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Ambientalistas suspeitos de incêndio em Alter do Chão deixam prisão

Daniel Beltrá/Greenpeace
Imagem: Daniel Beltrá/Greenpeace

29/11/2019 07h44

Quatro ambientalistas que estavam presos preventivamente, acusados pela polícia de provocar incêndios em Alter do Chão, no Pará, para atrair doações, foram libertados nesta quinta-feira, informou um dos seus advogados.

Por outro lado, o governador do Pará trocou o delegado responsável pelo caso.

"Foi o próprio juiz que revogou a prisão nesta tarde. [Os ambientalistas] Já estão em liberdade", disse em uma mensagem de voz enviada à AFP Wlandre Leal, um dos advogados que trabalhou no caso.

Os quatro poderão aguardar em liberdade a conclusão da investigação, acrescentou.

A prisão dos quatro membros da Brigada de Incêndio de Alter do Chão, grupo de voluntários que desde 2018 auxilia os bombeiros no combate de incêndios florestais no Pará, havia gerado preocupação entre as organizações ambientalistas do país, que consideraram a prisão como uma medida "abusiva".

A Polícia Civil do Pará afirmou na terça, ao anunciar as prisões, que existem "indícios" de que os voluntários iniciaram os focos do incêndio que em setembro consumiram uma extensa área em uma unidade de proteção ambiental próxima ao balneário turístico da região.

A ONG Instituto Aquífero Alter do Chão, do qual a brigada depende, e outras organizações com as quais tem convênios, como o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), afirmam que a acusação é infundada.

Pouco antes de o juiz recuar, ordenando a soltura, o governo do Pará determinou a substituição do delegado encarregado do caso pelo diretor da Delegacia especializada em Meio Ambiente.

O Ministério Público Federal do Pará pediu à polícia para ter acesso à investigação, afirmando que outra indagação aberta sobre o mesmo caso, que esta no âmbito federal, não aponta como suspeitos os membros da ONG.

A prisão dos voluntários foi condenada pela Anistia Internacional e pelo Greenpeace, que acusam o governo de debilitar os controles ambientais e favorecer, também com seu discurso antiambientalista, o avanço do desmatamento ilegal na floresta amazônica.

Entre agosto de 2018 e julho de 2019, o desmatamento na Amazônia aumentou 43%, totalizando 10.123 km2, um recorde em dez anos, segundo dados atualizados esta semana pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

Bolsonaro, que na quarta-feira havia repercutido as suspeitas apontadas pela polícia sobre os quatro brigadistas, não se pronunciou de imediato após a ordem de libertá-los.

"Em outubro declarei que muitos focos de incêndios poderiam estar ligados a ONGs. Agora a polícia paraense prende alguns suspeitos pelo crime", havia tuitado após as prisões o presidente.

- "Medidas abusivas", diz WWF -Nas buscas, os agentes confiscaram documentos, computadores e telefones celulares dos investigados.

O fogo na região de Alter do Chão - um balneário de areia branca e água doce do rio Tapajós - consumiu o equivalente a 1.600 campos de futebol e demorou quatro dias para ser extinto.

Os investigadores afirmam que os voluntários criaram focos de incêndio para depois vender as imagens para o Fundo Mundial para a Natureza (WWF), que as teria usado em campanhas para arrecadar doações internacionais, entre elas uma do ator americano Leonardo DiCaprio.

A WWF-Brasil nega estas alegações, que qualifica de "mentiras".

O fundo admite ter transferido mais de 70.000 reais à ONG, como parte de um contrato realizado de forma transparente com a organização para comprar novos insumos de combate às chamas.

"A falta de clareza sobre as investigações, a falta de fundamento das alegações usadas (...) são extremamente preocupantes do ponto de vista da democracia e configuram claramente medidas abusivas", havia afirmado a WWF-Brasil após as prisões.

A ONG Observatório do Clima, que reúne várias organizações ambientalistas, afirma que as autoridades locais estão aplicando "medidas abusivas" com o "único intuito de intimidar as pessoas que trabalham pelo desenvolvimento sustentável da Amazônia".

A prisão dos voluntários também foi condenada pela Anistia Internacional e pelo Greenpeace, que acusam o governo de debilitar os controles ambientais e favorecer, também com seu discurso antiambientalista, o avanço do desmatamento ilegal na floresta Amazônica.