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Emissões de CO2 voltam a registrar níveis tão altos quanto antes da covid, diz estudo

As emissões totais caíram 5,4% em 2020, mas a estimativa é que voltem a subir 4,9% em 2021 - iStock
As emissões totais caíram 5,4% em 2020, mas a estimativa é que voltem a subir 4,9% em 2021 Imagem: iStock

Da RFI*

04/11/2021 10h22Atualizada em 04/11/2021 10h22

As emissões globais de CO2, principal gás causador do efeito estufa, voltaram a se aproximar de níveis recordes, após o recuo registrado durante o auge da epidemia de covid-19. É o que aponta um estudo divulgado nesta quinta-feira (4) pelo consórcio internacional de cientistas Global Carbon Project, durante a Conferência do Clima de Glasgow (COP26).

As emissões totais caíram 5,4% em 2020, mas a estimativa é que voltem a subir 4,9% em 2021, menos de 1% do recorde de 2019, de acordo com o estudo. O relatório também constata que a retomada econômica voltou a se basear nos combustíveis fósseis. As emissões provocadas pelo uso do petróleo devem aumentar 4,4% em 2021.

As emissões de CO2 geradas pela combustão de energias fósseis e pela indústria devem chegar a 36,4 bilhões de toneladas em 2021, contra 34,8 bilhões em 2020. Acrescentando as emissões desencadeadas pelo desmatamento, o total estimado é de cerca de 39 bilhões de toneladas - um aumento de cerca de 40 % desde 1990.

"Esse relatório é um balde de água fria", comentou a coautora do relatório, Corinne Le Quéré, professora de mudanças climáticas na Universidade de East Anglia. "Ele mostra o que acontece no mundo real, enquanto aqui em Glasgow falamos sobre como lidar com as mudanças climáticas", declara. O estudo deve ser publicado em breve na revista Earth System Science Data.

"O mundo não caminha para uma redução das emissões. Quanto mais esperarmos, mais rápida e drástica deverá ser sua diminuição para atingir a chamada neutralidade carbono" disse ao jornal francês Le Monde Philippe Ciais, diretor de pesquisa no Laboratório de Ciências do Clima e do Meio Ambiente e um dos autores do estudo. Além disso, lembram os pesquisadores, um aumento das emissões em 2022 não pode ser excluído com a retomada do transporte rodoviário e aéreo a níveis anteriores à epidemia.

Transição energética não supre demanda

A consequência desse reaquecimento da economia e do planeta é que o objetivo ideal de limitar o aumento da temperatura global a 1,5ºC se torna cada vez mais difícil de ser atingido. A Terra já registrou uma elevação de entre 1,1ºC e 1,2ºC em relação à era pré-industrial. No ritmo atual de emissões, o mundo teria apenas oito anos para ter 50% de chances de limitar o aumento da temperatura em 1,5°C.

Só a China, país onde teve início a pandemia, é responsável por 31% dos despejos de CO2 na atmosfera. Como sua economia se recuperou antes do restante do mundo, esse percentual pode crescer ainda mais nos próximos anos.

A queda da atividade mundial devido à pandemia "nunca foi uma mudança estrutural. Deixar o carro temporariamente na garagem ou trocá-lo por um veículo elétrico não é a mesma coisa", lembra Corinne Le Queré. A recuperação "foi mais forte do que o esperado", destacou Glen Peters, do Centro Internacional de Pesquisas sobre o Clima, coautor do estudo. Outra dificuldade é que a transição energética também não supre as necessidades de consumo. A demanda ultrapassa os investimentos milionários para transformar o modelo energético de combustíveis fósseis em renováveis, alertam os especialistas.

Em compensação, as emissões em 2021 cairão 3,7% nos Estados Unidos e 4,2% na União Europeia - o que é insuficiente para reverter o fenômeno global, aponta o estudo. Os Estados Unidos respondem por 14% das emissões planetárias e a UE, por 7%.

Isso prova que é possível, apesar das dificuldades, buscar um compromisso entre crescimento econômico e preservação ambiental. Na década de 2010, as economias de 23 países cresceram, mas suas emissões diminuíram. A maioria deles eram desenvolvidos, o que significa que as iniciativas tiveram um impacto na queda do volume de gases de efeito estufa.

Para se alcançar um equilíbrio entre emissões e retenções de gases em 2050 - a chamada neutralidade de carbono - seria necessário deixar de emitir 1,4 bilhão de toneladas por ano. "Em 2020, durante a pandemia, tivemos uma queda de 1,6 bilhão de toneladas, o que mostra a escala da ação necessária", comentou Corinne Le Quéré.

*Da RFI e AFP