Luiz Inácio Lula da Silva (PT) será presidente do Brasil pela terceira vez. O petista foi eleito neste domingo, em uma disputa acirrada contra o atual presidente, Jair Bolsonaro (PL), e o tamanho da diferença entre ambos no total de votos - pouco mais de 1 ponto percentual, a distância mais acirrada desde 1989 - dá o indício de qual deverá ser a principal missão do vencedor: governar um país dividido e trabalhar com um Congresso de maioria opositora. Lula obteve a maior votação da história brasileira - às 20h30, somava 60.111.027 votos. O recorde anterior era dele mesmo, em 2006, com 58.295.042 votos. Em nenhum momento, porém, ele abriu uma distância de mais de 2 pontos. Bolsonaro liderou a apuração até as 18h44, assim como ocorreu no primeiro turno, contando principalmente com os votos das regiões Sul e Centro-Oeste. A virada na contagem foi comemorada com gritos, choro e aplausos de aliados políticos que estavam no comitê do PT (Partido dos Trabalhadores). Em seu primeiro discurso como eleito (leia o pronunciamento completo), Lula admitiu as dificuldades de assumir um país dividido. "A partir de 1º de janeiro de 2023, vou governar para 215 milhões de brasileiros, e não apenas para aqueles que votaram em mim." "É uma situação muito difícil, mas tenho fé em Deus que, com a ajuda do povo, vamos achar uma saída para que esse pais volte a viver harmonicamente e a gente possa restabelecer a paz entre as famílias. (...) A ninguém interessa viver num país dividido, em permanente estado de guerra. Esse país precisa de paz e união. Esse povo está cansado de enxergar no outro um inimigo." Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito Ainda no discurso, Lula falou que pretende "construir uma experiência harmoniosa entre os três poderes". A frase funciona como aceno ao Judiciário, atacado inúmeras vezes por Bolsonaro, e ao Congresso, que teve maioria bolsonarista eleita no primeiro turno. Segundo a colunista do UOL Carolina Brígido, ministros do STF preveem um período de calmaria nas relações com o Executivo após a eleição de Lula. Logo após a divulgação do resultado oficial deste domingo, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), aliado de primeira ordem de Bolsonaro e deputado engajado na candidatura do atual presidente, também fez seu aceno: "É hora de desarmar os espíritos, estender a mão aos adversários, debater, construir pontos, propostas e práticas que tragam mais desenvolvimento, empregos, saúde, educação e marcos regulatórios eficientes. Tudo que for feito daqui para frente tem que ter um único princípio: pacificar o País e dar melhor qualidade de vida ao povo brasileiro", afirmou Lira. "Ao presidente eleito, a Câmara dos Deputados lhe dá os parabéns e reafirma o compromisso com o Brasil, sempre com muito debate, diálogo e transparência." Durante transmissão no UOL, o colunista Josias de Souza ressaltou a necessidade de Lula fazer um governo amplo para diminuir a divisão no país. "Para que ele tenha êxito, ele terá que já de saída fazer uma pregação pela pacificação nacional, pela união do país, e ele terá que demonstrar já na composição do seu ministério essa disposição de fazer um governo mais amplo, um governo que faça um movimento rumo ao centro e até à direita, eu diria", opinou. Lula volta ao Planalto três anos depois de deixar a prisão em Curitiba, onde foi condenado pela Justiça após investigações da Operação Lava Jato. A sentença, referendada em segunda instância, tirou do petista seus direitos políticos e a chance de disputar a eleição de 2018 —à época, ele liderava as pesquisas de intenção de voto. Em 2021, as decisões tomadas pelo ex-juiz Sergio Moro (União Brasil) foram anuladas pelo STF (Supremo Tribunal Federal) —o que abriu a possibilidade de Lula concorrer novamente. Bolsonaro: primeiro não-reeleitoJair Bolsonaro deixa o Palácio do Planalto como primeiro presidente a não conseguir a reeleição, desde que ela foi permitida no Brasil. Com o fim do mandato iniciado em janeiro de 2019, processos em curso que envolvem o presidente podem descer para as instâncias ordinárias, e o atual governante ser julgado pela Justiça comum —o que aumenta as possibilidades de responsabilização penal. No entanto, como mostra reportagem de Hanrrikson de Andrade, o provável destino da maioria dos processos contra o atual presidente deve ser o arquivamento, a exemplo do que ocorreu com o inquérito sobre possível prevaricação ante denúncias de corrupção na compra de vacinas durante a pandemia da covid-19. Até as 22h20 deste domingo, Bolsonaro ainda não havia se manifestado sobre o resultado da eleição. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, ele passou a tarde no Palácio do Alvorada, não quis conversar com ministros e se reuniu à noite com o vice em sua chapa, general Braga Netto. Segundo o colunista do UOL Tales Faria, Bolsonaro pensa na possibilidade de não passar a faixa para Lula no dia da posse do petista, em 1 de janeiro de 2023. PUBLICIDADE | | |