Bolsonaro chama de "esmola" ajuda do G7 para combater queimadas na Amazônia
O presidente Jair Bolsonaro (PSL) chamou hoje de "esmola" os US$ 20 milhões (cerca de R$ 83 milhões) oferecidos pelos líderes do G7 — grupo que reúne as maiores economias do mundo — para ajudar nos combates às queimadas na Amazônia. Na última cúpula, realizada em Biarritz, o presidente francês Emmanuel Macron confirmou que o grupo doaria o valor aos países que compõem a bacia amazônica.
"Tivemos um encontro na terça-feira com os governadores da região amazônica. E ali, só um falou em dinheiro, aquela esmola oferecida pelo Macron. O Brasil vale muito mais que vinte milhões de dólares. Eu havia dito, há poucas semanas, que alguns países europeus estavam comprando o Brasil a prestação. Já gastaram mais de um bilhão de dólares pra cá [sic]. Aí eu te pergunto, o que fizeram com esse dinheiro? Me aponte um hectare replantado, uma ação positiva. Nada." disse Bolsonaro, sem esclarecer quais países e nem o destino dos supostos aportes.
A despeito da fala de Bolsonaro, pelo menos três governadores da região (Amazonas, Pará e Roraima) manifestaram desejo de contar com a verba que fora prometida pelos países do G7.
O episódio do aporte financeiro oferecido pelos países desenvolvidos abriu uma fenda dentro do governo. Em um primeiro momento, o Planalto confirmou que não aceitaria o valor. Depois, o presidente deixou a decisão com o ministro Ernesto Araújo (Itamaraty), que também sinalizou recusa à ajuda. Um dia depois, Bolsonaro afirmou que aceitaria o dinheiro, com a condição de que Macron pedisse desculpas a ele.
Ontem, todavia, o porta-voz do governo, general Otávio do Rêgo Barros, recuou e mudou o tom das respostas. Barros afirmou que o "governo não rasga dinheiro" e que "está aberto a receber suporte financeiro de organizações e países."
Durante a transmissão ao vivo em suas redes sociais hoje, onde proferiu as declarações sobre a ajuda do G7, Bolsonaro não deixou claro se o Brasil vai, ou não, aceitar os US$ 20 milhões. Ele voltou a criticar ONGs, sem apresentar evidências, e afirmou que o problema "não é desmatar, é desmamar esse pessoal."
Bolsonaro afirmou ainda que os focos de incêndio na Amazônia neste ano estão "abaixo da média". O UOL mostrou, entretanto, que, até o dia 18 de agosto, o número de focos de queimadas havia crescido 70% em comparação ao mesmo período no ano passado. Dados apontam que as queimadas atingiram maior índice em sete anos —2013 foi o primeiro ano em que há dados informados de período similar.
Segundo os números do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) — renomado órgão que fora taxado de "mentiroso" pelo presidente — o bioma mais afetado é o da Amazônia, com 51,9% dos casos. O cerrado vem em seguida com 30,7% dos focos registrados no ano. Ao todo, o Brasil registrou neste ano 66,9 mil pontos de queimadas, segundo a medição do Programa Queimadas do Inpe.
Demarcações
Encampando o discurso do presidente, o ministro Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional), atacou as demarcações indígenas no país, reafirmando que os indígenas "precisam se integrar". "Essas demarcações elas merecem ser todas revistas, uma vez que há provas de dentro da própria Funai, denúncias de demarcações fraudulentas, são demarcações que foram forjadas", disse Heleno, sem apresentar provas ou material que comprovasse suas acusações.
"Todas essas demarcações têm de ser objeto de revisão, pra verificar o que realmente corresponde à verdade.", disse Heleno após Bolsonaro reiterar que não vai demarcar nenhuma área em sua gestão, "a não ser que seja obrigado."
Na última terça-feira (27), durante a reunião com governadores da região da Amazônia Legal para discutir a crise decorrente das queimadas, Bolsonaro deixou de lado os focos de incêndio no bioma e fez críticas às terras demarcadas. Havia expectativa entre os governadores que a reunião fosse utilizada para discutir políticas que pudessem respaldar ações na Amazônia, mas o teor da conversa foi outro.
"Com todo o respeito aos que me antecederam, foi uma irresponsabilidade essa política adotada no passado no tocante a isso, usando o índio como massa de manobra", disse o presidente. "Essa questão ambiental tem de ser conduzida com racionalidade, não com esta quase selvageria como foi feita nos outros governos", afirmou, conforme reportado pela Folha.
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