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Com 4% da chuva esperada em 10 dias, Cantareira cai para 1/4 da capacidade

8.ou.21 - Represa do rio Jaguari, em Vargem (SP), que compõe o sistema Cantareira  - LUIS MOURA/ESTADÃO CONTEÚDO
8.ou.21 - Represa do rio Jaguari, em Vargem (SP), que compõe o sistema Cantareira Imagem: LUIS MOURA/ESTADÃO CONTEÚDO

Letícia Mutchnik

Do UOL, em São Paulo

11/12/2021 04h00

Com menos de 5% das chuvas esperadas para o dez primeiros dias do mês de dezembro, o volume Sistema Cantareira continua baixando e chegou na sexta-feira (10) a 24,9% — 1/4 de sua capacidade. Desde o dia 1º, quando estava em 26%, o nível caiu 1,1%.

A média histórica de chuvas em dezembro é de 207,6 mm, mas só houve a precipitação de 9,6 mm até sexta. Os dados são da Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo). Em nota, a companhia descarta o risco de desabastecimento.

Caso a situação das chuvas se mantenha como está —ou seja, 50% menor do que a média—, o Cantareira chegará a abril, época de seca, ainda abaixo dos 30%. A projeção foi feita no dia 6 de dezembro pelo Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais),

No entanto, se for atingida a média histórica de dezembro e janeiro, a perspectiva para o outono muda. Neste caso, a expectativa é que o nível do reservatório chegue a 65% —bem semelhante ao de 2013, que apresentava 63% na mesma data.

A Sabesp informa, no entanto, que sua projeção "aponta níveis satisfatórios dos reservatórios com as perspectivas de chuvas do final da primavera e início do verão, quando a situação será reavaliada"

Atualmente, o Sistema Cantareira está em estado de restrição, o último antes de atingir o nível considerado crítico — o mais grave de todos.

O estado é considerado de atenção quando o nível fica entre 40% e 60%, de alerta quando está entre 30% e 40% e de restrição entre 20% e 30%. Segundo as regras da ANA (Agência Nacional de Águas), só é considerada a fase de restrição se o mês acaba abaixo de 30% da capacidade total. Abaixo de 20%, o nível é crítico.

Abastecimento

O Cantareira é o maior reservatório da rede paulista e abastece cerca de 7,5 milhões de pessoas todos os dias — 46% da população da Grande São Paulo —, segundo a Ana (Agência Nacional de Águas), o órgão que regula o setor. O sistema leva água para as zonas Norte e Central e parte das zonas Leste e Oeste da capital, além das cidades de Franco da Rocha, Francisco Morato, Caieiras, Osasco, Carapicuíba e São Caetano do Sul.

O reservatório engloba, também, parte dos municípios de Guarulhos, Barueri, Taboão da Serra e Santo André. Fora o Cantareira, o sistema de abastecimento de água no estado conta com os sistemas Alto Tietê, Guarapiranga, Cotia, Rio Grande, Rio Claro e São Lourenço.

De acordo com a Sabesp, o sistema opera de forma integrada, o que "permite transferências rotineiras de água entre regiões, conforme a necessidade operacional". A companhia aponta ainda que conta com a "ampliação da infraestrutura e gestão da pressão noturna para maior redução de perdas na rede". Em nota, a companhia destaca ainda campanhas de consumo consciente.

Escassez de chuvas estava prevista

O cenário atual já era esperado, mas preocupa os especialistas. "As previsões já indicavam esse cenário, ou seja, sem a perspectiva de chuva dentro da média ou acima da média. O prognóstico era de um início de primavera mais chuvoso, mas com a chegada do verão uma redução de chuvas, sem haver uma recarga dos mananciais", afirma Pedro Luiz Côrtes, professor de pós-graduação em ciência ambiental do IEE (Instituto de Energia e Ambiente), da USP (Universidade de São Paulo).

A escassez de chuva aumenta o risco de desabastecimento no segundo semestre do ano que vem. "Ao longo da estiagem, até começar a recarga dos reservatórios no final do segundo semestre [de 2021], nós gastamos em geral pelo menos 20%. Então se a gente chegar com algo em torno de 30% e a gente também gastar 20%, a gente chega no final do ano com 10%, então dependendo das condições climáticas do segundo semestre pode haver um risco muito grande de desabastecimento", diz o professor.

Redução de pressão

Por mais que não reconhecido pela Sabesp, para Côrtes a população já lida com o desabastecimento. "A Sabesp admitiu publicamente que ela vem reduzindo a pressão da água à noite em diversos bairros, mas ela não associa essa redução a uma crise hídrica, mas na prática fica implícita", garante.

A redução da pressão tem ocorrido em bairros mais distantes do centro de São Paulo, justamente pelo longo caminho a demora para que a pressão volte é considerável, marcando casos de falta de água. Ainda para Pedro Luiz Côrtes, a tendência é de que isso [diminuição da pressão] seja ampliado no próximo ano pela dificuldade de reabastecimento do Cantareira.

Nós temos hoje um déficit de 14% de volume [de água] armazenado [no Cantareira] na mesma época em 2013. Essa crise hoje se coloca como pior do que aquela em dezembro de 2013, um mês antes da crise de 2014".
Pedro Luiz Côrtes, professor de pós-graduação em ciência ambiental do IEE (Instituto de Energia e Ambiente), da USP (Universidade de São Paulo).

Veja o nível dos reservatórios que abastecem a região metropolitana de São Paulo, segundo a Sabesp

  • Alto Tietê: 37,1 (+0,2% em relação à semana passada)
  • Guarapiranga: 53,1 (+1,5%)
  • Cotia: 36,9 (-1,5%)
  • Rio Grande: 82,6 (+2,2%)
  • Rio Claro: 49,1 (+2,1%)
  • São Lourenço: 72,1 (+2,6%)