Mourão diz que pode aceitar dinheiro de países ricos para Amazônia
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse ontem que pode aceitar recursos de países ricos para financiamento de projetos de preservação na Amazônia. Em agosto do ano passado, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) rejeitou US$ 20 milhões (cerca de R$ 83 milhões no câmbio da época) oferecidos pelos líderes do G7, grupo que reúne as maiores economias do mundo, para ajudar nos combates às queimadas na região.
Na última terça-feira (21), Bolsonaro afirmou ter determinado a criação do Conselho da Amazônia e designou Mourão para chefiar a estrutura. Segundo o presidente, o conselho tem como objetivo "coordenar as diversas ações em cada ministério voltadas para a proteção, defesa e desenvolvimento sustentável da Amazônia".
"Vamos buscar recursos fora, sim, desde que seja possível e necessário", disse o vice em entrevista à Globonews. Ao ser lembrado que o governo já rejeitou o auxílio, Mourão respondeu: "Rejeitou, mas depois eu vou lá com a cara de pau e falo 'meu amigo, vem aí, pô'. Não tenho vergonha disso aí, não."
Ele acrescentou, no entanto, que ao receber dinheiro do exterior tem que ter limites. "Sua soberania tem que ser respeitada".
Ao explicar como e com que objetivo vai trabalhar o recém-anunciado conselho, Mourão declarou que faltam hoje ao governo "comando e controle" e "coordenação" das políticas voltadas para a região e reconheceu que ainda está "analisando a missão" dada pelo presidente.
"Existe uma série de políticas desenvolvidas por diferentes ministérios que estão ligadas ao meio ambiente e à Amazônia. É uma tema transversal. Ele não pertence só ao Ministério do Meio Ambiente, não pertence só ao Ministério de Infraestrutura, não pertence só ao Ministério de Desenvolvimento Regional", explicou. "A gente nota nitidamente que tem de ter um organismo que controle isso e coordene as atividades."
Ele reconheceu que não se pode fugir da realidade em que grandes fundos de investimento mundo afora estão "colocando selo verde", ou seja, exigindo padrões de boas práticas ambientais de países e empresas em cujos ativos eles investem. "Se é preocupação desses fundos com a vida na Terra ou um instrumento de pressão sobre nações em desenvolvimento, não interessa. Temos de nos adaptar e dar respostas corretas ao que está ocorrendo no mundo."
O vice negou qualquer mal-estar com o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, ao assumir a nova função: "O meio ambiente é transversal. O espaço do Ricardo está preservado. Acho que vai ter mais tranquilidade para fazer o trabalho dele porque sabe que tem alguém escorando as costas dele", afirmou.
Questionado sobre a imagem ruim que a política ambiental do Brasil tem atualmente no exterior, o vice-presidente afirmou que existe uma pressão internacional sobre o país pelo fato de Bolsonaro ser "encarado por parcelas da inteligência mundial ou formadores de opinião" como alguém que não está não comprometido com a preservação ambiental. "(Mas) o presidente não deu ordem para tacar fogo na floresta nem fazer genocídio dos povos da floresta."
Para ele, ao designá-lo para o cargo, Bolsonaro está dando uma resposta e demonstrando a importância que o tema do meio ambiente tem em seu governo.
"Vejo que foi uma decisão extremamente bem colocada, a partir de agora temos trabalho pela frente (...) Temos consciência plena de que a imagem que o Brasil tem que passar pra fora é do país realmente comprometido com a preservação de um território como esse."
* Com Estadão Conteúdo
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