Topo

Esse conteúdo é antigo

Praia de São Conrado tem 'tsunami de plástico' e gera repercussão mundial

Allan Brito

Colaboração para o UOL

04/01/2021 12h42Atualizada em 04/01/2021 22h38

As fortes chuvas de sábado revelaram uma triste realidade na Praia de São Conrado, no Rio de Janeiro. Uma enorme quantidade de lixo ficou acumulada na areia e foi levada pelo mar, aumentando a poluição do meio ambiente. As cenas foram registradas pelo Instituto Mar Urbano e repercutiram mundialmente.

Kelly Slater, surfista que já foi campeão mundial 11 vezes, compartilhou as imagens no Instagram. O brasileiro Gabriel Medina também repercutiu o vídeo, dizendo não saber como as pessoas que jogam lixo na praia se sentem bem. "Tem gente vivendo em outro mundo", escreveu.

Medina - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

Ricardo Gomes, diretor do Instituto, filmou o lixo acumulado. Ele fez uma transmissão ao vivo para mostrar as garrafas de plástico e outros objetos, como bolas e bonecas. Durante a filmagem, depois de dizer que "o oceano está chamando", ele ouviu uma onda muito forte, com um barulho alto, causado pelo impacto da água e do lixo em uma pedra da praia. No vídeo ele disse que era um "tsunami de plástico". Hoje comentou que ficou impressionado com o que aconteceu.

"Pego onda no Rio de Janeiro há 40 anos. Nunca vi a água bater na pedra daquele jeito. Eu virei por causa do barulho. Esse é o chamado do oceano que a gente tem que começar a entender. A gente depende do oceano vivo para sobreviver. Essa onda foi o chamado do oceano. A gente tem que mudar nossos hábitos", pediu Ricardo, que recomenda a diminuição do uso do plástico no dia a dia.

Porém, a pandemia de covid-19 aumentou o uso do plástico, já que cresceu o serviço de delivery. E consequentemente as embalagens usadas para transportar a comida foram parar no mar. "O que mais tinha ali eram pedaços de embalagem de comida, de isopor", relatou Ricardo.

Além de a população reduzir o uso do plástico, Ricardo acredita que o Estado deveria tomar 3 iniciativas para diminuir a poluição nos oceanos.

"A primeira é a criação de uma legislação federal sobre o assunto. A segunda é aumentar oferta de produtos e embalagens sem plástico. E a terceira é a criação de zonas livres de plástico, como em Arraial do Cabo e Fernando de Noronha, onde não pode ter embalagens de plástico. Fica proibido", explicou Ricardo, que citou ainda a "dupla tributação" do plástico reciclado como outro empecilho que deveria ser combatido.

De acordo com o relatório "Um Oceano Livre de Plástico", feito pela Oceana Brasil, o Brasil polui o mar com cerca de 325 mil toneladas de plástico. E ainda de acordo com esse estudo, 80% do lixo que chega no oceano tem origem em terra firme, seja por descarte direto ou indireto.

Tanta poluição gera problemas imediatos para os animais. Depois da chuva, aves marinhas vão buscar alimentos perto da praia, ingerem plástico e morrem por problemas com a alimentação.

"Aves marinhas e outros animais não sabem identificar o que é plástico e o que é alimento de verdade. Elas ingerem o plástico e tem obstrução no trato digestivo. Animal tem falsa sensação de saciedade, mas não está cheio de alimento. Está cheio de plástico. E acabam morrendo por inanição", explica Ricardo.

O que aconteceu depois da repercussão?

Ricardo relatou que, um dia depois de o vídeo começar a circular, a Comlurb (Companhia Municipal de Limpeza Urbana) fez um serviço de limpeza na Praia de São Conrado, mas não conseguiu retirar objetos que já estavam próximos ao mar.

"A Conlurb entrou com um trator, o que pode ter sido reflexo da divulgação do video. Mas ela é muito eficiente nisso. Só que a gente gera muito lixo. A gente tem que fazer nossa parte, porque não tem Comlurb que dê conta", analisou Ricardo.

Nina, filha de Ricardo, costuma participar com o pai da limpeza nas praias. Ontem ela posou para uma foto ao lado do lixo no mar, com uma mensagem de "SOS", representando o pedido de socorro dos oceanos.