Presidente da COP-21 adere ao termo "indaba" para acabar com desacordos
Esse formato de discussão surgiu em Durban, na África do Sul, para resolver os problemas insolúveis
“Indaba”. Na segunda semana da 21ª Conferência do Clima das Nações Unidas (COP-21), essa estranha palavra surgiu no discurso do presidente do encontro, o francês Laurent Fabius. Na sala de imprensa, jornalistas trocaram olhares preocupados: do que ele estaria falando? Ao jargão impenetrável e aos ritos misteriosos da diplomacia climática, somava-se uma nova bizarrice.
Somente os veteranos de conferências do clima conseguiam se lembrar que, no encontro de 2011, a presidência sul-africana havia introduzido nas discussões em Durban essa prática do conciliábulo entre poucas pessoas, típico dos povos zulu e xhosa.
Em seu discurso de inauguração da COP seguinte, em 2012, em Doha, no Qatar, a ministra sul-africana das Relações Internacionais e da cooperação, Maite Nkoana-Mashabane, lembrou da palavrinha: “Em Durban, nós lhes apresentamos nossa tradição para resolver problemas insolúveis, a indaba, que criou verdadeiros espaços de conversa entre as partes.”
Senso de transigência
Fabius também conseguiu resgatar o termo no momento de abordar a fase mais delicada da conferência de Paris, na França. Na quarta-feira (9), em assembleia plenária, ele explicou que presidiria na mesma noite uma mesa-redonda em formato de “indaba”, composta somente por chefes de delegação e de dois membros de sua equipe. “Reunir os negociadores em uma sala restrita, onde eles estão próximos uns dos outros, desenvolve o senso de transigência”, afirmaram os colaboradores.
Na noite do dia seguinte, dia 10 de dezembro, Fabius mencionou por diversas vezes, diante de todas as delegações e ministros, o recurso à indaba, e até mesmo à “indaba das soluções” para consolidar o projeto do acordo. Por trás da referência ostensiva a um vocábulo exótico (que poderia ter sido substituído pelo termo mais simples “reunião”), se esconde na verdade a homenagem discreta da França à África do Sul.
Recentemente, um membro da delegação francesa contou que o que dava motivos para otimismo era o fato de que a “África do Sul começava a ver o acordo de Paris como o resultado do trabalho iniciado em Durban”. Só que a poderosa África do Sul arrasta consigo o G77, a coalizão que reúne 134 países em desenvolvimento do qual ela é porta-voz.
“Se não fossem pelas decisões de Durban, não haveria a conferência de Paris, nós entendemos esse reconhecimento”, contou a embaixadora sul-africana, Nozipho Mxakato-Diseko, em Bourget.
Foi em 2011 que se instaurou a plataforma destinada a selar até 2015 um acordo para manter o aquecimento abaixo dos 2°C. Nas reuniões ministeriais preparatórias para a COP-21 (em junho, setembro, novembro), os representantes sul-africanos nunca foram esquecidos. E foi em uma viagem pela Índia, pela África do Sul e pelo Brasil que o ministro francês das Relações Exteriores encerrou suas viagens bilaterais, uma semana antes de começar a conferência sobre o clima.
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