Trump está de olho nos minérios da Ucrânia; isso pode afetar o Brasil?
Ler resumo da notícia
O presidente dos EUA, Donald Trump, cobrou US$ 500 bilhões (cerca de R$ 2,88 trilhões) de Kiev pela ajuda militar americana na guerra que o país enfrenta contra a Rússia. Seu objetivo é receber em direitos de exploração dos chamados "minérios de terras raras" da Ucrânia, uma negociação que estaria em fase final, segundo a rede britânica BBC.
Em resposta, Putin também ofereceu seus minérios aos EUA, inclusive aqueles em terras ucranianas ocupadas pelos russos, o que explicaria o interesse americano em articular um acordo e possivelmente colocar um ponto final no conflito entre os dois países.
Que minérios são esses?
Minérios de terras raras são um grupo de 17 metais estratégicos para o setor de alta tecnologia. Eles são importantes para a manufatura de ímãs de alta performance, motores de veículos elétricos, sistemas de mísseis, celulares e outros eletrônicos. Não há substitutos viáveis.
A Ucrânia detém reservas de 22 dos 34 minerais identificados pela União Europeia como críticos, segundo o seu Ministério da Economia. O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky também diz que tem a maior reserva de titânio da Europa, componente essencial para a indústria da aviação comum e espacial, além de reservas de urânio, usado para energia e armas nucleares.
Também é no território ucraniano que fica a maior reserva confirmada de lítio da Europa, com cerca de 500 mil toneladas, segundo o Serviço Geológico. O metal é vital para baterias, cerâmica e vidro. As reservas de grafite do país, um componente-chave para baterias de veículos elétricos e reatores nucleares, representam 20% dos recursos globais.
A Ucrânia também tem a quarta maior reserva de cobre da Europa, de acordo com o Fórum Econômico Mundial. Este metal é essencial para a fabricação de chips utilizados para ferramentas de inteligência artificial.
Por que Trump tornou a Ucrânia prioridade?
Trump está interessado na Ucrânia pelo mesmo motivo que quer anexar a Groenlândia. O presidente dos EUA está de olho no crescimento comercial da China, atualmente o maior produtor destes minérios de terras raras do mundo, com 44 milhões de toneladas. O território independente da Dinamarca tem grandes reservas minerais, assim como a Ucrânia, dona de 5% de todas as reservas destes minerais do planeta, segundo a ONU.
80% dos minerais de terras raras usados na indústria americana vêm da China. A exploração dos solos ucranianos permitiria a Washington uma menor dependência do mercado chinês. Além disso, os produtos americanos feitos destes minérios poderiam ser competitivos em relação aos chineses no mercado.
Trump deu poderes aos empresários das "big techs", com Elon Musk e outros à frente de iniciativas do governo federal. Ele entende que investir no setor de tecnologia garantiria monopólios comerciais e também importante influência geopolítica aos EUA. É importante destacar que Musk é o dono da fabricante de carros elétricos Tesla, da empresa de internet via satélite Starlink e da empresa aeroespacial SpaceX.
O presidente também anunciou o polêmico projeto Stargate, uma iniciativa de US$ 500 bilhões para desenvolver infraestrutura de inteligência artificial nos EUA. Assim, a necessidade de metais mais baratos do que os dos chineses é grande na indústria de tecnologia dos EUA atualmente, como evidenciou o lançamento do chatbot chinês DeepSeek, que custou muito menos do que as IAs já criadas nos EUA.
Minérios também são essenciais para a produção de energia limpa. Segundo a ONU, a demanda por estes elementos deve triplicar até 2030 por este motivo. Mesmo voltando a investir em combustíveis fósseis, como o petróleo, é provável que Trump esteja garantindo que os EUA também se tornem competitivo no mercado "verde".
Brasil pode entrar na mira de Trump?
O Brasil tem a terceira maior reserva de minérios de terras raras do mundo, com cerca de 21 milhões de toneladas. À frente dos brasileiros estão apenas os chineses (44 milhões) e vietnamitas (22 milhões). Por isso, é possível que Trump tenha planos para suas relações comerciais e políticas com o Brasil, até então não totalmente conhecidas após as ameaças de tarifas comerciais.
Elon Musk já esteve no Brasil em 2022, quando a Starlink firmou uma parceria com o governo federal para o fornecimento de internet via satélite para 19 mil escolas. Além disso, sua empresa realizaria o monitoramento da Amazônia, reportou à época a Agência Brasil.
Especialistas acreditam, no entanto, que o empresário estivesse interessado na reserva de lítio brasileira, a sétima maior do mundo. O lítio brasileiro, mais puro, serviria para produzir baterias de melhor qualidade. A maior parte dele está em Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha.
Mas há um desafio: um terço de todos os nossos depósitos de minerais de terras raras, incluindo níquel, está na Amazônia. A área é de difícil exploração e sua preservação é crítica para o controle do aquecimento global e manutenção das reservas indígenas.
Uma parceria comercial entre Brasil e EUA no setor de minérios também seria estratégica para os EUA. O Brasil, como membro dos Brics, é um aliado da China, mas um acordo de exploração mineral poderia aumentar a influência americana em zonas de interesse geopolítico dos asiáticos, apontou um artigo do Centro de Políticas de Energia Global da Universidade de Columbia, em Nova York.
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.