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Cerca de 20% das exportações brasileiras à UE vem de desmatamento ilegal, diz estudo

O artigo analisou as exportações de soja e carne bovina do Brasil à União Europeia - Getty Images
O artigo analisou as exportações de soja e carne bovina do Brasil à União Europeia Imagem: Getty Images

Da AFP, no Rio de Janeiro

16/07/2020 15h31

Aproximadamente 20% das exportações de soja e carne bovina do Brasil à União Europeia (UE) provêm do desmatamento ilegal, segundo o artigo "As maçãs podres da agroindústria brasileira", estudo publicado hoje no periódico científico americano Science.

O documento foi publicado em meio a um contexto de forte resistência europeia à ratificação do acordo de livre comércio assinado no último ano entre a UE e o Mercosul, já que há um avanço no desmatamento na Floresta Amazônica desde a chegada de Jair Bolsonaro ao poder no país.

O estudo foi elaborado por 12 investigadores do Brasil, Alemanha e Estados Unidos, feito por meio de um software de alta potência que, segundo os cientistas afirmam, lhes permitiu analisar 815 mil propriedades rurais e identificar áreas de desmatamento ilegal, principalmente na Amazônia e no Cerrado.

"Entre 18% e 22% — possivelmente mais — das exportações anuais do Brasil para a União Europeia são fruto de desmatamento ilegal", afirma Raoni Rajão, líder do projeto e professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Segundo os autores do estudo, "cerca de 80%, dos agricultores segue o Código Florestal", e defendem que o novo software poderia ajudar a "tomar medidas rápidas e decisivas contra os infratores".

O Brasil tem a capacidade de se tornar uma "potência ambiental mundial, capaz de proteger seu ecossistema e, ao mesmo tempo, alimentar o mundo", ressaltam os autores.

O país "já possui os meios, só precisa de vontade política" para chegar a esse estágio, acrescentam.

Porém, atualmente parece estar indo na direção oposta à proposta.

"As florestas brasileiras se encontram em um ponto de ruptura", argumenta o professor Britaldo Soares-Filho, co-autor do artigo e também professor da UFMG.

Soares atribui tal ameaça ao impacto dos "efeitos das políticas que favorecem o desmatamento, especialmente para a grilagem de terras", referindo-se ao apoio de Bolsonaro a projetos de abertura das reservas indígenas e áreas de proteção ambiental para atividades de mineração e agricultura.

Segundo dados oficiais, a Amazônia brasileira registrou um recorde semestral de desmatamento, uma área de 3.070 km² entre janeiro e junho. Isso representa um aumento de 25% em relação ao mesmo período do ano passado, estabelecendo um recorde desde o início da série, em 2015.

O relatório também "aponta para a responsabilidade de cada mercado estrangeiro nesse processo".

"Apetite europeu"

As "maçãs podres" do agronegócio brasileiro, de acordo com os autores, "destroem a floresta para saciar o apetite europeu".

Segundo o estudo, cerca de dois milhões de toneladas de soja cultivadas em propriedades onde foi registrado desmatamento ilegal — principalmente no Cerrado — teriam como destino a UE.

Nas últimas duas décadas, o Brasil, o maior produtor mundial de soja, quadruplicou sua produção de grãos e deverá aumentar mais um terço nos próximos 10 anos.

Os criadores de suínos da União Europeia, o maior exportador mundial dessa carne, também dependem da soja brasileira, devido à crescente demanda por carne suína na Ásia e em outras regiões.

Em relação à carne bovina, os autores descobriram que, de um total de 4,1 milhões de cabeças enviadas para os matadouros, ao menos 500 mil viriam de propriedades que podem ter sido desmatadas ilegalmente.