O que é o Hamas? Conheça origem, significado, objetivos e quem financia

O Hamas (Movimento da Resistência Islâmica) é um dos grupos considerados extremistas que se opõem à existência de Israel, Estado estabelecido após o término da Segunda Guerra Mundial com o objetivo de abrigar a população judaica.

A história do Hamas e sua ideologia

O Hamas teve sua origem em 1987 durante a primeira Intifada, ou levante palestino, e se tornou um dos grupos mais extremistas no Oriente Médio.

A sua carta fundadora, datada de 1988, não reconhece a existência de Israel e exige a destruição do Estado judeu. O seu emblema apresenta o Domo da Rocha de Jerusalém e, entre bandeiras palestinas, o contorno de um Estado palestino que inclui também Israel.

Ao contrário de grupos militantes palestinos anteriores, como a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que adotavam o nacionalismo palestino ou árabe como ideologia, o Hamas é principalmente motivado pelo radicalismo islâmico e busca estabelecer um Estado muçulmano em todas as terras habitadas por palestinos, incluindo o território israelense.

As raízes ideológicas do grupo remontam à Irmandade Muçulmana, um movimento fundado no Egito na década de 1920, que influenciou diversos grupos radicais, incluindo a rede terrorista Al-Qaeda.

Além de suas atividades armadas, o Hamas possui um braço de serviços sociais chamado Dawah, que gerencia escolas, orfanatos, restaurantes populares e clubes esportivos, principalmente na Faixa de Gaza, um enclave densamente povoado e empobrecido habitado por palestinos ao sul de Israel.

Enquanto a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), liderada por Yasser Arafat, selou uma frágil paz com Israel em 1993 no âmbito do Processo de Oslo, encerrando a primeira Intifada, o Hamas não reconheceu esse acordo e continuou a realizar ataques em território israelense.

Nas eleições de 2006 na Faixa de Gaza, o Hamas obteve uma maioria absoluta, consolidada um ano depois por uma espécie de golpe de Estado que expulsou políticos palestinos moderados do enclave.

Desde então, não foram realizadas novas eleições em Gaza, com o Hamas exercendo domínio absoluto na região. Além disso, o território passou a enfrentar um rigoroso bloqueio econômico por parte de Israel. Segundo organizações de direitos humanos, o Hamas também implementou medidas islâmicas radicais na Faixa de Gaza, incluindo a imposição do uso do véu pelas mulheres e a repressão a outras religiões.

Continua após a publicidade

Após o golpe, os territórios palestinos encontram-se divididos tanto geograficamente quanto politicamente. Na Cisjordânia, o partido Al Fatah, liderado por Mahmud Abbas, governa a região. Enquanto isso, em Gaza, o Hamas continua a lançar ataques contra Israel, que eles descrevem como "legítima defesa." O grupo esteve envolvido em cinco conflitos intensos com as Forças Armadas israelenses, ocorrendo em 2008/2009, 2012, 2014, 2021 e agora em 2023. Durante essas campanhas, o Hamas utilizou ataques suicidas e mísseis contra Israel.

Principais figuras

O Hamas teve liderança de figuras como Abdel Aziz al-Rantissi, Mahmmoud Zahar, Ismail Hanieh e Ismail Shanab, que eram, em sua maioria, profissionais da área médica e com formação acadêmica avançada.

O nome de Al-Rantissi ganhou destaque recentemente quando Israel anunciou a morte de sua viúva, Jamila Abdallah Taha al-Shanti, em um ataque aéreo. Nascida na Faixa de Gaza, ela era professora. Al-Rantissi, que também era médico e uma figura política proeminente na Palestina, assumiu a liderança do Hamas em certo momento, mas foi morto em abril de 2004, também em um ataque de míssil israelense.

Mahmmoud Zahar, outro membro do grupo, tem uma formação médica, atuando como cirurgião. Ele foi preso por Israel em 1988 e sobreviveu a uma tentativa de assassinato em 2003, mas seu filho mais velho foi morto.

Ahmed Yassin era considerado o líder espiritual do Hamas e foi assassinado em 22 de março de 2004. Sua morte provocou revolta na população palestina, que prometeu vingança contra Israel. Yassin desempenhava um papel central na convocação de seguidores do grupo para realizar ataques terroristas suicidas contra alvos judeus.

Continua após a publicidade

O Hamas foi designado como organização terrorista pela União Europeia após um ataque ocorrido em Jerusalém em agosto de 2003, no qual centenas de civis israelenses foram mortos.

O Hamas é considerado o segundo maior movimento de guerrilha palestina em oposição a Israel, ficando atrás apenas do Fatah. O grupo também é conhecido por desempenhar um papel assistencial e filantrópico em algumas regiões da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, auxiliando algumas famílias em necessidade.

Classificação no âmbito internacional

O Hamas é designado como uma organização terrorista por vários países, incluindo Israel, Estados Unidos, Canadá, Japão, Reino Unido e todos os países membros da União Europeia. No entanto, o grupo não é classificado dessa forma pela China, Rússia e Brasil.

Outros países, como Noruega e Suíça, evitam essa classificação, citando o princípio da neutralidade, e mantêm contatos com o grupo atuando como mediadores em conflitos. A Nova Zelândia classifica apenas o braço militar do Hamas, os Batalhões do Mártir Izz ad-Din al-Qassam, como uma organização terrorista.

Relação com Irã e Qatar

Entre os apoiadores do Hamas estão o Irã, a Síria e o Qatar. O Qatar é um dos principais financiadores e aliados estrangeiros do Hamas, chegando a pagar os salários de funcionários de organizações civis do grupo. Em 2012, seu emir foi o primeiro chefe de Estado a visitar a liderança do grupo islâmico em Gaza.

Continua após a publicidade

Outro importante apoiador do Hamas é o regime fundamentalista islâmico do Irã, que, nos anos 2000, passou a ser responsável por cerca de um quarto do orçamento do Hamas. Parte desse apoio financeiro era canalizado por meio do grupo radical Hezbollah, com sede no Líbano e também apoiado pelo Irã. No entanto, as sanções impostas contra o Irã no final dos anos 2000 dificultaram o envio de dinheiro, levando o Hamas a depender mais de doadores do Qatar e da Arábia Saudita.

No início do conflito entre o Hamas e Israel, em outubro, o conselheiro da máxima autoridade do Irã, o aiatolá Ali Khamenei, Rahim Safavi, afirmou que Teerã apoiará os palestinos "até a libertação de Jerusalém". Safavi parabenizou os membros do Hamas e assegurou o apoio do Irã ao grupo. O Qatar, também no início do conflito, pediu aos palestinos e a Israel que demonstrem "máxima contenção", mas responsabilizou "exclusivamente Israel" pela nova escalada de atos violentos.

*Com informações da Deutsche Welle

Deixe seu comentário

Só para assinantes