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Tempo se esgota para negociações climáticas da ONU em Varsóvia

Em Varsóvia

22/11/2013 18h22

As negociações climáticas das Nações Unidas pareciam destinadas a passar do horário nesta sexta-feira, à medida que países ricos e em desenvolvimento debatiam sobre quem deve fazer o que para evitar os perigos do aquecimento global.

Negociadores e ministros exaustos reunidos em Varsóvia se preparavam para avançar noite adentro, em um esforço para forjar um ambicioso acordo climático. Esse texto deverá ser firmado em dezembro de 2015, em Paris.

Segundo os delegados, os países continuam profundamente divididos, discutindo sobre a distribuição de limites de emissões com vistas a conter o aquecimento do planeta a 2°C, considerado mais seguro, e sobre o financiamento aos países pobres, mais vulneráveis aos efeitos adversos do clima.

"De fato, temos pela frente uma noite insone, mas ainda esperamos encerrar a reunião o mais cedo possível", afirmou a vice-ministra polonesa do Meio Ambiente, Beata Jaczewska, cujo país sedia a rodada de negociações de 11 dias, que se encerra nesta sexta-feira.

Reunindo delegados de mais de 190 países, as negociações anuais se destinam a preparar o terreno para um acordo histórico a ser firmado no final de 2015, visando a evitar o caos climático.

Sendo pouco provável que os burocratas consigam alcançar um acordo dentro do prazo previsto, "os ministros terão de negociar um pacote político em algum momento esta noite, ou mais provavelmente amanhã de manhã", afirmou Alden Meyer, da União de Cientistas Preocupados, sediada nos Estados Unidos.

Emmanuel Guerin, da Rede de Soluções de Desenvolvimento Sustentável, afirmou que um grande ponto de paralisia seria a demanda de alguns países em desenvolvimento por garantias de contenções de emissões menos onerosas em comparação com as dos países ricos.

Esses países, que incluem os gigantes asiáticos China e Índia, pedem uma garantia clara neste ponto antes de endossar uma proposta americano-europeia para um mapa que conduza a um acordo em 2015.

"Eles não vão se comprometer com nada sem saber como o acordo vai parecer", disse Guerin à AFP.

"E eles querem que os países ricos cumpram suas promessas", o que inclui, conforme decidido em Copenhagen (COP-15), elevar a ajuda climática para US$ 100 bilhões em 2020, começando com US$ 10 bilhões ao ano no período 2010-12 para os países mais vulneráveis.

Os países em desenvolvimento também querem que o acordo imponha "compromissos" aos ricos e demande apenas "ações" às economias emergentes.

Taxativo, o negociador americano Todd Stern afirmou apenas que essa distinção simplesmente "não vai funcionar".

No que diz respeito ao mapa rumo a Paris, Stern disse a jornalistas nesta sexta-feira que o ideal é que os países submetam suas ofertas iniciais de contenção de emissões no primeiro trimestre de 2015. Mas um esboço do texto de negociação não fez qualquer menção a uma janela de tempo.



Disputas sobre cortes de carbono e financiamento Se as tendências atuais de emissões se mantiverem, os cientistas advertem que a Terra pode esquentar 4ºC, ou mais, com base em níveis pré-industriais - uma condição para a ocorrência de tempestades catastróficas, secas, inundações e elevações do nível do mar que afetariam os países pobres de forma desproporcionalmente dura.

À medida que as emissões aumentam ano após ano, os países em desenvolvimento apontam o dedo acusador para os desenvolvidos, considerando que estes têm a maior parte da culpa pelo longo histórico de queima de combustíveis fósseis em sua industrialização.

Os ricos insistem, no entanto, em que as economias emergentes precisam fazer sua parte, considerando que a China atualmente é o maior emissor de CO2 do planeta, com a Índia em quarto lugar, atrás de Estados Unidos e Europa.

Alguns negociadores de países em desenvolvimento presentes em Varsóvia temem que os ricos se evadam do compromisso de US$ 100 bilhões e exigem que um plano de ação seja apresentado a eles.

Ainda lutando contra uma crise econômica, porém, o mundo desenvolvido é cauteloso em apresentar um plano de financiamento de longo prazo neste ponto.

A ministra Jaczewska anunciou que o Fundo de Adaptação das Nações Unidas, que ajuda os países pobres a enfrentar os efeitos das mudanças climáticas, recebeu o compromisso de US$ 100 milhões, "mais do que o previsto".

Outros avanços foram vistos no desenho do programa denominado REDD+, cujo objetivo é encorajar os países ricos a financiar o plantio de árvores em países pobres.

A questão financeira é o cerne de outra questão que dificulta as negociações: as demandas, por parte dos países em desenvolvimento, de um mecanismo que os ajude a lidar com perdas futuras provocadas pelos impactos climáticos, os quais eles afirmam ser tarde demais para evitar. Já os países ricos temem que isso se torne uma dívida permanente.

"Ainda não sabemos se isto tudo virá a termo", disse Stern a respeito da questão "perdas e danos" na tarde desta sexta.

Na véspera, organizações ambientalistas decidiram se retirar da conferência de Varsóvia, ao considerar que as negociações não tinham feito grandes avanços desde sua inauguração, em 11 de novembro, e estavam "no caminho de resultar em virtualmente nada".

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