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Após Bolsonaro, indígena pede 'respeito a direitos' na Cúpula do Clima

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, em Brasília

22/04/2021 15h19

Horas depois da participação de Jair Bolsonaro (sem partido), a líder indígena Sinéia do Vale deu um depoimento hoje durante a Cúpula do Clima, videoconferência que reúne chefes de estado de ao menos 40 países a convite do presidente americano, Joe Biden (anfitrião do evento).

A representante da etnia wapichana não fez críticas diretas e nem citou o governante brasileiro, mas mencionou por mais de uma vez o Acordo de Paris —protocolo global do qual Bolsonaro não é entusiasta— e afirmou que os índios precisam se sentir "seguros de que seus direitos estarão protegidos".

Em 2019, quando ainda estava em lua de mel com o ex-presidente americano Donald Trump (derrotado nas urnas por Biden um ano depois), Bolsonaro insinuou que o Brasil poderia seguir o exemplo dos EUA, à época, e se retirar do Acordo de Paris. Ele também acusou os países europeus de negociarem "na sombra".

"Se fosse bom, o norte-americano não tinha saído. Nós, por enquanto, estamos lá. Se vamos sair um dia? Depende de quem estiver ao nosso lado. Certas brigas eu só posso comprar se tiver gente forte do meu lado", declarou ele em agosto de 2019.

Após a derrota de Trump, os desgastes na relação com os Estados Unidos e com a China (maiores parceiros comerciais do Brasil) e as crises que surgiram na esteira da pandemia do coronavírus, Bolsonaro ensaiou uma mudança completa de discurso na área ambiental.

Hoje, na Cúpula do Clima, ele mudou o tom, pediu "cooperação internacional" e indicou que pretende buscar um alinhamento cada vez maior às perspectivas das principais economias do mundo em relação aos problemas da Amazônia, ao desmatamento ilegal, ao aquecimento global, entre outros temas.

Sinéia declarou durante o evento que, além do direito às terras dos povos tradicionais, as mudanças climáticas também são um assunto de extrema relevância para os indígenas brasileiros. "Proteger a mãe natureza", segundo ela, também é uma "responsabilidade de todos os grupos indigenistas" em todo o planeta.

Temos que assegurar o direito às nossas terras para assim então protegermos e colaboramos com informações [sobre mudanças climáticas] para os representantes locais.
Sinéia do Vale, líder indígena

Ela também disse que um dos efeitos da cadeia de mudanças climáticas é o desaparecimento de espécies animais na Amazônia. "Não é algo que vai acontecer, é algo que já está acontecendo."