Putin controla crise, mas Ucrânia ganha com enfraquecimento de mercenários
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, conseguiu controlar rapidamente o motim das tropas mercenárias que ontem chegaram a avançar em comboio à capital russa, mas a insurreição terminou com o Grupo Wagner rachado e longe do front por um dia, em vitória momentânea do presidente ucraniano Volodymyr Zelensky.
A análise é de professores de relações internacionais que conversaram com o UOL.
O que dizem os analistas?
Acordo por meio de Belarus foi fundamental para controlar o motim. Depois de Putin chamar o líder do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, de traidor, "seria difícil negociar diretamente com ele", diz o professor Leonardo Paz, da FGV (Fundação Getúlio Vargas). "Foi inteligente deixar o aliado presidente de Belarus, Alexander Lukashenko, negociar a anistia do grupo e exílio de Prigozhin porque ele resolveu o problema em 12 horas."
Sem o desvio de atenção para a disputa interna, o foco se volta para a Ucrânia. A rápida negociação permitiu a Putin resolver o motim para voltar suas energias contra a Ucrânia. "Ele tem de se concentrar na guerra e não ficar alimentando querelas internas", diz o professsor Ronaldo Carmona, da Escola Superior De Guerra.
Rússia se reorganiza. Apesar da surpresa do motim, Putin já iniciou a reorganização de seu exército no front. "O chefe da insurreição foi exilado em Belarus sem derramamento expressivo de sangue do exército russo", diz Fabricio Pontin, professor da Universidade LaSalle.
Impacto na guerra contra a Ucrânia
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, também ganha. Carmona diz que as posições russas no front estão consolidadas, mas o episódio coloca dúvidas sobre a harmonia entre os aliados de Putin, em benefício aparente ao presidente ucraniano. Além de explorar a crise na mídia, Zelensky pode se aproveitar da saída dos mercenários para tentar uma resposta militar, uma vez que "a guerra vivia um impasse estratégico, sem grandes resultados na prometida contraofensiva ucraniana".
Rússia perde força sem mercenários. A confusão tirou o Grupo Wagner do front, uma peça importante do xadrez russo. "Zelenky ganha com isso, mas ganharia mais se o impasse se estendesse por muito tempo na Rússia, permitindo uma resposta ucraniana, que até agora vai a lugar algum", diz Paz.
Seria bom para a contraofensiva se os mercenários saíssem da guerra porque o grupo é formado por veteranos, que já entendem o campo de batalha e precisariam ser substituídos por jovens soldados."
Leonardo Paz, professor de relações internacionais
Instabilidade na Rússia pode motivar Putin a elevar tom contra Ucrânia. Pontin diz que os mercenários são a "ponta de lança" da Rússia na guerra, mas "parou a ofensiva por um dia". "Com certeza esse dia fora do front foi bom para o Zelensky se organizar para avançar, mas a instabilidade política na Rússia é boa para a Ucrânia?", quesiona.
O que Putin pode fazer num momento de fragilidade? Se já era importante ele conquistar na Ucrânia, agora é mais ainda."
Fabrício Pontin, professor de relações internacionais
O que acontece agora?
Apesar da aparente resolução da crise, "não dá para se iludir", diz Pontin. "O que ouvimos é que os mercenários estão divididos, alguns se sentindo traídos por Prigozhin. A gente não sabe se eles voltam mesmo para o campo de batalha e como voltam", afirma.
Para Carmona, as posições russas alcançadas em 16 meses de guerra "são sólidas" porque controlam os territórios de maioria russa. "Putin domina o mar de Azov e quase a totalidade do Mar Negro", afirma. "Militarmente, a Rússia tem atingido seus objetivos."
Crise interna sob controle. Internamente, a possibilidade de arrumação russa "é grande". "Putin já sabe que tem de ficar mais atento para não ser pego de surpresa, e as chances de guerra civil tende a zero agora", diz Paz.
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