ONGs criticam fala de Bolsonaro: "Culpa quem denuncia problemas ambientais"
Entidades ligadas à defesa do meio ambiente reagiram à fala de hoje do presidente Jair Bolsonaro, que acusou, sem provas, ONGs (Organizações Não Governamentais) de poderem estar por trás do aumento no número de queimadas na Amazônia neste ano. O país registra, neste ano, uma alta de 70% no número de focos de incêndios --mais da metade deles na região amazônica.
"A declaração de Bolsonaro é, acima de tudo, uma tentativa do presidente de se esconder das consequências da política antiambiental que vem adotando. É uma tentativa de culpar quem denuncia os problemas ambientais criados pela sua própria gestão", afirmou Marcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace Brasil.
Para ele, as pessoas que destroem a Amazônia passaram a se sentir "tão encorajadas pelo seu discurso" que nos dias 10 e 11, fizeram no entorno da BR-163 um "dia de fogo, que resultou no aumento de 300% das queimadas na principal cidade da região, Novo Progresso".
"Desde que tomou posse, Bolsonaro tem praticado um verdadeiro desmonte da política ambiental do país e feito diversas declarações como esta que, além de muito constrangimento internacional, só incentivam as práticas criminosas contra o meio ambiente e trazem prejuízos para o país. Já foram oito meses de governo e, até agora, nenhuma medida foi anunciada para conter o desmatamento ou proteger a Amazônia", finalizou.
Já o WWF Brasil afirmou, em nota, que lamentava a "tentativa do presidente de desviar o legítimo debate da sociedade civil sobre a necessidade de proteger a Amazônia". Diz ainda que o poder público deveria "zelar pelo patrimônio e não criar divergências estéreis e sem base na realidade".
"Sua declaração de que ONGs estariam por trás dos incêndios por causa de um suposto corte em repasse de recursos não se sustenta diante dos dados. Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) analisou o repasse de recursos federais para Organizações da Sociedade Civil (OSC) entre os anos de 2010 e 2018 e descobriu que apenas 2,7% das Organizações da Sociedade Civil recebem recursos federais. Desse total, apenas 5% foram destinados à região Norte (5%). O estudo aponta ainda tendência de queda no número de repasses federais desde 2010", afirmou.
Ainda segundo o WWF, os recursos que o governo suprimiu "foram as doações internacionais ao Fundo Amazônia, e eles subsidiavam ações de combate ao desmatamento e a incêndios, entre outras coisas". "Portanto, o que o alegado corte em repasse de recursos causou foi a redução na capacidade do Estado de combater o desmatamento e os incêndios."
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