Conteúdo publicado há 27 dias

Britânicos devem eleger trabalhista após 14 anos de conservadores; conheça

Pela primeira vez em 14 anos, os britânicos devem escolher um membro do Partido Trabalhista para ser o primeiro-ministro do Reino Unido. Com isso, Keir Starmer deve passar a ocupar o cargo.

Quem é Keir Starmer?

Líder da oposição desde 2020. Starmer se tornou presidente do Partido Trabalhista após a maior derrota eleitoral dos trabalhistas desde 1935. Em 2019, os conservadores obtiveram vantagem de 80 cadeiras no Parlamento britânico.

Entrou na política em 2015. Starmer foi eleito parlamentar pelo distrito eleitoral de St. Holborn & Pancras, cargo que ocupa até hoje. No mesmo ano, seu nome foi cotado para assumir a presidência do Partido Trabalhista, mas ele alegou "inexperiência". No ano seguinte, se tornou Porta-voz da Oposição para Assuntos do Interior e dialogou diretamente com os conservadores sobre o projeto do Brexit.

Filho de operário e enfermeira. Starmer cresceu na pequena cidade de Oxted, na Inglaterra, e foi o primeiro da família e completar um curso superior. Ele se formou em direito na Universidade de Leeds em 1987 e "passou muito tempo prestando aconselhamento jurídico gratuito, defendendo as pessoas comuns contra os poderosos", segundo o Partido Trabalhista.

Relação com o socialismo. Seus pais, que sempre apoiaram o Partido Trabalhista, o inscreveram no grupo da Juventude Socialista do partido na sua adolescência. Nos anos 80 e 90, Starmer escreveu colunas para as revistas de esquerda "Socialist Alternatives" e "Socialist Lawyer". Em entrevistas, afirmou que "é um socialista" e que sua política é motivada por "um desejo ardente de combater a desigualdade e a injustiça".

Ideologia é chamada de "Starmerismo". Ideias políticas e objetivos procurados pelo trabalhista foram chamados de "starmerismo", o que o próprio definiu em uma entrevista à revista Time como "o reconhecimento que a economia do Reino Unido precisa ser consertada. O reconhecimento que resolver a crise climática não é apenas uma obrigação, é a maior oportunidade que temos para o futuro do nosso país. O reconhecimento que os serviços públicos precisam ser reformados, que todas as crianças e todos os britânicos devem ter as melhores oportunidades e que precisamos de um ambiente seguro, de ruas seguras, etc."

Trabalhista tem título de Cavaleiro, dado pela rainha Elizabeth. A honra foi aplicada em 2014, pelo trabalho realizado por Starmer enquanto Diretor de Acusações Públicas, cargo jurídico-legal responsável por lidar com todas as indiciações do país.

"Mudei o Partido Trabalhista em definitivo", diz Starmer. Em recente entrevista à BBC, ele afirmou que os britânicos podem confiar nele, e afirmou que é alguém que "sempre coloca o país em primeiro lugar e o partido em segundo". "Trabalhei quatro anos e meio para mudar este Partido Trabalhista e agora tenho a oportunidade de levar isso para o país", complementou.

Cenário é negativo para conservadores

Pesquisas mostram ampla vantagem dos Trabalhistas. Um levantamento feito pela emissora britânica BBC coloca o Partido Trabalhista com 45% das intenções de voto, contra 23% do Partido Conservador, segundo dados compilados até 24 de maio. Hoje, a maioria dos analistas vê como muito improvável uma vitória do atual primeiro-ministro Rishi Sunak sobre Keir Starmer nas eleições de 4 de julho. "Se tivesse uma virada, seria histórica, mesmo", diz ao UOL Kai Enno Lehmann, professor do IRI-USP (Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo).

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Economia melhorou, mas perspectivas são pessimistas. A convocação das eleições gerais veio horas após o anúncio de que a inflação em 12 meses desacelerou para 2,3% em abril, o nível mais baixo em quase três anos. Lehmann reforça, porém, que "o pior ainda está por vir" — principalmente a partir de outubro, com a implementação de novas regras do Brexit para importação. "Imagino que a gente vá ter falta de produtos, então há um interesse político em deixar esse problema para o Partido Trabalhista resolver", analisa.

Brexit: de trunfo a 'desastre'

Saída da UE foi aprovada em plebiscito em 2016. Na ocasião, 52% dos eleitores — cerca de 17,4 milhões de pessoas — de Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte votaram a favor do Brexit, acreditando no argumento de que a União Europeia prejudicava a soberania dos países do Reino Unido. A vitória levou à renúncia de David Cameron, que era contra a saída. O então primeiro-ministro foi substituído por Theresa May.

Brexit demorou mais de três anos para sair do papel. Embora tivesse defendido a permanência do Reino Unido na UE, May liderou o acordo de saída, tendo falhado três vezes em aprovar o Brexit no Parlamento britânico. Em 2019, após os sucessivos fracassos e pressões dentro do próprio Partido Conservador, a primeira-ministra deixou o cargo e deu lugar a Boris Johnson. Ele foi alçado à posição sob a promessa de concretizar o Brexit o mais rápido possível, o que aconteceu em janeiro de 2020.

Desde então, economia do Reino Unido patinou. O principal argumento dos Conservadores era de que, com o Brexit, o Reino Unido estaria livre das amarras da UE e poderia fechar acordos comerciais com outros países. Na prática, aconteceu o contrário: os custos de vida e dos negócios subiram, a burocracia aumentou e a parte da mão de obra estrangeira deixou o país. Em 2019, o PIB (Produto Interno Bruto) britânico cresceu 1,6%, de acordo com dados oficiais; em 2023, a expansão foi de 0,1%.

Convencer eleitores de que o Brexit falhou é 'desafio'... Klaus Guimarães Dalgaard, da UFSC, explica que muitos dos votos conquistados pelos Conservadores em 2019 foram de eleitores tradicionalmente Trabalhistas que "viraram a casaca" justamente por causa do Brexit. Colocar a saída da UE em xeque agora, portanto, seria arriscado demais para Starmer, caso seja eleito primeiro-ministro. "Eles [favoráveis ao Brexit] fazem parte da base que vai elegê-lo. Ele só teria capital político para tentar algo do tipo em um eventual segundo mandato", diz.

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... Mas tema não é tratado por Conservadores ou Trabalhistas. A campanha eleitoral começa oficialmente em 30 de maio e, ao menos até o momento, nem Sunak e nem Starmer levantaram discussões sobre o Brexit. O primeiro foca em tentar convencer a população de que a economia está próxima a uma reviravolta; o segundo, em contrapartida, aposta principalmente nas promessas de trazer maior estabilidade e reduzir com as filas de espera no NHS, o sistema público de saúde do Reino Unido.

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