Lula tenta evitar conflito entre Venezuela e Guiana, mas não tem 'Plano B'
O governo Lula tem agido para tentar impedir a escalada da crise entre Venezuela e Guiana, mas não sabe o que fazer caso "o pior aconteça".
O que acontece
Fontes do governo brasileiro dizem acreditar no diálogo, mas admitem que Lula está em uma sinuca de bico e não tem um plano B em caso de possível conflito.
Lula não pretende incentivar a ofensiva do presidente venezuelano Nicolás Maduro, mas também não sabe o que fazer se o aliado seguir com a ideia e decidir, por fim, invadir o vizinho.
O presidente brasileiro tem acompanhado o litígio com atenção. Representantes do governo brasileiro têm conversado com lideranças dos dois países em busca de acalmar os ânimos.
Busca por saída diplomática
O governo brasileiro descarta a possibilidade de guerra na região no momento e não vê o acirramento militar como algo mais provável. Por outro lado, também reconhece que, a qualquer sinal de crise, o Brasil - país mais poderoso da região - não pode se mostrar indiferente.
No final de novembro, o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial para Assuntos Internacionais de Lula, foi a Caracas conversar com Maduro. Ele pediu para que o venezuelano maneirasse no tom e pensasse em uma solução diferente do referendo, que impusesse uma solução externa ao país vizinho.
Na última quinta (30), Lula se encontrou com o presidente da Guiana, Irfaan Ali, nos Emirados Árabes. O líder vizinho pediu que o colega intercedesse junto ao aliado bolivariano, e o petista o tranquilizou, argumentando que o litígio será resolvido por meio da diplomacia.
Referendo está marcado
O presidente venezuelano Nicolas Maduro, aliado de Lula, fará um "referendo consultivo" amanhã (3) para estabelecer se reconhece a região de Essequibo, rica em petróleo, como pertencente ao país. A área de 160.000 km² foi declarada guianesa em um tratado de 1899.
Ontem (1º), a Corte Internacional de Haia concordou com o argumento guianês e concedeu liminar contra o referendo de Maduro —o problema é que uma das cinco perguntas é se a Venezuela deve reconhecer a jurisdição do tribunal internacional.
Problemas com Mercosul
O desentendimento entre vizinhos acontece em um momento no qual Lula gostaria de dar um destaque mais positivo para a região. Nesta semana, o Brasil sediará o encontro do Mercosul no Rio de Janeiro, em meio a uma tentativa de acordo comercial histórico com a União Europeia. O governo brasileiro, que preside o bloco, faz força para que a Venezuela volte ao grupo, mas entende as ameaças de conflito são um empecilho —o que dirá a prática.
Também é esperado que isso se torne pauta no encontro regional e Lula seja mais uma vez cobrado pelo apoio ao vizinho. Em maio, o presidente uruguaio Luis Lacalle Pou criticou a fala do petista de que "o que ocorre na Venezuela é uma narrativa".
Preparação militar
Enquanto o governo acredita na solução por meio do diálogo, as Forças Armadas brasileiras se movimentam para reforçar o contingente na fronteira. Segundo o Exército, foram deslocados 60 militares para a região de Pacaraima, em Roraima, para "atender, em melhores condições, à missão de vigilância e proteção do território nacional".
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Quero receber"As movimentações de tropas fazem parte do adestramento avançado da 1ª Brigada de Infantaria de Selva, visando manter a prontidão e eficiência operacional da Força Terrestre", informou o Centro de Comunicação do Exército, em resposta ao UOL.
A reportagem procurou ainda o Ministério das Relações Exteriores para saber das últimas ações realizadas e como o Itamaraty se posiciona oficialmente, mas não teve retorno até o fechamento da matéria.
Qual é o embate?
O referendo proposto por Maduro questiona se a Sentença Arbitral de 1899, que estabeleceu a fronteira entre a Venezuela e a então Guiana Britânica, deve seguir confirmada como legalmente aplicável.
Com a rejeição do tratado, para a Venezuela, a área de 160.000 km² viraria o estado venezuelano de "Guiana Essequiba", com nacionalização dos seus 125.000 habitantes e dos recursos naturais. A região é rica em gás natural e petróleo, em especial na região marítima.
A Guiana, que administra essa região, rejeitou a iniciativa venezuelana, classificando-a de "ameaça".
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