Topo

Esse conteúdo é antigo

Cúpula do Clima: ONGs e políticos veem discurso "incoerente" de Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo

22/04/2021 11h44Atualizada em 22/04/2021 18h10

O discurso do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Cúpula de Líderes sobre o Clima foi visto como "incoerente" e "descolado" da realidade para políticos e ONGs. Na fala de hoje, Bolsonaro afirmou que o País está aberto à cooperação internacional e prometeu que o país atingirá a neutralidade climática até 2050.

"O discurso está completamente descolado da realidade imposta ao Brasil pelo governo Bolsonaro. A mensagem que o presidente do Brasil levou ao mundo está inserida em um contexto de distorção de dados e esforço em convencer os líderes internacionais de que o Brasil pode combater o desmatamento", disse a ONG WWF-Brasil em um comunicado.

Para o diretor-executivo da ONG, Mauricio Voivodic, "desde a posse do presidente, o Brasil sofre um processo contínuo de desmantelamento de políticas públicas direcionadas à preservação do meio ambiente".

Na fala, Bolsonaro adotou um tom mais moderado em relação a outros discursos ambientais e não fez referências aos atuais recordes de desmatamento registrados na Amazônia, mas disse que pretende acabar com a atividade ilegal no setor até 2030.

"Durante sua fala, Jair Bolsonaro diz que os mecanismos de comando e controle ao desmatamento são importantes para reduzir a emissão de carbono do país. Então por que aprovou o menor recurso dos últimos 21 anos para as agências ambientais?", questionou o Greenpeace Brasil.

Para o Greenpeace Brasil, a proposta de Bolsonaro de usar o mercado de carbono como uma das ações para reduzir emissões não é uma boa ideia para combater a crise climática. Segundo a ONG, com a medida, "na prática, não se reduz as origens das emissões possibilitando que setores que mais poluem sigam poluindo".

Brasil como 'pária mundial' e 'novo Bolsonaro'

O governador do Maranhão Flávio Dino (PCdoB) também afirmou que a fala de Bolsonaro foi "incoerente com a realidade" e "genérica". Para ele, deixar o presidente como um dos últimos a falar na sequência, mostrou como o Brasil é visto hoje. Dos 27 líderes que discursaram na reunião virtual hoje, Bolsonaro foi o 21º a falar.

"O presidente brasileiro ficou no fim da fila dos líderes a discursar. E o presidente dos Estados Unidos não ficou para ouvir. Ou seja, a esdrúxula diplomacia do Brasil como "pária mundial" foi bem-sucedida. Lamento muito. Haveremos de recuperar o nosso protagonismo global", escreveu ele no Twitter.

Os ex-ministros do Meio Ambiente Marina Silva e Carlos Minc também comentaram a fala do presidente. Minc, hoje deputado estadual (PSB-RJ), afirmou que a participação do presidente brasileiro mostrou um "novo Bolsonaro".

"Bolsonaro se lançou para vencedor do Oscar. Ele mostrou que um novo Bolsonaro é possível. Ele ficou dois anos desmontando o Ibama, dizendo que não tinha desmatamento e queimada, amordaçou os fiscais do Ibama, não homologou um hectare indígena ou de parque, e agora diz que vai reduzir as emissões em 40% até 2030. Essas metas são interessantes, agora isso contradiz com toda a prática e discurso dele até hoje", afirmou em entrevista à CNN Brasil.

O deputado afirmou que as propostas apresentadas pelo presidente não acompanham a gestão do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. "Disseram que o ex-ministro de Relações Exteriores também era forte e não cairia. Caiu. O Salles pode ser forte hoje, mas amanhã ele não é", completou.

A ex-senadora Marina Silva disse que Bolsonaro fez "falsas promessas". "Bolsonaro mente quando fala que fortaleceu os órgãos de proteção ambiental e ainda faz falsas promessas: dobrar orçamento para fiscalização, enquanto destrói o IBAMA, impede fiscais, favorece criminosos ambientais e o MMA (Ministério do Meio Ambiente) tem o menor orçamento dos últimos 21 anos", escreveu ela no Twitter.

Ainda segundo a ex-ministra, "foi vergonhoso o Presidente passar quase metade de sua fala pedindo ao mundo dinheiro por conquistas ambientais anteriores, que seu governo tenta há dois anos destruir". O pedido de verbas por parte do governo brasileiro para ajudar a reduzir o desmatamento já havia sido criticado por ela em um artigo publicado hoje no jornal britânico The Guardian, ao lado do também ex-ministro Rubens Ricupero.

O ex-ministro da Saúde, Henrique Mandetta (DEM), disse que o discurso do presidente "seria ótimo para um início do mandato. Infelizmente, hoje, está sendo recebido com total ceticismo. Para vexame do Brasil".

A cúpula

A Cúpula de Líderes sobre o clima, que tem a Casa Branca como anfitriã, é uma iniciativa alinhada com a narrativa eleitoral de Biden, que derrotou nas urnas o concorrente à reeleição, o republicano Donald Trump. A gestão do ex-presidente ficou marcada por rupturas em relação a compromissos de preservação ambiental e preocupação com mudanças climáticas. Foi assim com o histórico Acordo de Paris, por exemplo.

O evento, que ocorre entre os dias 22 e 23 de abril, é tratado como oportunidade fundamental para que Biden assuma o protagonismo dentro desse contexto.

O democrata anunciou a meta de reduzir pela metade as emissões de gases do efeito estufa nos Estados Unidos até 2030 — em relação a 2005.

A conferência também é vista como uma etapa importante para que as grandes potências mundiais se comprometam com planos mais ambiciosos na 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, que acontecerá em Novembro, em Glasgow.

Com agências internacionais