Com provocação de Lula, tucanos são alvo em anúncio da candidatura de Dilma
Carlos Eduardo Cherem
Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte
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Alexandre Rezende/Folhapress
5.ago.2018 - Candidatos ao Senado e ao governo de Minas Gerais, Dilma Rousseff e Fernando Pimentel participam da convenção do PT-MG em Belo Horizonte
A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) foi oficializada neste domingo (5) como candidata do Senado por Minas Gerais. O anúncio ocorreu na convenção estadual do partido, que também confirmou a candidatura de Fernando Pimentel à reeleição para o governo do estado.
A candidatura de Dilma é anunciada três dias após o principal adversário dela na corrida presidencial de 2014, Aécio Neves (PSDB-MG), divulgar que se lançará na disputa para a Câmara dos Deputados.
Sem citar nominalmente Aécio e Antonio Anastasia, candidato do PSDB ao governo de Minas, Dilma afirmou que a batalha no estado será "decisiva"
"Não conseguiram nos destruir. O objetivo era este, mas não conseguiram", disse a agora candidata, que sofreu o impeachment em 2016.
"Essa é a nossa hora. Nós temos aqui em Minas os dois principais protagonistas do golpe. Um que perdeu a eleição e o outro que destruiu o orçamento de Minas", discursou a ex-presidente.
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O lançamento da candidatura de Dilma também acontece às vésperas de completar 24 meses da cassação de seu segundo mandato, em 31 de agosto de 2016, em processo que a afastou da Presidência, mas manteve seu direito de exercer funções públicas, inclusive cargos eletivos.
Alvo de ações na Justiça e desgastado pela grave crise econômica do Estado, Fernando Pimentel comparou sua situação política à do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o evento deste domingo em Belo Horizonte. O petista procura colar sua imagem à do líder petista e de Dilma Rousseff.
"Tem uma parte do MP (Ministério Público) e da Polícia Federal que é contra a gente. Todo mundo sabe da armação contra o Lula, mas contra nós aqui (em Minas Gerais) também", disse Pimentel. "Muito sofrimento para a família da gente, para nossos amigos, mas a gente vai superando", afirmou o governador.
Carta de Lula: "escondidinho de tucano"
Durante a convenção deste domingo, como tem ocorrido em eventos do PT, foi lida uma carta escrita pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que está preso em Curitiba desde o dia 7 de abril para cumprir pena por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do tríplex do Guarujá (SP).
No texto, Lula disse que, assim como ele, Pimentel e Dilma também são alvos de "traição e perseguição política" e atacou o PSDB.
"O PSDB, com apoio da grande mídia e de parte do Ministério Público e do Poder Judiciário, não se contentou em golpear a primeira mulher presidenta do Brasil, e colocar um fantoche em seu lugar. Tentaram também impedir a candidatura da Dilma ao Senado, porque sabem que serão derrotados", escreveu. "Não satisfeitos em perseguir a Dilma, nossos adversários tentaram impedir também a candidatura do Pimentel à reeleição. Conspiraram e continuam a conspirar, noite e dia".
Na carta, o ex-presidente ainda fala especificamente de Aécio Neves e sugere que o senador fugiu da possibilidade de novamente disputar um cargo com Dilma, usando a expressão "escondidinho de tucano".
"Não é por outra razão que o candidato deles, aquele que não aceitou a derrota em 2014 e acendeu o pavio desse golpe que trouxe de volta a miséria, a fome e a mortalidade infantil, achou mais prudente tirar o time de campo para não enfrentar nossa presidenta outra vez nas urnas. Aécio Neves, que chegou a pedir recontagem de votos após perder em 2014, está lançando um prato novo, meio diferente, que não tem muito a ver com a cozinha mineira nem é muito ecológico: o escondidinho de tucano. O povo mineiro não vai engolir essa receita indigesta nem para presidente, nem para governador, nem para o senado, nem para deputado federal", diz a carta de Lula.
Disputa pelo Senado
A ex-presidente vai compor a chapa majoritária do PT ao lado de Pimentel e da deputada federal Jô Moraes (PCdoB-MG), parlamentar desde 2007 que se aliou ao PT para, assim como Dilma, concorrer ao Senado. A dupla inédita de mulheres candidatas terá de enfrentar outros oito candidatos ao cargo.
No campo da centro-direita, cumprindo agenda com Anastasia mas sem ainda terem o apoio formal do tucano, são candidatos ao Senado o ex-deputado Dinis Pinheiro (Solidariedade) e o jornalista da rede Record e rádio Itatiaia, de Belo Horizonte, Carlos Viana (PHS).
O PSOL mineiro lançou o nome da professora Duda Salabert. Ela será a primeira candidata transexual a disputar o cargo na história do Estado.
Pelo MDB, cuja direção ainda tem reunião neste domingo (5) para discutir o assunto, deve ser aprovado o nome do ex-prefeito de Juiz de Fora Bruno Siqueira. Já pelo PSTU, a candidata será a professora Vanessa Portugal.
O PROS vai lançar o deputado em seu sexto mandato Jaime Martins. Pelo PRB, é candidato o apresentador da rede Record Mauro Tramonte. Por fim, pelo Novo, o representante será o empresário Rodrigo Paiva.
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