Para reduzir resíduos, criação de galinhas vira moda na área urbana de Paris

Marlène Duretz

  • Charles Dharapak/AP - 11.ago.2013

O aumento nas vendas de galinhas poedeiras nos arredores das grandes cidades confirma o interesse crescente por elas demonstrado por famílias que vivem em meio urbano

Sem nenhuma vergonha, Mounette conta no [fórum sobre a criação de galinhas] forum-poule.com: "Meu marido e meu filho tiram sarro de mim porque eu converso com as galinhas", ela explica. "Eu também converso com as minhas", responde solidário Ramoutcho, que acha até que as galináceas "o ouvem porque elas viram a cabeça". A criação de galinhas em meio urbano, moda que começou nos Estados Unidos, tem encontrado cada vez mais adeptos na França. "As galinhas são animais cativantes e pouco exigentes", explica Pierre-Alain Oudart, responsável pelo setor de aves e roedores da loja de jardinagem e animais Truffaut. Oudart aposta em um volume de vendas de 50 mil galinhas e pintinhos este ano na França, um crescimento de 150% em cinco anos. O mesmo diz a empresa concorrente Jardiland, que teve um aumento de 148% nas vendas de galinhas poedeiras em 2014.

Isabelle mora em uma casa com jardim em Saint-Denis (Seine-Saint-Denis), a dois passos do metrô. Dos quatro pintinhos que ela pegou de uma vizinha no final de 2013, ela precisou primeiro despejar um dos dois galos da "ninhada". Comê-lo? Nem pensar. "Comer os ovos, sim. Matar minhas galinhas, não!", ela exclama, lançando um olhar carinhoso para seu trio. Ela não se cansa das duas visitas que ela lhes faz diariamente, de manhã e à noite. "Não posso fazer carinho neles, é isso que mais me frustra", conta a mulher de 40 e poucos anos.

E por que ter galinhas? Em primeiro lugar, para reduzir seus resíduos. Além disso, é claro, para consumir ovos frescos "como no campo", diz o panfleto da campanha "Adopter la poule attitude", criada em 2014 pela Prefeitura de Châtillon (Hauts-de-Seine). Essa cidade da região de Île-de-France foi a primeira a propor a adoção de galinhas a seus habitantes para reduzir o volume de seu lixo doméstico. A galinha poedeira ingeriria sozinha 150 quilos de resíduos alimentares por ano. "A ideia que se tem normalmente sobre as galinhas em meio urbano é que elas fedem e são barulhentas… Mas se for pensar no latido e na sujeira das calçadas, elas geram bem menos incômodo do que os cachorros", acredita Julien Billiard, encarregado da missão de responsabilidade ambiental e prevenção de resíduos da prefeitura.

As "famílias adotivas" são em sua maior parte casais com filhos, que deixaram Paris para comprar uma casa com jardim no subúrbio. Todos assinaram um compromisso de adoção que menciona o nome de batismo da dupla de galinhas adotadas: Aglaé e Sidonie, Crazy e Horse, ou ainda Cebolinha e Vinagrete... Foram os netos de Dominique que batizaram suas poedeiras, uma galinha vermelha e uma cinzenta: Pitch e Daisy. "Sou do campo. Sinto-me à vontade com elas", explica a sexagenária de Châtillon, aposentada há pouco tempo. "Não é um animal de estimação no sentido em que conhecemos, mas ela reconhece seu dono". Ela, que cuida da alimentação diária das galináceas, diz ainda: "Escolho para elas o que há de melhor. Isso representa entre 120 e 180 gramas de resíduos por dia que deixam de encher minha lixeira".

A alguns quarteirões de lá, vive Nathalie, junto com seu companheiro e dois filhos, "dois cachorros, um porquinho da índia e agora duas galinhas, Costa e Rica". Sua família se candidatou naturalmente. "É um lar convicto do interesse ambiental –a casa possui três composteiras e um minhocário– e próximo dos animais". Tão próximo que "só falta cozinhar massa para alimentá-los", conta Nathalie, que teve de resistir à ideia de colocá-las para dentro de casa neste inverno, por temer que elas passassem frio. "Eu não as coloco no mesmo patamar que meus cães, mas eu as trato com o mesmo respeito", ela diz. Seu único temor é que "essa moda piore a condição desses animais. Sempre existem imbecis que podem colocá-las dentro de uma caixa na sacada!"

Campanhas de adoção

Mouscron, na Bélgica, foi a pioneira na Europa nas campanhas-piloto de adoção de galinhas poedeiras. Pincé (Sarthe), a comunidade de comunas de Podensac (Gironde), Flandre-Lys (Norte e Pas-de-Calais), várias comunas de Doubs e de Vendée também aderiram.

O projeto, elaborado em conjunto com sindicatos locais da coleta e tratamento de resíduos domésticos, consiste em fornecer às famílias voluntárias um kit composto de duas galinhas e um galinheiro, às vezes acompanhados de uma balança para pesar os resíduos com o intuito de avaliar o benefício ambiental.

Alguns dados

Custa de 10 a 28 euros (de R$ 32,40 a R$ 90) para a aquisição de uma galinha pronta para pôr ovos, que pode ser da raça Leghorn, Gâtinaise, Géine de Touraine, Sussex...

Uma galinha começa a pôr ovos por volta dos 5-8 meses e, em criações familiares, pode esperar viver até os 12 anos de idade, segundo Michel Audureau, autor da "Pequena enciclopédia da galinha e do galinheiro". No entanto, deve-se notar que após os 6 ou 8 anos de idade, a galinha não bota mais... mas continua sendo uma bela lixeira para o resíduo de nossas mesas.

Tradutor: UOL

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