Putin anuncia recuo de grupo Wagner: 'chantagem e motim não funcionam'
O presidente russo Vladimir Putin afirmou hoje, em pronunciamento no Kremlin, que o grupo mercenário Wagner recuou de um motim armado em curso desde a última sexta-feira (23), horário de Brasília, na Rússia, e prometeu levar os envolvidos à Justiça.
O que disse Putin:
Putin declarou que chantagens e motins não funcionam na Rússia e falharam mais uma vez. "Isso foi uma atividade criminosa e uma ameaça colossal. Alguns dos organizadores traíram as pessoas dragadas para a própria organização", disse.
O presidente russo destacou que o grupo de mercenários queria que a sociedade russa fosse fragmentada. "Tentaram se vingar por falharem na linha de frente, mas não tiveram sucesso."
Ele agradeceu aos comandantes e soldados do grupo Wagner que se renderam para evitar derramamento de sangue.
O presidente russo disse ainda que honrará sua promessa de permitir que os combatentes do Wagner se realoquem para Belarus, se assim desejarem, ou assinem um contrato com o Ministério da Defesa da Rússia ou simplesmente retornem às suas famílias. Ele não mencionou o chefe dos mercenários, Yevgeny Prigozhin, que liderou o motim.
Putin agradeceu o presidente de Belarus, Aleksandr Lukashenko, por seu apoio para resolver o levante e sua contribuição para um "desfecho pacífico" que evitou um "banho de sangue". O presidente também agradeceu aos russos pelo "patriotismo" durante rebelião do grupo paramilitar.
Os organizadores desse motim traíram o seu país, seu povo, traíram aqueles que acabaram levando para a cena do crime. Eles mentiram para eles, os empurraram para a morte sob fogo, para atirar contra seu próprio povo.
Vladimir Putin, presidente russo
Mercenários ainda insatisfeitos
O ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, foi um dos alvos de insatisfação durante o motim imposto pelo Grupo Wagner, quando os paramilitares assumiram o controle do quartel-general militar ao sul do país.
Prigozhin, líder dos mercenários, acusou Shoigu e Valery Gerasimov, o chefe do Estado-Maior, de incompetência e corrupção. Por isso, exigiu que os dois fossem entregues ao grupo para que a justiça fosse restaurada.
Apesar da reaparição de Shoigu, Gerasimov não foi mais visto em público desde a oficialização do acordo entre o Kremlin e os mercenários para o fim da rebelião, ocorrido no último sábado (24).
Origem do grupo
Fundado em 2014, o Grupo Wagner reúne mercenários desde muito antes da guerra na Ucrânia. A maior parte dos primeiros integrantes era formada por ex-soldados de elite.
Prigozhin expandiu sua estratégia de recrutamento, aliciando prisioneiros civis e russos, além de estrangeiros.
A Constituição russa não permite o estabelecimento de empresas militares privadas, mas há brechas que acabam deixando que o grupo opere.
Grupo Wagner tem atuação intercontinental. Embora não seja possível rastrear com exatidão as operações, estima-se que o grupo mercenário atue em cerca de 30 países em todo o mundo, incluindo Síria e Mali, segundo a Deutsche Welle.
Como o grupo é financiado
O grupo faturou US$ 250 milhões em quatro anos, oferecendo serviços de segurança a países africanos e do Oriente Médio que passaram por guerras, segundo o Financial Times. Os valores teriam sido pagos por meio de recursos naturais destas nações.
A empresa teria recebido 25% das receitas de campos de petróleo e gás retomados pelo governo sírio, após ajudar o regime de Bashar al-Assad a combater rebeldes e o Estado Islâmico.
Pagamento pelos serviços de mercenários que frearam uma tentativa de golpe teria resultado no controle de minas de ouro e diamante na República Centro-Africana. No Sudão, empresas ligadas a Prigozhin também controlariam plantas para processamento de ouro, segundo o The New York Times.
Na Rússia, as receitas do grupo viriam de contratos com o próprio governo, de acordo com um relatório do governo do Reino Unido. Entre 2011 e 2019, empresas ligadas a Prigozhin teriam recebido pelo menos US$ 3 bilhões.
*Com AFP, Reuters e Deutsche Welle
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