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Manter o aquecimento em 2°C é 'missão impossível' na reunião da ONU

Em Bonn

14/06/2013 17h17

A comunidade internacional começa a trabalhar para alcançar em 2015 um importante acordo para conter um máximo de 2ºC de aumento na temperatura, um desafio colossal que alguns especialistas consideram uma "missão impossível".

O ciclo de dez dias de negociações da ONU (Organização das Nações Unidas), que terminou nesta sexta-feira (14), em Bonn, na Alemanha, deu início à contagem regressiva para a cúpula de Paris, que ocorre dentro de dois anos e meio, quando deverá ser adotado o mais ambicioso plano na luta contra o mudanças climáticas.

Qual será o marco obrigatório? Que compromissos vão ser tomados para reduzir as emissões de gases do efeito estufa? Devem ser mantida a flexibilidade para grandes países emergentes, como China, em nome do direito ao desenvolvimento?

As questões são muitas e complexas, mas o objetivo é conter o aquecimento em 2°C acima dos níveis pré-industriais. "Em teoria, é possível", considera o climatologista Jean Jouzel, "mas parece muito difícil".

Com o aumento contínuo das emissões, a concentração de CO2 na atmosfera chegou recentemente a 400 ppm (partes por milhão), nível sem precedentes na história da humanidade.

De acordo com o grupo de referência de especialistas do Painel Intergovernamental para Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês), limitar o aumento da temperatura entre 2°C e 2,4°C supõe que a concentração de CO2 não exceda 350-400 ppm.

"Teríamos que diminuir pelo menos pela metade as emissões antes de 2050", explica Jouzel, vice-presidente do IPCC.

A meta de 2°C foi oficialmente adotada na Cúpula do Clima da ONU em Copenhagen, na Dinamarca, em dezembro de 2009. O valor foi determinado por políticos a partir de pesquisas científicas sobre o impacto de vários limiares de temperatura em corais, calotas polares da Groenlândia e na produtividade agrícola.

"Os 2°C são, possivelmente, simbólicos, mas a ideia é que, se superá-los, nós iremos correr riscos com relação à nossa capacidade de nos adaptar", resume Jouzel.

No final de 2012, o ex-negociador da ONU para questões do clima, Yvo de Boer, havia considerado "fora de alcance" tal meta.

E esta semana, um influente grupo de especialistas da alemã SWP dedicou um artigo no jornal britânico The Guardian ao "anunciado fracasso da meta de 2°C, algo que ninguém quer falar realmente".

Nos corredores do Hotel Maritim de Bonn, onde aconteceram as negociações sobre o clima, apesar das dificuldades, ninguém quer colocar em dúvida o único objetivo tangível das negociações, por medo de abrir a caixa de Pandora.

Botes salva-vidas

Para o embaixador das ilhas Seychelles, Ronald Jumeau, cujo país é um dos muitos Estados insulares ameaçados pelo aumento do nível do mar, e que defende um objetivo de 1,5°C, uma ambição revisada para baixo "sacrificará os mais vulneráveis".

"Os negociadores das pequenas ilhas teriam, então, que voltar a seus países e comprar barcos salva-vidas", comentou o embaixador.

Questionada recentemente sobre esta questão, a comissária europeia para o Clima, Connie Hedegaard, lembrou que os 2°C foi "aceito por 120 líderes de todo o mundo há três anos e meio". E perguntou: "Devemos mudar de ambição, porque é difícil?".

"Precisamos de vontade política e visão, e até este momento, não encontramos", admitiu o negociador europeu. "O problema é que, se abandonarmos a meta de 2°C, o que garante que vamos parar em 3°C? Não podemos permitir que essa lógica prevaleça", disse.