Eleições americanas têm quatro candidatos além de Biden e Trump; conheça

Mais quatro candidatos disputam as eleições presidenciais nos Estados Unidos, além de Joe Biden e Donald Trump. As pesquisas indicam uma disputa acirrada entre os dois, que aparecem em empate técnico, mas o partido Democrata estaria pensando em alternativas para substituir Biden após o desempenho ruim no debate de quinta-feira (27).

O que aconteceu

Uma médica, um ambientalista antivacina, um acadêmico e um ativista são os adversários de Biden e Trump. Especialistas avaliam que eles não têm uma chance real de vitória nas eleições, mas podem embaralhar a disputa em estados onde a margem é apertada.

Em 2016, por exemplo, apoiadores da democrata Hillary Clinton culparam Jill Stein por "roubar" votos decisivos em três estados e ajudar a eleger Donald Trump. Naquele ano, ele levou Michigan por 10 mil votos enquanto candidatos da "terceira via" somaram mais de 200 mil votos, quase 6% dos votos válidos.

Candidatos independentes não estão garantidos nas cédulas eleitorais de todos os estados. Eles precisam completar um processo burocrático, que muda conforme cada estado. Nas últimas eleições, o Partido Libertário esteve em todas as urnas, mas o Partido Verde, não.

"Lá não existe TSE, que organiza as regras eleitorais", diz Sérgio Praça, professor de MBAs da FGV. Ele explica que, nos EUA, os processos eleitorais são descentralizados e os candidatos e partidos têm que cumprir requisitos diferentes para ter acesso à votação de cada estado.

Os candidatos também precisar cumprir requisitos mínimos para participar dos debates presidenciais. No último, realizado pela CNN, apenas Trump e Biden se classificaram. A CNN determinou que os participantes deveriam ter pelo menos 15% de intenção de voto em quatro pesquisas eleitorais e se qualificassem para votação em estados suficientes para alcançar o voto de 270 delegados, o mínimo para vencer as eleições.

Na história americana, apenas um candidato independente chegou à Presidência. Em 1789, George Washington recebeu todos os votos do Colégio Eleitoral e se elegeu sem partido político. "As condições históricas eram outras, é claro, mas Washington era abertamente contra a filiação partidária", explicou Vitelio Brustolin, professor de Relações Internacionais da UFF e pesquisador de Harvard.

Mesmo sem muita chance de vitória, os candidatos se lançam nas eleições presidenciais para ganhar espaço na mídia e nas redes sociais, de olho em assentos na Câmara e Senado. Eles também influenciam a opinião política, acrescentou Brustolin. Ele acredita que o sistema bipartidário nos EUA continuará dominando "até que haja uma rejeição popular dos dois principais partidos ou uma divisão oficial em um deles".

Conheça os candidatos deste ano:

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Jill Stein

A médica e ativista concorre pelo Partido Verde, assim como fez em 2012 e 2016. Em sua campanha, Jill defende o acesso universal à saúde, promete combater as mudanças climáticas e defende o aborto e os direitos das pessoas trans.

No cenário com todos os candidatos, Jill tem 2% das intenções de voto, segundo a pesquisa Quinnipiac, de 26 de junho. O professor de Relações Internacionais da ESPM, Roberto Georg Uebel, avalia que Jill não tem muita força política, mas pode incomodar um pouco a candidatura de Biden. "Ela tem cada vez mais adesão entre o eleitorado jovem e descontente com os democratas. Se olhar em retrospecto, Biden tem uma grande rejeição, principalmente porque seu governo foi muito aquém do que prometeu em campanha".

Ele acrescenta que, nos últimos anos, o eleitorado tem demonstrado que está cansado do bipartidarismo, representado por democratas e republicanos. "Ainda não é um sinal vermelho, mas é um alerta. Nas eleições distritais, para senadores, deputados e vereadores, a gente vê desde 2016 uma presença maior de candidatos independentes eleitos".

Robert F. Kennedy Jr.

RFK Jr. é sobrinho do ex-presidente John Fitzgerald Kennedy, que ocupou a Casa Branca de 1961 a 1963. Ex-advogado ambientalista, RFK ficou conhecido por suas opiniões antivacina e por espalhar teorias da conspiração. Ele já comparou a vacinação com um "holocausto" e afirmou que os imunizantes "causam autismo" em crianças, o que é falso.

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Ele tentou lançar sua candidatura pelo partido Democrata, mas não conseguiu apoio suficiente e se declarou um candidato independente. RFK Jr. tenta conseguir votos dos eleitores insatisfeitos.

Mídia norte-americana diz que ele é o candidato independente com melhor desempenho em décadas, com 11% das intenções de voto na pesquisa Quinnipiac. Mesmo assim, especialistas concordam que ele não é uma ameaça real. "Não me surpreenderia ele ter votos de eleitores republicanos que não votam em Trump. Ao contrário do que diz a política clássica, as pessoas votam no candidato e não no partido", diz o professor Uebel.

Especialista diz que RFK Jr. mantém um discurso para chamar atenção. "Ele acaba se colocando como uma espécie de outsider, mas não vejo ele como uma figura que pode mudar o curso das eleições", acrescentou Uebel.

Família Kennedy apoia a candidatura de Joe Biden. Em declaração conjunta, membros da Família Kennedy anunciaram que não apoiariam Robert Kennedy Jr.

Os democratas estão com medo de que eu estrague a eleição do presidente Biden. Os republicanos estão com medo de que eu estrague a eleição do presidente Trump. A verdade é que ambos estão certos.
Robert F. Kennedy Jr. em comício na Filadélfia

Cornel West

O acadêmico de esquerda concorre como independente, após tentar nomeações pelo Partido Popular e Partido Verde. Entre suas propostas está o financiamento para programas de saúde pública e corte no orçamento de defesa dos EUA.

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West é uma figura importante na luta contra o racismo nos EUA e escreveu mais de 20 livros sobre questões de raça, herança africana e democracia. Já foi professor em Yale, Princenton, Harvard e na Universidade de Paris.

Ele já chamou Biden de "criminoso de guerra" e Trump de "fascista". Nas pesquisas, ele aparece com 2% das intenções de voto. Recentemente, Trump elogiou a campanha de Cornel West por tirar votos de Biden.

Chase Oliver

O ativista se lançou candidato pelo Partido Libertário, o terceiro maior dos EUA. Chase Oliver é a pessoa mais jovem a se candidatar nas eleições presidenciais americanas e o único assumidamente gay.

Sua campanha defende o equilíbrio fiscal, o fim do apoio militar a Israel e Ucrânia, o encerramento de todas as bases militares dos EUA no exterior e o fim da pena de morte. Ele tem 1% das intenções de voto, segundo a pesquisa Quinnipiac.

"Ele defende suas ideias de forma muito clara e não tenta disfarçar o discurso, assim como Jill Stein, mas é uma figura com pouca expressão política", explicou o professor Uebel.

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Eu entendo o que é ir ao supermercado com a mesma quantia de dinheiro, mas ver cada vez menos enchendo o carrinho. Essas são coisas das quais Donald Trump e Joe Biden estão tão distantes que simplesmente não conseguem comunicar mais esses valores.
Chase Oliver à BBC Americast

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