Espécie asiática de percevejo 'comilão' chega ao Brasil e acende alerta
Pesquisadores brasileiros, especializados no estudo de insetos, descobriram que uma espécie exótica de percevejo, cujo nome científico é Erthesina fullo, chegou ao Brasil.
Possivelmente trazido em um navio de contêineres, o inseto, originário do Sudeste Asiático e considerado uma praga para a biodiversidade e a agricultura, já foi avistado em diversos bairros da cidade de Santos, no litoral de São Paulo.
O estudante e pesquisador Yan Lima, da Universidade Católica de Santos, foi o responsável por fazer o primeiro registro no Brasil dessa espécie de percevejo, em novembro do ano passado. Ele registrou a descoberta no site iNaturalist, uma iniciativa da Academia de Ciências da Califórnia (EUA) e da National Geographic Society, onde a comunidade científica e observadores leigos compartilham achados importantes do mundo natural.
A publicação chamou a atenção de outro pesquisador, o doutorando em biologia animal Ricardo Brugnera, da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Ele confirmou que o exemplar pertencia à espécie Erthesina fullo e entrou em contato com Lima para discutir a criação de um grupo de estudos.
A eles se juntaram o entomólogo e doutor em biologia animal Cristiano Feldens Schwertner, da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), e a doutora em parasitologia Jocelia Grazia, professora da UFRGS.
"Essa espécie vem chamando a atenção nos últimos anos, principalmente depois de ser encontrada na Albânia e na Nova Zelândia", explicou Brugnera ao UOL. "Na Nova Zelândia, as autoridades ambientais emitiram alertas à população para que informassem sobre a presença do Erthesina em suas comunidades."
O último estudo internacional publicado sobre essa espécie de percevejo revelou que, no Japão e na China, regiões de origem, ela se revelou um alto risco para a vegetação e também para a agricultura.
Considerado um inseto polífago, ele é capaz de se adaptar para se alimentar de diversos tipos de plantas. Se migrar para regiões agrícolas, pode ser muito difícil combatê-lo, tornando-se uma praga que afeta plantações em pouco tempo.
Um dos autores do estudo, o dr. Feng Zhang alerta que os países fora da faixa atual de presença do Erthesina fullo precisam realizar uma avaliação de risco de biossegurança para a praga. Isso incluiria o desenvolvimento de um programa de vigilância e um plano de resposta de emergência antes que qualquer invasão do percevejo ocorra em novas áreas geográficas.
O Erthesina fullo é um tipo entre vários percevejos comumente conhecidos como "maria fedida". Isso porque, ao primeiro sinal de perigo, ele libera uma substância malcheirosa no ar.
Apesar de inofensivo para os seres humanos, ele é extremamente adaptável e voraz. Na China, se alimenta de mais de 57 tipos de plantas, incluindo árvores frutíferas. Algumas economicamente importantes, como as culturas de kiwi, pera, pêssego, maçã e romã.
Como exemplo, o estudo internacional cita que, em 1991, na província de Shaanxi, na China, a praga causou perdas de rendimento de 10% a 30% no cultivo e perdas econômicas de US$ 181 (R$ 975) a US$ 362 (R$ 1.950) por hectare em pomares de kiwis.
Habitats quentes são favoráveis
A descoberta dessa espécie no Brasil ainda é um assunto novo e muito cedo para prever se poderá se tornar um risco para a biodiversidade e a agricultura brasileiras. Mas ela tem potencial para se alastrar e se tornar uma praga.
Em habitats quentes, é capaz de se reproduzir com facilidade. Em um único ano, essa espécie pode produzir de duas a três gerações inteiramente novas.
"Tudo vai depender do esforço feito agora, enquanto ela ainda não está largamente disseminada", afirma Brugnera.
Em Santos, os primeiros avistamentos aconteceram em áreas próximas ao porto. "Mas descobrimos, por comentários em um post público que fizemos no Facebook, que o Erthesina já foi visto em bairros mais distantes", disse Yan Lima.
Os pesquisadores contataram a Secretaria de Meio Ambiente de Santos (Semam) e estão monitorando os avistamentos desse percevejo na cidade. Sabe-se que eles estão se alimentando dos ingás, uma espécie de árvore frutífera nativa do Brasil.
Por meio de nota, a Semam informou que já comunicou o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), pois, como a origem provavelmente foi a área portuária, é de responsabilidade federal. "Em relação à arborização urbana, a Semam está analisando os ingás, visando avaliar a situação e os eventuais procedimentos."
O UOL entrou em contato com o Ibama, em Brasília, mas até a última atualização desta reportagem, o órgão não havia respondido.
Para o professor Cristiano Schwertner, a realização de um trabalho sério de levantamento e monitoramento da fauna e flora de um local ou região, de definir se as espécies são comuns ou raras, nativas ou introduzidas, é imprescindível.
"Essas ações são importantes para o estabelecimento de ações de preservação, de manejo e de manutenção da diversidade e os aspectos ambientais, econômicos e sociais relacionados", concluiu.
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