As possíveis razões da volta do óleo às praias do Nordeste que já haviam se livrado dele
As manchas de óleo que poluem o Nordeste há um mês e meio podem ter encontrado seu ponto máximo ao sul após poluírem praias de Salvador. Elas deram início a um novo ciclo que vai no sentido contrário, sujando novamente praias de Sergipe, Alagoas e Pernambuco.
"Não estamos detectando manchas ao sul de Salvador. Temos a esperança de que ela esteja contida nessa latitude", disse em audiência no Senado nesta quinta-feira (17/10) o Almirante Alexandre Rabello de Faria, da Marinha do Brasil.
Nesta quinta, por exemplo, novas manchas apareceram no litoral sul de Pernambuco, depois de 31 dias após deixarem o Estado livre do problema. Alagoas e Sergipe voltaram a registrar grandes surgimentos esta semana em áreas que já haviam sido atingidas anteriormente.
Mas qual seria motivo de as manchas "darem a volta" para repoluírem os mesmos lugares por onde o óleo já havia passado?
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apresentaram algumas hipóteses que ajudam a entender o fenômeno. Entre as possíveis causas estão as correntes marítimas, o vento e próprio ciclo natural do oceano.
O professor Rivelino Cavalcante, do Instituto de Ciências do Mar da Universidade Federal do Ceará (UFC), acredita que o retorno das manchas é algo natural, já que o material lançado na areia é recolhido de volta ao oceano na maré alta.
"A maré pega elas de volta e leva mais para frente. É um processo natural, até ela ficar de vez. E isso quando ela encontra pedras, ou uma praia que tenha uma declividade menor, onde ela tende a ficar de vez", explicou.
Segundo Cavalcante, uma das características desse problema é que, quanto mais manchas são lançadas fora da água, "mais elas vão se dispersando e passando de tamanhos grandes para menores".
O oceanógrafo e professor Universidade Federal de Alagoas (Ufal) Claudio Sampaio explica que as correntes marítimas explicam que o óleo tenha chegado novamente a Alagoas e Pernambuco.
"O que observamos é que o petróleo que estava no litoral baiano está sendo transportado pela corrente marítima do Brasil, que tem origem norte-sul. Esse óleo que chegou ontem e hoje no litoral norte de Alagoas provavelmente é fruto de pequenas correntes mais costeiras, que, influenciadas pelo padrão do vento, fizeram com o que esse petróleo que ainda está no mar fosse transportado mais ao norte e chegasse na praia", diz.
Ventos ajudam
Já o professor Humberto Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélite (Lapis) da Ufal, diz que a repetição de locais pode estar ligada ao vento.
Conforme o coordenador, o óleo pode estar sendo arrastado para a costa da Bahia e de Sergipe pelo ventos fortes que estão atingindo a costa e ondas que vêm do sudeste com até 2,5 metros.
"Essa semana tiveram ventos dominantes de sudeste, ou seja, estão soprando na região do Centro-Sul para a região Nordeste", explicou. "Fora da costa o mar continua agitado, com ondas de até 4,5 metros. De fato há uma sinergia entre o aumento de poluição e o aumento de ondas de vento na costa da Alagoas, Bahia e Sergipe", disse.
Barbosa ainda explica que, desde a segunda-feira, o mar ficou agitado na costa da Bahia e em Sergipe após a passagem de um ciclone extratropical pela costa sul do Brasil.
"O ciclone já se afastou em alto mar, e a tendência é a diminuição das ondas no decorrer desta sexta-feira na maioria das áreas do litoral leste no Nordeste", enfatizou. "Com isso, espera-se a diminuição da poluição de óleo que está sendo arrastada de algum ponto na região do Atlântico Sul", acrescentou.
Entretanto, segundo o professor, há uma previsão ventos fortes entre domingo (20) e terça-feira (22) nas costas de Alagoas e Sergipe, o que pode aumentar a concentração de óleo dos dois Estados.
"Como não se sabe a origem do vazamento, o que se tem agora é o impacto da poluição, e ele depende das condições meteorológicas. Os ventos serão determinantes, principalmente quando se desloca do centro-sul do país para cá."
Óleo em Aracaju
Um detalhe que chama atenção foi dado por Romeu Boto, diretor técnico da Administração Estadual do Meio Ambiente (Adema). Ele contou à BBC News Brasil que foi o óleo encontrado em Aracaju durante a manhã desta quinta-feira tem característica de um material mais novo.
"Não conseguimos estabelecer ainda por qual motivo elas estão aparecendo. Algumas delas aparecem em um ponto e o mar leva, e elas aparecem lá na frente. Fica impossível saber sem a origem da fonte", afirmou Romeu.
Ministro diz que não sabe quanto óleo ainda existe
O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sobrevoou o litoral da Bahia e de Alagoas nesta quarta-feira (16) e, em Maceió, afirmou aos jornalistas que não se sabe quanto óleo ainda existe no mar.
"Ao que tudo indica é o mesmo óleo cuja corrente marítima tem feito com que toque na costa e retroceda. Toda vez que toca na costa, nosso objetivo, nosso esforço junto com os Estados e municípios é retirar esse óleo para que ele não volte para o mar", disse Salles.
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