Em meio a protestos, CCJ da Câmara avança em projeto de demarcação de terras
BRASÍLIA (Reuters) - A CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados dava mais um passo hoje no avanço do projeto de lei que altera as regras para a demarcação das terras indígenas, em meio a protestos nos últimos dias de deputados de oposição e de representantes indígenas.
Após dois adiamentos, a CCJ começou a votar hoje os destaques dos oposicionistas que tentam alterar o parecer do deputado Arthur Oliveira Maia (DEM-BA) que foi aprovado pela comissão na semana passada.
Três destaques já foram rejeitados, mas os deputados ainda analisavam outros. Após essa etapa de votação, a proposta seguirá para apreciação no plenário da Câmara.
O projeto de lei tem causado muita polêmica. Na semana passada, uma reunião do colegiado chegou a ser cancelada após policiais entrarem em confronto com indígenas que se manifestavam contra a proposta nas imediações da Câmara.
Mudanças
Entre outras mudanças, a proposta permite a agricultura comercial e mineração em reservas protegidas no Brasil. Lideranças indígenas disseram se tratar do maior retrocesso desde que seus direitos à terra foram garantidos na Constituição de 1988.
O projeto é apoiado por um lobby agrícola brasileiro e pelo presidente Jair Bolsonaro, que tem afirmado que as comunidades indígenas estão bloqueando o desenvolvimento da Amazônia em reservas que detêm recursos minerais incalculáveis.
"Isso é o pior momento que o Brasil passa. Com isso, não vai trazer apenas problemas sociais para a terra indígena, mas para o Brasil. Tenho certeza que isso vai trazer um conflito grande para o Brasil, vai trazer uma guerra civil ao Brasil porque tenho certeza que o povo indígena não vai deixar que pessoas tomem o seu território, sua vida a qualquer custo", disse o cacique Almir Suruí, líder do povo Paiter Suruí em Rondônia e coordenador executivo da Parlaíndio.
O PL 490 proíbe o reconhecimento de terras indígenas não ocupadas até outubro de 1988, favorecendo fazendeiros em disputas de terra.
Ele permite que o Estado construa estradas, hidrelétricas e canalize recursos estratégicos nas reservas e o acesso à polícia e aos militares sem consultar as comunidades indígenas.
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