ocidental como um dos principais mentores ideológicos do presidente russo, Vladimir Putin - Reprodução/Telegram
Daria Dugina ao lado do seu pai, o filósofo Alexander Dugin, classificado pela mídia ocidental como um dos principais mentores ideológicos do presidente russo, Vladimir Putin Imagem: Reprodução/Telegram

Do UOL, em São Paulo*

22/08/2022 17h03Atualizada em 22/08/2022 18h11

O pensador e filósofo ultranacionalista russo Alexander Dugin lamentou, em nota, a morte da sua filha, Daria Dugina, na noite de sábado (20) após o carro em que ela conduzia explodir, nos arredores de Moscou. Dugin — que é tido pela mídia ocidental como um dos principais "gurus" do presidente russo Vladimir Putin — acusou a Ucrânia pelo "ataque terrorista" que matou Daria. A Ucrânia, porém, nega qualquer envolvimento com a morte, de acordo com a Reuters.

Daria viajava em um Toyota Land Cruiser, que pertencia ao pai. A suspeita, segundo a Reuters, é de que uma bomba tenha sido plantada no lado de fora do veículo, abaixo do assento do motorista. O ataque teria sido planejado com antecedência e tinha Alexander como alvo, acrescenta a agência de notícias russa Tass. Antes, pai e filha estavam em um festival nacionalista chamado "Tradições" (em tradução livre).

Como todos sabem, como resultado de um ataque terrorista realizado pelo regime nazista ucraniano, em 20 de agosto, ao retornar do festival Tradição perto de Moscou, minha filha Daria Dugina foi brutalmente morta por uma explosão diante dos meus olhos. Alexander Dugin, pensador e filósofo ultranacionalista russo

O enterro de Daria deve acontecer amanhã na Torre Ostankino, às 10h horário local (4h no horário de Brasília), em Moscou.

O filósofo ultranacionalista declarou que a filha era uma "estrela em ascensão" e acusou que os "inimigos da Rússia" mataram a jovem "mesquinhamente".

"Os inimigos da Rússia a mataram mesquinhamente, sorrateiramente... Mas nós, nosso povo, não podemos ser quebrados nem por golpes tão insuportáveis. Eles queriam esmagar nossa vontade com terror sangrento contra os melhores e mais vulneráveis entre nós. Mas eles não vão conseguir."

No fim da nota, que foi compartilhada pelo empresário Konstantin Malofeev no Telegram a pedido de Dugin, o pensador pediu que o exército se dedique e consiga a "vitória" no conflito com a Ucrânia. Ele também agradeceu a todos que prestaram condolências para morte de Dasha, como era apelidada a jovem.

Pessoas ligadas ao governo russo também sugeriram que a Ucrânia possa estar por trás do atentado. A Ucrânia, porém, negou qualquer envolvimento, ainda de acordo com a Reuters. "Não somos um Estado terrorista", disse Mykhailo Podolyak, conselheiro do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, à TV local.

Confira a íntegra da nota:

"Meu amigo Alexander Gelievich Dugin agradece a todos que expressaram suas condolências pela morte de sua filha Dasha. Ele me pediu para publicar este texto:

Como todos sabem, como resultado de um ataque terrorista realizado pelo regime nazista ucraniano, em 20 de agosto, ao retornar do festival Tradição perto de Moscou, minha filha Daria Dugina foi brutalmente morta por uma explosão diante dos meus olhos. Ela era uma linda garota ortodoxa, patriota, correspondente de guerra, especialista em canais centrais e filósofa. Seus discursos e reportagens sempre foram profundos, fundamentados e contidos. Ela nunca pediu violência e a guerra.

Ela era uma estrela em ascensão no início de sua jornada. Os inimigos da Rússia a mataram mesquinhamente, sorrateiramente...
Mas nós, nosso povo, não podemos ser quebrados nem por golpes tão insuportáveis. Eles queriam esmagar nossa vontade com terror sangrento contra os melhores e mais vulneráveis entre nós. Mas eles não vão conseguir.

Nossos corações anseiam por mais do que apenas vingança ou retribuição. É muito mesquinho, não é russo. Só precisamos da nossa Vitória. Minha filha colocou sua vida de solteira em seu altar. Então vençam, por favor!

Queríamos criá-la para ser inteligente e uma heroína.

Que ela inspire os filhos de nossa pátria ao heroísmo até mesmo agora.

A despedida de Daria Dugina (Platonova), um serviço funeral civil - será realizado em 23 de agosto na Torre Ostankino às 10h."

Quem era Dugina?

Formada em Filosofia, Daria Platonova Dugina tinha 29 anos e é descrita pelo Comitê Investigativo da região como jornalista e cientista política. Era editora-chefe do site United World International (UWI), que defendia que a Ucrânia "pereceria" se entrasse para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar que inclui 30 países.

Como comentarista do canal de TV nacionalista Tsargrad e do site Movimento Eurasiano Internacional, ela também expressava tais opiniões com veemência. Ontem (21), a Tsargrad declarou que "Dasha [apelido de Dugina], como seu pai, sempre esteve no front da confrontação com o Ocidente".

Em março, Dugina foi um dos alvos de sanções por parte dos Estados Unidos, sob a justificativa de que ela contribuía para a desinformação sobre a guerra na Ucrânia. Quatro meses depois, em julho, ela também sofreu sanções do Reino Unido pelo mesmo motivo, segundo o jornal americano The New York Times.

"[Dugina é] Autora frequente de desinformação em relação à Ucrânia e à invasão da Ucrânia pela Rússia em várias plataformas online", explicou o governo britânico na ocasião.

Pai é mesmo guru de Putin?

A influência do pai de Dugina, Alexander Dugin, sobre o presidente russo Vladimir Putin tem sido alvo de especulações. Alguns especialistas a classificam como significativa, daí a razão para apelidos como "filósofo de Putin", "cérebro de Putin" e até "Rasputin moderno". Para outros, porém, a força de Dugin sobre o presidente era mínima.

Nos últimos anos, a Ucrânia baniu vários de seus livros.

Ninguém reivindicou atentado

As autoridades russas estão investigando a morte de Daria Dugina como homicídio. A suspeita é de que o ataque tenha sido planejado com antecedência, de acordo com a Reuters.

Denis Pushilin, líder da autoproclamada República Popular de Donetsk, no leste da Ucrânia, acusou as forças ucranianas pela explosão. "Terroristas do regime ucraniano tentaram liquidar Alexander Dugin, mas mataram sua filha", escreveu ele em sua conta no Telegram.

Já a porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria V. Zakharova, evitou atribuir o suposto atentado ao país vizinho, mas disse que, se for confirmada a responsabilidade da Ucrânia, "então teremos que falar sobre a política de terrorismo de Estado adotada pelo regime de Kiev".

"Estamos esperando pelos resultados da investigação", publicou Zakharova, também no Telegram, segundo o NYT.

Até o momento, ninguém reivindicou a autoria do ataque.

*Com AFP, Deutsche Welle e Reuters