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Em depoimento, Cristina diz não ter percebido arma apontada para sua cabeça

02.set.2022 - Cristina Kirchner deixa apartamento na Recoleta após atentado  - LUIS ROBAYO / AFP
02.set.2022 - Cristina Kirchner deixa apartamento na Recoleta após atentado Imagem: LUIS ROBAYO / AFP

Do UOL, em São Paulo

02/09/2022 23h50

Em depoimento prestado a autoridades, a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, disse não ter percebido que um homem apontou uma arma para ela e tentou atirar em seu rosto, segundo informações publicadas pelos jornais La Nación e Clarín. Ela afirmou que só tomou conhecimento do que ocorrera quando estava dentro de sua casa.

Cristina Kirchner deu o depoimento por cerca de 1 hora à juíza María Eugenia Capuchetti e o promotor Carlos Rívolo, na manhã de hoje, em seu apartamento no bairro de Recoleta, em Buenos Aires.

Os seguranças que estavam no local no momento do atentado também prestaram depoimento pela manhã. Eles foram ouvidos como testemunhas, mas não se descarta que no futuro possam mudar de condição e se tornar réus.

Segundo o La Nación, ao todo, 24 testemunhas já prestaram depoimento no caso: boa parte deles, policiais e militantes.

Fernando Sabag Montiel, brasileiro de 35 anos, foi preso na noite de ontem após ameaçar Cristina Kirchner com uma arma. A ação aconteceu por volta das 21 h (horário local), quando a vice-presidente chegava à sua casa, após presidir uma sessão do Senado. O incidente ocorreu na entrada da residência, onde centenas de manifestantes se reuniram nos últimos dias para apoiar a ex-presidente, que passa por um julgamento por suposta corrupção. (Assista ao vídeo abaixo)

Filmagens de TV locais flagraram momento em que Kirchner sai do carro, abaixa a cabeça em meio a uma aglomeração de apoiadores e um homem se aproxima a pouco mais de um metro de distância, com aparente arma em punho. Segundo o canal de televisão argentino C5N, a arma parece ter falhado, o que impediu de atingir a vice-presidente com disparo.

Segundo a mídia local, o homem usava uma pistola calibre .380 e havia balas em seu carregador.

Após ser detido, o brasileiro foi transferido para a sede da Polícia Federal em Villa Lugano e ficou à disposição da juíza María Eugenia Capuchetti.

O ministro de Segurança argentino, Aníbal Fernández, confirmou que o suspeito foi preso por policiais federais que fazem a custódia da vice-presidente. Após a ameaça, a arma foi encontrada, apreendida e já está com a polícia científica para ser analisada, explicou Fernández.

Em pronunciamento realizada em cadeia nacional, o presidente argentino Alberto Fernández lamentou o ocorrido e disse que discursos de ódio não podem mais ter lugar. Fernández decretou feriado nacional em toda a Argentina nesta sexta-feira.

Isso é um fato de enorme gravidade. Um homem apontou uma arma de fogo por sua cabeça. Cristina permanece com vida. A arma que contava com cinco balas não se disparou. Este atentado merece o repúdio da sociedade argentina. Estes fatos afetam a nossa democracia. Discursos que promovem o ódio não podem ter lugar. Se atentou contra a nossa vice-presidente e a nossa paz social se vê alterada. Alberto Fernández, presidente da Argentina

Cristina Kirchner deixou pela primeira vez o seu apartamento no bairro de Recoleta, em Buenos Aires, quase 19 horas depois de sofrer um atentado, sob forte esquema de segurança e em meio a comoção nacional.

Sorridente, Cristina cumprimentou os apoiadores que estavam no local e entrou em um carro preto —um Toyota Hilux. Mais cedo, ela se reuniu durante 45 minutos com o presidente Alberto Fernández.

Quem é o suspeito?

O suspeito de apontar a arma para a cabeça da vice-presidente foi identificado como Fernando Andrés Sabag Montiel, brasileiro de 35 anos. Segundo o jornal Clarín, Sabag Montiel está na Argentina desde 1993 e trabalhava como motorista de aplicativos.

De acordo com informações da polícia, a partir das redes sociais de Montiel, ele possui tatuagens com símbolos nazistas.

Nas suas redes sociais, que foram tiradas do ar na madrugada, ele se identificava como Fernando 'Salim' Montiel e era seguidor de grupos como 'comunismo satânico', entre outros 'ligados ao radicalismo e ao ódio', como definiu o portal do jornal La Nación, de Buenos Aires.

As fotos de Montiel estão em destaque nos portais de notícias e nas emissoras de televisão da Argentina, que recordam ainda uma aparição recente feita por ele em uma reportagem realizada pela Crónica TV nas ruas de Buenos Aires. "O que ajuda é sair para trabalhar", diz diante da câmera.

Montiel tinha antecedentes por porte de armas não convencionais, datado de 17 de março de 2021. Na ocasião, ainda de acordo com a publicação, o policial percebeu que um veículo estacionado —um chevrolet prisma preto— estava sem a placa traseira. Quando Sabag Montiel abriu a porta do motorista para buscar a documentação, uma faca de 35 centímetros de comprimento teria caído. Ele, porém, argumentou que estava carregando a arma para se defender.