Neutro na disputa nacional, França diz que Doria trairá Bolsonaro
Janaina Garcia
Do UOL, em Osasco (SP)
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Janaina Garcia/UOL
9.out.2018 - Márcio França participa de ato de campanha em São Paulo
O governador de São Paulo e candidato à reeleição, Marcio França (PSB), anunciou nesta terça-feira (9) que se manterá neutro no plano nacional em relação às candidaturas de Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). A posição é a mesma que já havia sido adotada pela executiva nacional do PSB no primeiro turno da disputa, ainda que, hoje, ela tenha deliberado pelo apoio a Haddad.
Durante visita a um hospital público de Osasco, na Grande São Paulo, na tarde desta terça-feira (9), França afirmou que a opção pela neutralidade equivale a uma posição "de diálogo". Na avaliação do candidato, o estado procurou fugir da polarização PT x PSDB na eleição deste ano.
A posição de candidato à reeleição destoa da adotada por seu adversário no segundo turno, o ex-prefeito de São Paulo João Doria (PSDB). Tão logo a apuração no domingo (7) apontou a definição do segundo turno em São Paulo, Doria anunciou apoio a Bolsonaro. Hoje, mais cedo, um dos coordenadores de campanha do capitão reformado do Exército, o senador eleito major Olimpio, descartou apoio do presidenciável à campanha do tucano.
França comparou o apoio declarado por Doria a Bolsonaro à atitude do ex-prefeito em relação a seu padrinho político, o ex-governador e agora candidato derrotado à Presidência Geraldo Alckmin (PSDB), de quem França havia sido vice desde 2015.
"Vamos ser francos: ele quer fazer com Bolsonaro o que fez com o Alckmin: trair. Não é sincero", disse. "Eu vi pessoalmente Doria falar mal do Bolsonaro, várias vezes."
Indagado sobre a que tipo de traição se referia, França reforçou: "Ele vai trair [Bolsonaro], como fez com o Alckmin. As falas todas dele, com o Alckmin, eram simulando um apoio, mas, na verdade, traduzindo, era como se fosse não apoio", declarou. Ao se referir às supostas intenções de Doria de ter sido o candidato à Presidência pelo partido este ano, o acabou frustrado, o governador foi contundente. "Se ele fez isso com a pessoa que deu a mão para ele (...), imagine o que ele faz com as outras pessoas?", questionou.
Neutralidade na campanha presidencial
Sobre a conjuntura nacional, ao ser indagado se subiria no palanque de Haddad ou no de Bolsonaro, França resumiu: "Eu vou tentar, de todo jeito, fazer a neutralidade, que é o que me resta. Tem eleitores que percebo que estão de um lado, outros, que estão do outro, mas com nenhum deles [Haddad ou Bolsonaro] eu tenho grandes vínculos", comentou. "Se a gente cuidar de São Paulo, a gente ajuda a cuidar do país", enfatizou.
Por outro lado, a vice de França, a coronel da Polícia Militar Eliane Nikoluk, já anunciou apoio a Bolsonaro. "Tradicionalmente, no meu histórico, tive sempre o PT como adversário --ganhei deles na minha cidade [São Vicente], e eles nunca fizeram parte do meu governo. Mas meu partido, nacionalmente, tem pessoas muito vinculadas a eles ", comentou. "Espero de verdade que São Paulo volte a orientar o Brasil para uma pacificação. Estamos brincando com um pote de gasolina e todo mundo cheio de tochas em volta. Este não é o caminho bom para o país", analisou.
Indagado sobre Alberto Goldman e Saulo de Castro, tucanos expulsos pelo diretório municipal do PSDB em virtude de apoios divergentes no primeiro turno, e hoje classificados por Doria como "traidores", França ironizou: "Não adianta ele ficar brigando com tucano, tanto que os que estão saindo são os tucanos originais --a falsificação é ele, que, no fundo, faz um discurso completamente fora dos padrões dos tucanos originais", definiu.
Procurada, a assessoria de campanha de Doria informou que ele participava da reunião da Executiva Nacional em Brasília. Até a publicação desta matéria, nenhum porta-voz da campanha do tucano havia se manifestado sobre as declarações de França.