PF desbarata garimpo ilegal que usava tóxicos e trabalho escravo no Amapá
Uma operação da Polícia Federal em conjunto com o Ministério Público deflagrada nesta quinta-feira (30) busca desbaratar uma quadrilha que explorava ouro e outros recursos naturais de forma ilegal no Amapá. Segundo a PF, a exploração predatória utilizava mão de obra submetida a condições de trabalho análogas à escravidão e foi causadora de danos ambientais incalculáveis na região do Lourenço, no município de Calçoene.
"Os investigadores suspeitam que o grupo criminoso, com a finalidade de aumentar a exploração de ouro, tenha incentivado o uso em escala indiscriminada de substâncias tóxicas e metais pesados, como mercúrio e, até mesmo, cianeto, uma substância cujo contato pode ocasionar a morte de uma pessoa", diz nota divulgada pela PF.
Segundo a PF, são investigadas "ao menos 24 mortes, em sua maioria por soterramento, decorrentes de condições precárias de trabalho". A operação foi batizada como Minamata, uma referência ao envenenamento de centenas de pessoas por mercúrio ocorrido na cidade de Minamata, no Japão, nas décadas de 1950 e 1960.
De acordo com os investigadores, a organização criminosa é formada por empresários, políticos e agentes públicos. Dentre as empresas investigadas estão distribuidoras de títulos e valores mobiliários que atuam como intermediárias nos mercados financeiro e de capitais em todo país.
A operação Minamata é realiza nos estados do Amapá, Rio de Janeiro e São Paulo. Cerca de 180 policiais federais cumpriram nesta manhã 6 mandados de prisão preventiva, 5 de prisão temporária, 8 conduções coercitivas e 30 mandados de busca e apreensão, além do bloqueio de mais de R$ 113 milhões em bens móveis e imóveis.
Garimpo e trabalho escravo
Segundo a PF, para realizar a exploração ilegal de ouro, os empresários utilizavam uma cooperativa de garimpeiros instalada na área do Lourenço, o mais velho garimpo em atividade do país.
"A organização criminosa aproveitava-se das políticas públicas que fomentavam a inclusão social dessas comunidades de trabalhadores para atuar de forma clandestina na extração de ouro, encobrindo propósitos de exploração em larga escala sob o argumento da pesquisa mineral e lavra artesanal de pequena monta", diz nota do órgão.
A operação teve início em 2016 e conta com a colaboração do Ministério Público do Trabalho, Ministério do Trabalho e Emprego, IBAMA, Departamento Nacional de Produção Mineral, Defensoria Pública da União e da Polícia Rodoviária Federal.
De acordo com a polícia, os investigados responderão pelos crimes de redução à condição análoga a de escravo, corrupção passiva, prevaricação, usurpação de matéria prima da União, extração ilegal de substâncias minerais, lavra ou extração não autorizada, uso ilícito de mercúrio, crime contra a fauna aquática, posse de artefato explosivo, organização criminosa e lavagem de dinheiro.
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