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Militar recebeu R$ 930 mil para vazar informações a garimpeiros, diz jornal

Desmatamento na Amazônia. Foto publicada no livro "Banzeiro òkòtó", de Eliane Brum - Lilo Clareto/Divulgação
Desmatamento na Amazônia. Foto publicada no livro "Banzeiro òkòtó", de Eliane Brum Imagem: Lilo Clareto/Divulgação

Do UOL, em São Paulo

29/06/2023 10h53Atualizada em 29/06/2023 11h12

A Polícia Federal investiga pagamentos de R$ 930 mil ao tenente-coronel do Exército Abimael Alves Pinto. Ele é suspeito de vazar informações sobre operações policiais a um grupo de garimpeiros de Japurá, no Amazonas, próximo da fronteira com a Colômbia.

O que aconteceu:

Abimael Alves Pinto teria recebido R$ 930 mil de 2020 a 2022, segundo um documento da PF obtido pelo jornal O Globo. O militar era lotado no subcomando do Batalhão de Selva e cuidava do controle operacional de ações na fronteira.

De acordo com a investigação, três contas eram usadas para o recebimento dos valores: uma estava no nome do militar, outra no nome de sua mulher e a terceira era de uma empresa da família.

A PF descobriu que os pagamentos foram feitos por uma empresa de importação e exportação de minérios sediada em Porto Velho. O dono da empresa foi preso preventivamente pela PF em operação na última terça (27).

Na operação da PF, o militar Abimael Alves Pinto foi alvo de um mandado de busca e apreensão e deve ser ouvido pela PF nos próximos dias. Na sua residência, em Ponta Grossa (PR), os agentes apreenderam relógios e joias.

A defesa do tenente-coronel negou que ele tenha praticado qualquer ilícito. Em nota enviada ao Globo, o advogado Fernando Madureira diz que seu cliente "jamais recebeu valores de criminosos para dar informações privilegiadas que pudessem interferir nas operações". Segundo ele, o militar "sempre combateu o garimpo ilegal e teve seu nome citado por criminosos em represália ao trabalho desenvolvido nos Estados de Rondônia e no Amazonas".

PF rastreou mensagens envolvendo Abimael

Diálogos encontrados pela PF apontam para o envolvimento de Abimael no esquema com garimpeiros. Em mensagens de 2020, um homem identificado como Márcio oferece os "serviços" de Abimael:

Márcio: Vamos livrar ele [os donos do garimpo] todo santo dia de ser pego. No mínimo uns 20 mil? Isso para ser muito baixo. Mas, vc quem faz o trato aí. Esses dois anos serão de muitas operações, muitas mesmo, se ele não tiver informações privilegiadas, ele perde todo o negócio dele.

Pedrinho Marcondes [garimpeiro]: Pode deixar certo com ele então todo dia 20 (...)Todo dia 20 vai estar na conta, tá bom?

Segundo a PF, depois do acordo, Abimael Alves Pinto passou a dar informações privilegiadas de operações, além de interferir para "atrasar o deslocamento da equipe de fiscalização, alterar a rota dos locais que seriam fiscalizados e até mesmo cancelar fiscalizações em locais específicos, a fim de, em tese, favorecer a atividade criminosa".

Os principais beneficiados do suposto esquema seriam Pedrinho Marcondes e Aldaildo Fongher, apontados pela PF como donos de dragas de garimpo e compradores do minério extraído ilegalmente da região do Japurá.

Marcondes foi detido em outubro de 2020 e assassinado três dias depois. A suspeita é de queima de arquivo.

Já Fongher, cujo apelido é "Gringo", foi alvo de um mandado de prisão preventiva na operação desta semana. Apesar do novo mandado, ele já está preso em Manaus desde maio deste ano, quando foi pego em flagrante com pequenas barras de ouro escondidas em um forno elétrico.