Topo

Alimentos causam quase 30% das emissões do efeito estufa, diz novo estudo

Alister Doyle

Em Oslo

31/10/2012 12h44

A produção de alimentos responde por quase um terço das emissões humanas de gases do efeito estufa, o dobro da estimativa da ONU (Organização das Nações Unidas), segundo estudo publicado nesta quarta-feira (31).

O relatório, intitulado Mudança Climática e Sistemas Alimentares, estima que a produção de alimentos gere de 19% a 29% de todas as emissões humanas. A previsão da ONU era de até 14%. A diferença ocorre porque a ONU avaliou apenas as emissões decorrentes da agricultura, ao passo que a entidade de pesquisas agrícolas CGIAR levou em conta também o desmatamento, a produção de fertilizantes e o transporte dos produtos agrícolas.

"Do ponto de vista alimentar, [a abordagem da ONU] não faz sentido", disse Bruce Campbell, diretor do programa de pesquisas da CGIAR sobre mudança climática, agricultura e segurança alimentar.

Para Campbell, muitos países poderiam fazer uma economia significativa se reduzissem suas emissões. "Há boas razões econômicas para melhorar a eficiência na agricultura, não só para reduzir as emissões de gases do efeito estufa."

A China, por exemplo, poderia diminuir fortemente suas emissões se melhorasse a eficiência na fabricação de fertilizantes. No Reino Unido, seria mais vantajoso consumir carne de cordeiro importada de fazendas mais eficientes na Nova Zelândia, em vez de criar seus próprios animais.

Outra recomendação do relatório é para que o mundo altere sua dieta, dando preferência ao vegetarianismo. O cultivo de alimentos para vacas, porcos e ovelhas ocupa muito mais terras e emite mais gases do efeito estufa do que a manutenção de lavouras para consumo humano.

Produção agrícola

Outro relatório da entidade indica que a mudança climática deve reduzir nas próximas décadas a produtividade de três produtos agrícolas que mais fornecem calorias à humanidade nos países em desenvolvimento: milho, trigo e arroz .

Isso obrigaria alguns agricultores a optarem por cultivos mais tolerantes a calor, inundações e secas, segundo o segundo relatório, intitulado Recalibrando a Produção Alimentar no Mundo em Desenvolvimento. Cultivos mais resistentes, como inhame, cevada, feijão-fradinho, milheto, lentilha, mandioca e banana, podem preencher o espaço deixado por produtos mais sensíveis.

"Os sistemas agrícolas mundiais enfrentam uma árdua luta para alimentar projetados 9 a 10 bilhões de pessoas em 2050. A mudança climática introduz um obstáculo significativo pra essa luta", disse o texto. A população mundial atualmente está um pouco acima dos 7 bilhões.

O estudo diz também que o aquecimento global, atribuído por cientistas da ONU à atividades humanas como a queima de combustíveis fósseis, implica riscos para a produção alimentar além das lavouras, por gerar problemas também no armazenamento e transporte.