Casal vende máscara rara e descobre que era 'mais rara que um Da Vinci'

Uma máscara histórica do Gabão está causando polêmica na França. O artefato foi produzido no século 19, vendido por um casal de idosos a 150 euros (cerca de R$ 786) e leiloado por 4,2 milhões de euros (cerca de R$ 22 milhões) no ano passado, em meio a protestos de que ela fosse devolvida ao seu país de origem. Agora, tanto o casal quanto o governo do Gabão foram à Justiça para defender seus interesses sobre a peça rara.

A história começou quando um casal francês — cuja identidade não foi revelada — decidiu vender a casa de veraneio na cidade de Ailès, no sul da França. Ao esvaziar o local, eles encontraram a máscara esculpida em madeira no sótão.

Segundo o jornal britânico The Guardian, o artefato pertencia ao avô do proprietário, René-Victor Edward Maurice Fournier, que foi um governador colonial francês. A peça havia sido trazida por volta de 1917 para a França em circunstâncias desconhecidas.

Para se desfazer dos objetos, o casal contatou um comerciante que comprou a máscara por 150 euros, cerca de R$ 950 na época.

Alguns meses depois eles perceberam que haviam feito um mau negócio. Ao ver uma reportagem, o casal descobriu que a máscara era, na verdade, uma peça rara e valiosa do povo Fang do Gabão — e que estava sendo anunciada em um leilão por um lance inicial de 300 mil euros.

Na época, especialistas de arte afirmaram que ela era "mais raro que uma pintura de Leonardo da Vinci", já que existem apenas cerca de dez máscaras desse tipo no mundo.

O leilão

Em março de 2022, o leilão finalmente aconteceu em Montpellier. A peça foi vendida por 4,2 milhões de euros, cerca de R$ 22 milhões na época. O evento contou com protestos de ativistas que pediam a repatriação da peça.

"Vamos fazer uma denúncia. Para os nossos, meus ancestrais, da comunidade Fang, vamos recuperar esse objeto", um "ativo colonial adquirido ilegalmente", disse um dos presentes à época. Ele e outras dezenas de manifestantes foram escoltados para fora do evento, que contava com outras peças africanas.

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Mas as disputas não pararam por aí. O casal de aposentados, sentindo-se enganados, apresentou uma queixa na Justiça francesa contra o comerciante que comprou a máscara, alegando terem sido lesados com o negócio.

Uma disputa em curso

A primeira audiência sobre o caso ocorreu ontem, em Ailès. De um lado, as partes que representam os aposentados, defendendo que os descendentes deveriam receber os lucros da venda. Do outro, o governo do Gabão, que exige a suspensão do negócio e a repatriação da peça. O comprador em posse da máscara, no entanto, não é visto desde o leilão.

"É preciso ter boa fé e honestidade; os meus clientes nunca teriam desistido desta máscara por esse preço se soubessem que era um objeto extremamente raro", disse o advogado da família do casal, Frédéric Mansat Jaffré, segundo o "The Guardian".

"Ninguém pode realmente acreditar que o povo gabonês deu espontaneamente esta máscara de valor imensurável a algum governador que passava como um presente de boas-vindas", afirmou o advogado que representa o Gabão, Jean-Christophe Bessy.

Já os representantes do comerciante que comprou a máscara por 150 euros insistem que ele não tinha conhecimento sobre o valor da peça.

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A decisão judicial sobre o caso deve ocorrer em dezembro.

*Com informações da RFI e AFP

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Diferentemente do que afirmou o título da primeira versão deste texto, o casal vendeu a máscara, não comprou.

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