Contra ampliação da Rota, coronel deixa campanha de Doria em SP
Luís Adorno
Do UOL, em São Paulo
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Aloísio Maurício/Estadão Conteúdo
João Dória participa da convenção do PSDB em São Paulo, em julho
O coronel reformado José Vicente da Silva Filho, que já comandou a PM paulista e foi secretário nacional de Segurança Pública do governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), se desligou na quarta-feira (1º) das atividades da campanha do candidato do PSDB ao governo de São Paulo, João Doria. Ele integrava o grupo do tucano que discute propostas para segurança pública.
A motivação para a saída do coronel foi uma entrevista de Doria à rádio Jovem Pan, na terça (31), em que o tucano afirma que, caso eleito, pretende aumentar de 5 para 22 o número de batalhões de policiais de elite no estado --com destaque para o interior. Ainda segundo o ex-prefeito da capital, caso o armamento nacional não seja suficiente para munir os PMs, ele estuda a possibilidade de importar.
"Temos cinco batalhões especiais da PM no estado. Vamos para 22, já a partir do próximo ano. São policiais militares da Rota, são os mais preparados, os mais municiados, que atuarão no interior. E vão atuar com armas de primeiro mundo, vamos proteger o que é melhor, que é a vida das pessoas", afirmou Doria durante a entrevista.
Desde junho, o candidato faz reuniões periódicas com cerca de 20 nomes de relevância no setor de segurança pública para discutir suas propostas na área. Segundo alguns integrantes do grupo, a declaração de Doria à rádio vai na contramão do que já havia sido discutido internamente no grupo de trabalho e motivou o descontentamento do coronel.
Considerando "absurda" a ideia de expandir a Rota, Silva Filho disse que a proposta não teve respaldo do grupo de especialistas e contraria seus princípios. A reportagem apurou que o coronel anunciou que sairia da campanha em grupo de WhatsApp.
Não estamos no Rio ou na Bahia. O Doria acatou essa ideia insensata e amadora de alguém que não sabemos quem é e está indo na contramão do pensamento do grupo de profissionais."
José Vicente da Silva Filho, coronel reformado da PM-SP
Segundo mensagem de Silva Filho, se mantiver a proposta, Doria estará vulnerável por não haver sustentação nas estratégias de segurança para a ampliação no número de batalhões.
Procurado, o coronel confirmou ao UOL a saída da campanha, mas disse que não gostaria de tratar do assunto. Silva Filho reforçou que continuará colaborando com o desenvolvimento do programa de campanha de segurança do candidato tucano à Presidência, Geraldo Alckmin.
Ele também afirma que, apesar de o grupo ser "da maior qualidade", espera que sua saída sirva para refinar estratégias do programa, que, "até então, ia muito bem". Em uma reunião do grupo na noite desta quarta, Doria disse que soube da saída do coronel pela imprensa e que respeitava a decisão.
Ninguém discute qualidade e eficiência da Rota, diz Doria
Em nota encaminhada à reportagem, Doria afirma que ninguém discute a qualidade e a eficiência dos serviços prestados pelos policiais da Rota e enfatiza que, caso eleito, vai ampliar os programas de segurança no interior.
A proposta é de estender os cinco batalhões de ações especiais da PM "que foram criados na gestão Alckmin e tem atuado com efetividade no combate ao crime". Para o candidato, levar esses batalhões para regiões que ainda não contam com esse tipo de policiamento ostensivo significa expandir o "padrão Rota de policiamento".
"João Doria respeita a opinião do coronel José Vicente por entender, sobretudo, que José Vicente é um dos maiores conhecedores da área de segurança, mas não o único. João Doria decidiu não ignorar a proposta feita por outros membros do grupo de trabalho", afirmou a campanha do tucano, em nota. "Houve um aumento no tipo de ocorrências de crimes graves no interior do estado, como assaltos a caixas eletrônicos e transporte de valores."
Pré-candidato a deputado estadual pelo PSD, o ex-comandante da PM paulista coronel Álvaro Batista Camilo também integra o grupo de discussões da campanha de João Doria. Camilo defende a proposta de Doria.
"A proposta surgiu no grupo de trabalho. A ideia é de que cada comando tenha um BAEP (Batalhão de Ações Especiais), de forma que a reação da polícia seja mais rápida em crimes graves, como os de explosão de caixas eletrônicos, por exemplo, que estão ocorrendo no interior", disse.
Segundo Camilo, a tropa comum não consegue fazer frente a esse tipo de crime. Para isso, seria necessário reestruturar a polícia, direcionando as forças táticas para os comandos de área.
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