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Bióloga cria sistema antiatropelamento de animal para reduzir acidentes

Sistema capaz de detectar animais na estrada será testado em Piracicaba (SP) - Divulgação/Agência Fapesp
Sistema capaz de detectar animais na estrada será testado em Piracicaba (SP) Imagem: Divulgação/Agência Fapesp

Suzel Tunes

Da Agência Fapesp

19/08/2017 04h00

Quando a bióloga Fernanda Delborgo Abra entrou no mestrado em Ecologia no Instituto de Biociências da USP (Universidade de São Paulo), ela já sabia o tema que a motivava: o atropelamento de animais silvestres e medidas de mitigação. Dessa preocupação da pesquisadora e de mais duas sócias – Mariane Rodrigues Biz Silva e Paula Ribeiro Prist – nasceu uma empresa especializada em manejo de fauna em rodovias, a ViaFauna, e o desenvolvimento de um equipamento inédito no Brasil: um sistema eletrônico de detecção animal para as estradas brasileiras.

Somente no Estado de São Paulo, entre 2005 e 2013 mais de 23 mil acidentes rodoviários envolvendo usuários e animais foram registrados.

O “Passa-Bicho” poderá ajudar a reduzir os impactos das rodovias sobre a fauna e aumentar a segurança dos usuários, diminuindo as colisões. A empresa ViaFauna participa do Programa Pesquisa Inovativa em Pequenas Empresas, da Fapesp.

Além do prejuízo ambiental do atropelamento de animais, inclusive ameaçados de extinção como antas, lobos-guarás e onças, esses acidentes – que se somam aos ocorridos com animais domésticos como cavalos, vacas e cães – colocam em risco a vida dos usuários das rodovias e aumentam os custos com indenizações pagas pelas concessionárias.

Estradas - Zanone Fraissatt/Folha Imagem - Zanone Fraissatt/Folha Imagem
Imagem: Zanone Fraissatt/Folha Imagem

Sistema parecido com radar

O foco do sistema de detecção animal da ViaFauna são animais de médio e grande porte: silvestres e domésticos, a partir de 3 kg. O sistema compõe-se de um par de sensores de movimento (transmissor e receptor), instalados em pequenos postes semelhantes àqueles utilizados pelos radares e distantes 100 metros entre si. “Cada par de sensores cobre o que chamamos de hotspot, um ponto crítico de atropelamento”, explica Fernanda Abra.

O transmissor emite ao receptor um feixe de luz infravermelha (invisível para seres humanos e outros vertebrados). Quando esse feixe é rompido pelo animal, o sensor emite um sinal ao poste, que, por sua vez, transmite a informação via rádio, acionando uma placa de mensagem eletrônica ou, numa versão mais simples, uma luz piscante (giroflex) instalada sobre uma placa de advertência de travessia de fauna comum.

Ao ver uma placa comum, o motorista nunca sabe quando o animal vai passar e acaba não dando muita importância à informação. Com o sistema ele é avisado centenas de metros ou quilômetros antes da real presença de animais na pista e se prepara, dirigindo com maior cautela.” 

“Dados de literatura apontam que os sistemas de detecção animal podem reduzir em até 90% a incidência de atropelamentos.”

Ela explica que, nos Estados Unidos, existem modelos mais sofisticados, que utilizam câmeras térmicas e softwares de reconhecimento capazes de “tomar decisões”, registrando todo tipo de animal que atravesse a pista, mas informando ao usuário apenas aqueles que podem pôr em risco a sua segurança.

A ViaFauna optou por um sistema simples, que predomina em países europeus. 

A Fase 1 do projeto possibilitou o desenvolvimento de um protótipo funcional, alimentado por painéis solares. O sistema inclui data loggers, um dispositivo eletrônico para registro de dados. “Hoje o pesquisador só sabe quantos animais morreram na rodovia. O sistema informará quantos atravessaram com sucesso, permitindo o desenvolvimento de estudos sobre a dinâmica de movimentação dos animais”, diz a pesquisadora.

Testes em Piracicaba (SP)

O próximo passo será testar esse protótipo dentro do campus da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da USP (Universidade de São Paulo) e submetê-lo a intempéries. “Também existem várias mudanças que precisamos fazer no protótipo para deixá-lo com uma aparência mais ‘comercial’.”

Durante a Fase 1 do programa PIPE Fernanda contou com a colaboração da pesquisadora Katia Maria Paschoaletto Micchi de Barros Ferraz, professora da Esalq e sua orientadora no doutorado, e do pesquisador da Universidade de Montana (EUA) Marcel Huijser, especialista em medidas mitigatórias para o atropelamento de fauna silvestre e seu coorientador.