Rússia vive num mundo fictício, diz assessor ucraniano após morte de Daria
Um assessor do presidente Volodymyr Zelensky afirmou hoje que a Rússia "está vivendo num mundo fictício" após a Ucrânia ser acusada de arquitetar um ataque com carro-bomba contra Daria Dugina, filha do ultranacionalista Alexander Dugin. Ele é conhecido como "guru" do presidente russo Vladimir Putin, mas nunca ocupou cargo no governo.
Daria morreu no sábado (20) logo após uma explosão nos arredores de Moscou. Ela era jornalista e cientista política e apoiava abertamente a invasão da Ucrânia pela Rússia.
Daria viajava em um Toyota Land Cruiser, que pertencia ao pai. A suspeita, segundo a Reuters, é de que uma bomba tenha sido plantada no lado de fora do veículo, abaixo do assento do motorista. O ataque teria sido planejado com antecedência e teria Alexander como alvo, acrescenta a agência de notícias russa Tass. Antes, pai e filha estavam em um festival nacionalista chamado "Tradições" (em tradução livre).
Segundo Moscou, o assassinato de Daria Dugina foi preparado e executado pelos serviços secretos ucranianos. Em comunicado, o FSB (Serviço de inteligência da Rússia) afirma que o responsável pelo atentado fugiu para a Estônia após o ataque.
O assessor presidencial Mykhailo Podolyak foi a primeira autoridade a comentar o caso. "A propaganda russa vive num mundo fictício: uma mulher ucraniana e seu filho de 12 anos foram 'designados' para explodir o carro de Dugina. Surpreendentemente, eles não encontraram o passaporte estoniano no local".
Horas antes, ele declarou a uma TV local que a Ucrânia "não é um Estado terrorista".
A agência de notícias estatal russa RIA Novosti compartilhou uma postagem de um canal Telegram administrado por hackers russos (RaHDit) que alegava que o suposto agressor —uma mulher —havia servido em Azov, que é categorizado na Rússia como uma organização terrorista.
Apesar de ter negado qualquer envolvimento no suposto atentado, Kiev teme que a Rússia utilize a morte da jovem como pretexto para retaliações. A Ucrânia celebra o 29° nono aniversário de sua independência da extinta União Soviética na quarta-feira (24). A data vai coincidir com os seis meses da invasão russa, que causou dezenas de milhares de mortes e destruição em massa no país.
No sábado (20), o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, alertou que Moscou pode estar preparando algo "cruel" contra a Ucrânia nesta semana.
Quem era Dugina?
Formada em Filosofia, Daria Platonova Dugina tinha 29 anos e é descrita pelo Comitê Investigativo da região como jornalista e cientista política. Era editora-chefe do site United World International (UWI), que defendia que a Ucrânia "pereceria" se entrasse para a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), uma aliança militar que inclui 30 países.
Como comentarista do canal de TV nacionalista Tsargrad e do site Movimento Eurasiano Internacional, ela também expressava tais opiniões com veemência. Neste domingo (21), a Tsargrad declarou que "Dasha [apelido de Dugina], como seu pai, sempre esteve no front da confrontação com o Ocidente".
Em março, Dugina foi um dos alvos de sanções por parte dos Estados Unidos, sob a justificativa de que ela contribuía para a desinformação sobre a guerra na Ucrânia. Quatro meses depois, em julho, ela também sofreu sanções do Reino Unido pelo mesmo motivo, segundo o jornal americano The New York Times.
"[Dugina é] Autora frequente de desinformação em relação à Ucrânia e à invasão da Ucrânia pela Rússia em várias plataformas online", explicou o governo britânico na ocasião.
Pai é mesmo guru de Putin?
A influência do pai de Dugina, Alexander Dugin, sobre o presidente russo Vladimir Putin tem sido alvo de especulações. Alguns especialistas a classificam como significativa, daí a razão para apelidos como "filósofo de Putin", "cérebro de Putin" e até "Rasputin moderno". Para outros, porém, a força de Dugin sobre o presidente era mínima.
Nos últimos anos, a Ucrânia baniu vários de seus livros.
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