O que é o 'Projeto 2025', criticado por Biden e que Trump diz não conhecer

O que é o Projeto 2025

Propostas se apresentam como um 'projeto de transição presidencial'. O documento prevê mudanças em todo o governo americano, especialmente nas políticas econômicas e sociais e na relação entre o governo federal e suas agências. O texto traz planos para criminalizar a pornografia, acabar com a venda de pílulas abortivas, revogar leis ambientais e de mudanças climáticas e tomar controle do Departamento de Justiça e do FBI (equivalente à Polícia Federal brasileira), entre outras sugestões.

Projeto tem quase 900 páginas e começou a ser elaborado há anos. Foi concebido como uma espécie de lista de recomendações para qualquer presidente republicano, não necessariamente Trump. Segundo a CBS News, o texto é uma versão atualizada de um documento publicado em 2015, um ano antes da vitória de Trump sobre a democrata Hillary Clinton. A Heritage Foundation tem compilado propostas conservadoras periodicamente há mais de 40 anos, desde janeiro de 1981.

Alguns dos autores são nomes conhecidos do antigo governo Trump. Russ Vought, que assina o capítulo 2, liderou o Escritório de Gestão e Orçamento nos três últimos anos do mandato republicano. Chris Miller, ex-secretário interino de Defesa, e Roger Severino, ex-diretor do Escritório de Direitos Civis do Departamento de Saúde, escreveram os capítulos 4 e 14. Mesmo assim, Trump insiste em dizer que não sabe nada sobre o Projeto 2025 ou as pessoas nele envolvidas.

Resumo das propostas

Texto propõe restringir a venda e limitar o uso de pílulas abortivas. O manifesto sugere que a FDA - órgão com função semelhante à Anvisa brasileira - revogue a liberação dada há anos à mifepristona e ao misoprostol, medicamentos amplamente utilizados nos EUA como abortivos. Também propõe limitar o uso até a sétima semana de gestação (em vez das atuais dez) e proibir a entrega do remédio pelo correio, sob a justificativa de que isso permite à "indústria do aborto" expandir "muito além das clínicas físicas".

Agenda mira agências federais independentes e servidores públicos. A ideia controversa proposta pelo Projeto 2025 é que toda a burocracia federal, incluindo pastas como o Departamento de Justiça e o Departamento de Comércio, passe a ser controlada diretamente pelo presidente. O documento ainda descreve o FBI como uma "organização inchada, arrogante e cada vez mais sem lei", pede a extinção do Departamento de Educação e prevê a demissão de milhares de servidores.

Também sugere abordagem mais 'criativa e agressiva' contra imigrantes. O plano propõe não apenas terminar a construção de um muro na fronteira com o México, mas também intensificar as operações contra cartéis de drogas, inclusive com o uso de militares da ativa e da Guarda Nacional. Ainda sugere fundir o Departamento de Segurança Interna com outras pastas para expandir o policiamento de fronteira, eliminar os vistos a vítimas de crimes e tráfico humano e aumentar as taxas cobradas aos imigrantes.

Ainda pede o fim da suposta 'guerra contra o petróleo e o gás natural'. O Projeto 2025 prevê cortar os recursos federais para pesquisa e investimento em fontes renováveis, com a substituição das metas de redução de carbono por esforços para aumentar a produção de energia nos EUA. Os autores do texto defendem que a NOAA (Administração Oceânica e Atmosférica Nacional) se tornou "um dos principais impulsionadores da indústria do alarmismo climático" e é prejudicial para a prosperidade do país.

Projeto sugere cortar impostos sobre empresas e renda e 'abolir' o Fed. Os idealizadores do manifesto acreditam que o Federal Reserve (Banco Central dos EUA) "carece tanto de eficácia operacional quanto de independência política" e, por isso, não pode ser responsável por definir as taxas de juros, nem controlar a emissão de moeda. Segundo o documento, um novo governo republicano também deveria voltar a adotar o dólar com lastro em ouro, como era até 1971.

O Projeto 2025 reúne mais de 50 das principais organizações conservadoras da nação que estão juntando forças e se preparando para agir. (...) Este livro é um convite para você, leitor, vir a Washington ou apoiar aqueles que podem. Nosso objetivo é reunir um exército de conservadores alinhados, treinados e preparados para trabalhar desde o primeiro dia para desmontar o Estado.
Paul Dans, diretor do Projeto 2025

O que diz Trump

'Não sei nada sobre o Projeto 2025', escreveu o ex-presidente. "Não faço ideia de quem está por trás disso. Discordo de algumas das coisas que estão dizendo, e algumas das coisas que estão dizendo são absolutamente ridículas e terríveis. Desejo-lhes sorte em qualquer coisa que façam, mas não tenho nada a ver com eles", disse Trump no último dia 5, em publicação na Truth Social. No dia 11, também em sua rede social, o republicano voltou a dizer que "não sabe nada" sobre o documento.

Ao menos 240 pessoas ligadas a Trump contribuíram para o projeto. Uma análise feita pela CNN mostrou que seis ex-secretários de gabinete de Trump ajudaram a escrever ou colaboraram com o manifesto. Quatro embaixadores nomeados pelo ex-presidente também estiveram envolvidos, e cerca de 20 páginas são creditadas ao seu primeiro vice-chefe de gabinete. Procurada pela emissora, a campanha republicana reforçou que Trump apoia apenas o plano de governo de seu partido e acusou os democratas de mentir "porque não têm mais nada a oferecer".

Os Democratas da esquerda radical estão se divertindo, tentando me associar a quaisquer políticas que são divulgadas ou ditas. É pura desinformação por parte deles. A essa altura, depois de todos esses anos, todos sabem como eu penso sobre tudo!
Donald Trump, na Truth Social