Por ameaça terrorista na França, policiais andam armados fora de serviço

Gabriela Cañas

A sensação de sítio em um país extraordinariamente ameaçado pelo terrorismo se estende pela França depois dos atentados de sexta-feira (13), que deixaram 129 mortos e 350 feridos. A partir desta quinta-feira (19), os policiais podem andar armados mesmo que estejam em folga ou férias. Foi o que decidiu a Direção Geral da Segurança Interna, reagindo a pedidos dos sindicatos policiais.

Na Assembleia Nacional, onde todos os grupos apoiam as medidas de exceção que o governo apresentou, o primeiro-ministro Manuel Valls afirmou que a França está exposta a atentados com armas químicas ou bacteriológicas --apesar do sucesso da polícia no cerco a vários terroristas em Saint-Denis [região parisiense], na quarta-feira (18).

"Não podemos excluir nada. Digo isso com as precauções que se impõem, mas há risco de armas químicas e bacteriológicas", disse Valls nesta manhã. "Estamos diante de uma nova guerra --exterior e interior--, na qual o terror é o primeiro objetivo e a primeira arma."

Mais adiante, Valls disse que a ameaça justifica que "outras liberdades fiquem temporariamente limitadas". Entre as medidas já conhecidas para ampliar a capacidade operacional das forças da ordem durante o estado de exceção, o primeiro-ministro declarou que o governo quer criar uma estrutura para jovens radicalizados e que o retorno à França dos que partiram para fazer a jihad será estritamente controlado.

Os grupos políticos de oposição se mostram muito favoráveis a apoiar os planos do governo. "A premissa mais importante da liberdade é a segurança", lembrou o deputado do grupo Radical Alain Tourret. A Câmara Baixa aprovou hoje as novas condições do estado de exceção que permitem deter os suspeitos em domicílio e incomunicáveis ou fazer cópias dos dados de informática nas batidas, embora estes ainda não façam parte de um processo judicial.

Até a deputada da Frente Nacional Marion Marechal-Le Pen anunciou voto favorável. Para ela, o mais importante é a incomunicabilidade dos suspeitos, mas também pediu um controle efetivo nas fronteiras e que se impeça a entrada maciça de novos habitantes.

Estado de exceção

Em paralelo, os policiais podem a partir de hoje portar armas mesmo que estejam fora de serviço. Por enquanto, essa possibilidade só vigora durante o estado de exceção. Atualmente, policiais só podem portar armas se estiverem dentro dos limites da circunscrição em que trabalham.

"O que queremos é poder portá-las no mínimo nos trajetos cotidianos de casa ao trabalho", explica Christophe Dumont, secretário nacional do Sindicato de Quadros da Segurança Interna.

Na situação atual, os agentes estão autorizados a portar suas armas (e portanto a cartucheira) em qualquer lugar do território francês, mesmo em finais de semana ou em férias. As condições impostas aos policiais são simples: que usem o bracelete que os identifica como agentes de segurança para não assustar os cidadãos caso tenham de entrar em ação.

É provável que também se exija experiência suficiente com armas (um mínimo de horas e treinamento) e que tenham de avisar seus superiores sobre a intenção de levar armas. O diretor da DGSI se reunirá em breve com os sindicatos para definir novas medidas, talvez de caráter permanente.

Por outro lado, a Prefeitura de Paris ampliou até domingo a proibição de organizar manifestações. É uma das possibilidades que oferece o estado de exceção decretado na sexta-feira e que agora, depois do voto do Parlamento, poderá ser ampliado por três meses, até meados de fevereiro.

Tradutor: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Receba notícias do UOL. É grátis!

UOL Newsletter

Para começar e terminar o dia bem informado.

Quero Receber

Veja também

UOL Cursos Online

Todos os cursos