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Líder comunitário que denunciava crimes ambientais é morto em Barcarena

Peritos flagraram enxurrada de lama contaminada escorrendo da sede da empresa norueguesa em Barcarena - Instituto Evandro Chagas
Peritos flagraram enxurrada de lama contaminada escorrendo da sede da empresa norueguesa em Barcarena Imagem: Instituto Evandro Chagas

Aliny Gama

Colaboração para UOL, em Maceió

12/03/2018 19h29

O diretor da Cainquiama (Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia), Paulo Sérgio Almeida Nascimento, 47, foi assassinado a tiros, na madrugada desta segunda-feira (12), em Barcarena, nordeste do Pará.

Nascimento era uma das lideranças comunitárias que denunciava, por meio da associação, crimes ambientais ocorridos na região. Ele era contra a atuação da refinaria Hydro Alunorte, que no mês passado, foi responsável por vazamento de bauxita contaminando o rio Pará. Autoridades locais monitoram a situação das comunidades atingidas pelo desastre ambiental.

O assasinato de Nascimento está sendo apurado pela Delegacia de Vila dos Cabanos e ainda não há pista sobre o paradeiro dos criminosos. Até agora nenhum suspeito foi detido.

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Segundo a polícia, Nascimento tinha ido usar o banheiro, que fica do lado de fora da casa dele, durante a madrugada quando foi abordado por dois homens e assassinado a tiros. Testemunhas relataram à polícia que homens em motos estavam rondando o imóvel dele.

O advogado da Cainquiama, Israel Moraes, destacou que a vítima não tinha inimigos, mas enfatizou que membros da diretoria da entidade estavam recebendo ameaças de mortes feitas por supostos policiais que fazem a segurança particular da refinaria.

"Ele era dos mais atuantes na comunidade e não tinha inimigos a não ser da Hydro Alunorte. Policiais que fazem segurança privada para a refinaria foram os mesmos que invadiram a sede da associação", destacou o advogado.

O Ministério Público Estadual já havia pedido proteção à vítima e outros líderes da associação que sofreram ameaças de mortes, mas a solicitação foi negada pela Segup (Secretaria de Segurança Pública).

Em janeiro deste ano, o promotor de Justiça Militar, Armando Brasil, protocolou o pedido de reforço na segurança das lideranças depois que a sede da associação foi invadida por dois seguranças armados se dizendo policiais, mas teve o pedido negado.

O promotor de Justiça não quis atrelar o assassinato de Nascimento às investigações que ocorrem sobre a refinaria.

Em nota, o MP destaca que caso as investigações apontem o envolvimento de militares no crime, eles serão denunciados e sujeitos às sanções na Justiça Militar.

A Hydro Alunorte afirmou que "condena firmemente qualquer ação dessa natureza e repudia qualquer tipo de associação entre suas atividades e ações contra moradores e comunidades de Barcarena". A indústria destacou ainda que a empresa "reforça que sua relação com a comunidade é pautada (...) pelo respeito à legislação de proteção aos direitos do cidadão e do meio ambiente."