"Boi é bombeiro do Pantanal": ministra defende mais gado contra incêndios
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, afirmou hoje que o boi é o "bombeiro do Pantanal" e que, se tivesse mais gado no bioma, os incêndios poderiam ser menores do que os deste ano, situação que classificou como "desastre".
"Falo uma coisa que às vezes as pessoas criticam. Mas, o boi, ele ajuda. Ele é o bombeiro do Pantanal, porque ele é que come aquela massa do capim, seja o nativo ou plantado, se feita a troca. É ele que come essa massa para não deixar que como este ano nós tivemos [os incêndios]. Com a seca, a água no subsolo também baixou os níveis e essa massa virou o quê? Um material altamente combustível, incendiário", disse.
"Aconteceu o desastre porque nós tínhamos muita matéria orgânica seca que, talvez, se tivéssemos um pouco mais de gado no Pantanal, isso teria sido um desastre até menor do que nós tivemos este ano. Mas isso tem de servir como reflexão do que temos de fazer", acrescentou.
Especialistas, porém, rebatem a tese. A ministra participou pela manhã de reunião virtual de comissão temporária do Senado que acompanha os incêndios no Pantanal.
Tereza Cristina disse que as chuvas previstas para o final de semana devem aliviar um pouco a intensidade dos fogos, embora não resolva o problema. Ela afirmou ser preciso se preparar melhor para futuros incêndios e ressaltou a necessidade de se preparar moradores e trabalhadores do bioma com bases de treinamento, por exemplo.
Ela falou que o fogo às vezes se espalha numa velocidade mais rápida devido à dificuldade de se chegar com equipamentos nos lugares mais necessitados. Mesmo que haja pista de pouso para um avião, há lugares sem estoque de combustível para a aeronave. Assim, não consegue decolar e ajudar no trabalho em todos os locais necessitados.
A ministra disse que trabalhadores envolvidos com a plantação de eucaliptos podem ajudar com orientações - o eucalipto tem alta inflamabilidade - apesar de reconhecer que a situação é diferente.
Senadores aprovam sugerir que Pantanal seja incluído no Conselho da Amazônia
Na reunião, os senadores aprovaram que se sugira ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) que o Pantanal seja incluído no escopo do Conselho Nacional da Amazônia Legal até 2025. Atualmente, o conselho é comandado pelo vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB). A sugestão é motivada pelos incêndios que atingem o bioma e previsões de estiagens para os próximos cinco anos.
Para a senadora Simone Tebet (MDB-MS), que apresentou a questão, a eventual inclusão ajudará a ampliar e reforçar as ações de combate a futuras queimadas no Pantanal com mais recursos e estrutura logística, como helicópteros e apoio da Força Nacional.
Tereza Cristina disse não ver problema em se incluir o Pantanal no conselho, mas falou que a ideia tem de ser amadurecida.
A comissão também aprovou, de forma oral, requerimento para que o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, seja convidado a participar de audiência pública futura.
Greenpeace rebate argumentação da ministra
A gestora ambiental do Greenpeace, Cristiane Mazzetti, afirmou, em nota, que "falar em boi bombeiro para justificar tamanha crise é equivocado". "Além do efetivo bovino ter crescido no bioma, isso desvia o foco dos reais responsáveis pela situação", disse.
Segundo Mazzetti, medidas efetivas de combate e prevenção aos incêndios não foram tomadas mesmo diante de um cenário já previsto de seca severa. Ela diz que essas medidas eram necessárias desde o primeiro semestre.
"Se não tivesse ocorrido um desmonte da gestão ambiental no Brasil, a situação não teria chegado a este nível de gravidade. Temos um governo federal falhando deliberadamente no seu dever constitucional de proteger o meio ambiente", acrescentou.
Além da ministra, participaram da audiência representantes da Sudeco (Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste), do Sebrae de Mato Grosso do Sul, CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Associação Corumbaense das Empresas de Turismo e do Sesc Pantanal.
Eles apresentaram temas e sugestões para o Estatuto do Pantanal, em desenvolvimento pela comissão, que busca estabelecer uma política de desenvolvimento sustentável mais atualizada. Ainda foi discutida a possibilidade de políticas de crédito e desenvolvimento para trabalhadores afetados no bioma.
O consultor de Meio Ambiente da CNA, Rodrigo Justus, afirmou que os produtores rurais detêm a "grande maioria" das áreas do Pantanal e, por isso, são os maiores prejudicados. Mesmo citando haver atos ilícitos sendo investigados - há suspeitas de que fazendeiros começaram incêndios na região da Serra do Amolar, no Mato Grosso do Sul -, ele criticou o que considera "certa penalização" dos pantaneiros por pessoas que talvez não conheçam o Pantanal e não entenderem as dificuldades sofridas no bioma.
Em fala, o representante da Associação Corumbaense das Empresas de Turismo, Ademilson Esquivel, afirmou que não se pode dar atenção somente aos agropecuaristas, mas também aos que vivem do turismo no Pantanal. Ele disse que os trabalhadores estão "agonizando", porque não têm como operar nem têm acesso a linha de crédito específica para capital de giro. Os efeitos econômicos negativos para o setor podem durar até três anos, disse.
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