Lula cobra taxação de fortunas, cutuca Musk e pede nova globalização na OIT
O presidente Lula (PT) voltou a defender hoje a taxação de fortunas e pediu uma "nova globalização" em discurso na OIT (Organização Internacional do Trabalho), em Genebra, na Suíça.
O que aconteceu
Lula tem feito a cobrança de taxação de super-ricos em quase todos os discursos internacionais. Hoje na OIT, falou que países ricos "têm de pagar a conta", reclamou da concentração de renda e tratou sobre a modernização do mundo de trabalho.
"O Brasil está impulsionando a proposta de taxação dos super-ricos nos debates do G20", disse Lula. Leia aqui a íntegra do discurso.
Sobrou até para Elon Musk, bilionário dono do X (antigo Twitter). "Não precisamos buscar soluções em Marte. É a Terra que precisa do nosso cuidado", cutucou Lula, em referência ao programa especial da SpaceX, do sul-africano. Ele arrancou aplausos e risadas da plateia.
A concentração de renda é tão absurda que alguns indivíduos possuem seus próprios programas espaciais, para não ficar na Terra, no meio dos trabalhadores que são responsáveis pela riqueza deles.
presidente Lula em discurso na OIT
O presidente pediu uma "nova globalização". "Nunca antes o mundo teve tantos bilionários. Estamos falando de 3 mil pessoas que detêm quase US$ 15 trilhões em patrimônio. Isso representa a soma dos PIBs de Japão, Alemanha, Índia e Reino Unido", disse.
Encampada pelo governo, a pauta tem avançado no Brasil. No ano passado, o governo conseguiu emplacar a tributação dos fundos de super-ricos e das offshore, empresas de brasileiros localizadas em paraísos fiscais, sob a justificativa de aumentar a arrecadação.
Como afirmou o papa Francisco, não há democracia com fome, nem desenvolvimento com pobreza, nem justiça na desigualdade. Por isso, aceitei o convite do diretor-geral Gilbert Houngbo da OIT para copresidir a Coalizão Global para a Justiça Social. Ela será instrumental para implementar a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável.
Lula, no OIT
Modernização do trabalho e aumento da informalidade
Ao falar de modernização do trabalho, defendeu direitos trabalhistas e criticou o aumento da informalidade. "Retomamos as políticas de valorização do salário mínimo, de erradicação do trabalho infantil e de combate a formas contemporâneas de escravidão", disse, lembrando também da aliança por trabalho digno com o presidente norte-americano Joe Biden, a quem chamou de "grande aliado".
"As transições energética e digital já impactam trabalhadores de todos os países", continuou Lula. "Nunca a justiça social foi tão crucial para a humanidade."
"As novas gerações não encontram espaço no mercado Muitos não estudam, nem trabalham", lamentou. "Há elevado desalento. Quase 215 milhões - mais do que a população do Brasil - vivem em extrema pobreza mesmo estando empregados. As desigualdades de gênero, raça, orientação sexual e origem geográfica são agravantes desse cenário."
Apesar das projeções da taxa de desemprego mundial para este ano e o próximo apontarem modesta diminuição de 5% para 4,9%, não devemos nos iludir. A informalidade, a precarização e a pobreza são persistentes. O número de pessoas em empregos informais saltou de aproximadamente 1,7 bilhão, em 2005, para 2 bilhões neste ano. A renda do trabalho segue em queda para os menos escolarizados.
presidente Lula, na OIT
Entidades apostam em Lula diante de crise
A presença de Lula na sede da ONU, onde ocorre a conferência da OIT, mobilizou toda a comunidade diplomática. Os chefes da OMS, OMC e de dezenas de delegações se deslocaram para saudar o brasileiro. Um tapete vermelho foi colocado para recebê-lo, na esperança de que seu compromisso com a sobrevivência do sistema ajuda a tirar a ONU da paralisia histórica.
A presença de Lula foi comemorada pelos principais dirigentes dos organismos. Com apoio de sindicatos, da ONU e empregadores, Gilbert Houngbo, diretor-geral da OIT, disse que a coalização brasileira é a "prova de que o multilateralismo" pode dar respostas aos desafios atuais.
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Quero receberNavid Hanif, vice-secretário-geral da ONU, lembrou da presença de Nelson Mandela na OIT, há décadas, e defendeu o estabelecimento de um "novo contrato social". Para ele, a criação da coalizão que tem Lula como co-presidente é "o compromisso de que haja justiça social, a pedra fundamental da paz".
"A pobreza em alguma parte é ameaça para a prosperidade para todos", disse Hanif. Segundo ele, desafios que podem parecer impossível de ser superado - como clima e desigualdade - devem ser lidados com justiça social.
Tedros Ghebreyeus, diretor-geral da OMS, também falou de Lula em seu discurso. Ele agradeceu ao brasileiro pelo compromisso por justiça social e pela luta contra fome e pobreza. "Muito obrigado", disse em português.
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